Trecho planejado para o dia 22/12/2012 - 846 km. |
Neste dia pretendíamos percorrer o trecho entre Rivera e Las Flores, percorrendo 846km, cruzando a fronteira entre o Uruguai e a Argentina em Paysandu.
Amanhecemos em Rivera, no Nuovo Hotel. Tomamos nosso banho e descemos com todas as bagagens para o café da manhã. Arrumamos as bagagens e como havíamos antecipado no dia anterior o trecho entre Rosário e Rivera poderíamos sair um pouco mais tarde o que de fato aconteceu. Havíamos nos programado para sairmos às 9 da manhã e foi o que aconteceu.
Quando eu vi as Emas, que na Patagônia são chamados de Ñandus, pastando juntamente com as ovelhas, parei para que pudéssemos fotografar e dar um relaxada no meio da estrada. Tirar algumas fotos, etc. Não contávamos que até mesmo teve gente que agarrou uma moita. Hehehehe.
Ñandus pastando juntamente com as ovelhas. |
Descemos pela RN5 até Tacuarembó e ali viramos para a direita entrando na RN26. Esta rodovia não estava em um estado de conservação muito bom não, sendo que em um trecho de uns 2 km de extensão tivemos que experimentar o rípio, em uma espécie de Van Premier. Embora já tivesse ouvido falar que havia rípio ali naquele trecho, pensei que já poderia ter sido asfaltado, pois estavam trabalhando, mas que nada.
Fiquei um tanto mais preocupado com o trecho de 130 km que teríamos que superar pois ali, que estava bem arrumado, havia muito material solto e a moto dançava bem quando entrava nesses bolsões de material mais solto. Mas, o principal aprendizado já estava começando.
Trecho de rípio na RN 26. |
A Ruta 26 é muito bonita, embora a sua qualidade seja sofrível. |
Nos trechos de asfalto também haviam trechos que estavam em estado de conservação muito ruim. |
Quando chegamos ao entrocamento com a RN 3, já próximo a Paysandu, já encontramos uma rodovia em estado de conservação muito melhor. Uma rodovia como se está acostumado a andar no Uruguai.
Pedágio existente na RN 3. Motos não pagam, conforme indicação na foto. |
Depois que saímos da RN26 e entramos na RN3, que nos
levaria até Paysandu, já com um pavimento muito mais adequado, paramos em uma
Estacion de Servicios, como eles chamam os postos de gasolina. Enchemos os
tanques das motos e, como não aceitavam o cartão de credito da Edite eu paguei
a gasolina de nos dois com o meu cartão.
Depois de ir ao bwc seguimos em frente com a próxima
parada programada para a fronteira na entrada da Argentina.
Seguíamos em nossa velocidade cruzeiro, entre 100 e 110
km/h, quando avistei à minha esquerda uma instalação que me pareceu ser da
polícia, reduzi um pouco a velocidade, como não havia ninguém reacelerei até os
100 ou 110 novamente. Eu não havia visto, mas logo à frente havia um posto da
Policia Caminera, que é a similar à nossa PRF.
Vi que um guarda descia correndo os degraus da oficina
com o braço esquerdo erguido e agitando o mesmo no ar e olhava para mim. Aí vi
que eu não havia reduzido a velocidade para passar em frente ao posto e segurei
fortemente no freio visando não passar batido na cara do guarda em flagrante
excesso de velocidade, já que a velocidade em frente este postos de controle
policiais rodoviários são de 40 km/h.
Estava achando que conseguiria parar logo depois do
acesso ao posto quando escutei um pneu cantando, achei estranho, pois a minha
moto tem ABS e não me lembrei que poderia ser o Lauro que vinha atrás, até
mesmo porque ele sempre estava a uma distância segura. Infelizmente era ele que
não havia visto quando eu comecei a freiar e quando viu já estava em cima.
A moto dele derrapou de traseira, primeiramente Para a
direita e depois para a esquerda sendo que a moto ficou atravessada na estrada
e a dianteira da moto bateu na traseira da minha. Eu senti um solavanco e olhei
para a esquerda, quando vi a Edite no chão, para trás da moto, o Lauro caindo
no chão de costas, primeiro com a cabeça e depois com as costas e pernas e
então se virando de bruço com as pernas e braços abertos e a viseira do
capacete raspando no chão. A moto ia arrastando em direção ao acostamento da
pista oposta e o Lauro vinha deslizando para a frente da minha moto.
Vendo aquela cena, me lembrei de uma moto que vi certa
vez na oficina do Célio, era uma 883, sendo que um amigo havia caído na frente
e o segundo passou por cima dele, entortando as pedalarias da moto. Na época
pensei o estrago que este atropelamento teria feito no companheiro daquela
cara. Tudo isso se passou em um flasch na minha cabeça e pensei, não posso
atropelar o Lauro, eu que já vinha feriando forte segurei mais ainda, com o
dianteiro e traseiro no que deu. Graças a Deus, eu conseguia manter a moto
afastada dele e quando sai para o acostamento e consegui finalmente parar ele
também havia parado com o corpo sobre a pista e as pernas sobre o acostamento.
Neste momento o guarda que vinha correndo do posto
policial chegou ao meu lado, e como se numa catarse, vomitou uma frase: - Vocês
precisam retornar ao posto de combustíveis pois esqueceram os documentos de
vocês lá. Cartão de crédito e documentos.
Eu olhei para o guarda, olhei para o Lauro, que começava
a se mexer, a Edite estrada no meio da pista, a moto tombada junto à grama do
outro lado da pista e falei ao guarda: - Vamos atender a eles primeiros, depois
a fala deste assunto.
Graças a Deus, os dois estavam conscientes. A Bê foi
atender à Edite e eu fui até o Lauro que se levantava e disse que estava bem.
Perguntei se não estava sentindo nenhuma dor e ele me respondeu que estava bem.
Aí fui até a Edite que estava sentada e perguntava: - o que aconteceu? Eu falei
para ela que tinham ligado do posto dizendo que tínhamos esquecido o cartão de
crédito e ela mostrou o cartão dela dizendo que estava ali.
Por varias vezes ela repetiu a pergunta sobre que havia
acontecido.
O pessoal da policia Caminera muito rapidamente cuidou de
controla o trânsito, evitando que ocorresse um atropelamento e a Bê comentou
com a Edite que o pé dela estava um pouco estranho e poderia ser que ela
tivesse quebrado o pé. Mas na hora de tirar a bota a Bê viu que não deveria
retirar sob pena de agravar a situação e que o pessoal do atendimento poderia
cortar a mesma, mas a Edite rapidamente retirou a bota do pé e aí também pude
ver que aparecia um deslocamento estranho no alinhamento da perna denunciando
uma muito provável fratura.
Rapidamente colocaram a Edite em uma maca, com colar
cervical na ambulância e levaram ela para o hospital. A Bê estava nervosa
porque o Lauro deveria ter ido junto com a Edite e que ela não deveria ter ido
sozinha pois o Lauro também tinha que ir ao hospital.
Algumas pessoas que passavam e pararam ali levantaram a
moto e a deixaram apoiada no pé, lá mesmo local onde havia parado. Novamente
perguntei ao Lauro porque ele não ia juntamente com a Edite ao hospital e ele
falou: - Não precisa, eu estou bem, em seguido eu vou.
Novamente ele me disse que nao estava sentindo nada. Eu
não podia acreditar que não estivesse. Passei as mãos pelos braços e pernas
dele e ele me confirmou que não sentia nada. Estava bem.
Ok. A Edite já havia sido encaminhada ao hospital a Bê
estava muito nervosa, achei que precisava atender a ela também, abracei a Bê e
ela chorou um monte. Disse que tudo ficaria bem. Mas ela chorou um bocado.
Precisava aliviar a tensão daquela cena horrível que tínhamos presenciado. Um
acidente é uma coisa feia mesmo. Fica marcado. No coração da gente de uma forma
que não sabemos como e acaba interferindo em nossas emoções de forma
incompreensível e por um bom tempo.
As pessoas estavam bem e atendidas. Aí o guarda pediu que
colocássemos as motos em um local mais seguro, no estacionamento do posto. Eu
olhei a minha moto, vi que estava um pouco fora de esquadro o escarpamento e as
barras de proteção das bolsas laterais estavam tortas. Liguei a moto e parecia
que nada estava raspando, com muita calma, olhei para todos os lados, até que
não viesse ninguém e dei a volta na pista parando do outro lado, no acostamento
oposto, pois vi que o Lauro também estava olhando a moto dele.
Desliguei a moto e desci para ir lá com ele. Perguntei se
precisava de ajuda e ele disse que não, Tentou ligar a moto, mas não pegou. Na
segunda tentativa o motor ligou e começou a sair muita fumaça de óleo queimado
pelo escapamento. Até falei a ele para desligar mas ele não desligou e aos
poucos o óleo foi diminuindo, diminuindo, indicando que devia ter ocorrido um
vazamento de óleo para dentro do escapamento ou do cilindro, não sei.
Mas a moto não andava pois o para-lama dianteiro estava
amassado e prendia o pneu dianteiro, devido a um profundo vinco que havia sobre
o para-lama dianteiro que raspava no pneu. O Lauro foi forcando e aos poucos
levou a moto até na frente do posto. Eu voltei na minha e fiz a mesma coisa. A
Bê estava nervosa por conta da Edite que estava no hospital sem ninguém.
Estacionamos ali as motos e o Comandante Diaz, que era o chefe daquela posto,
colocou o pessoal dele à disposição para nos levar onde fosse necessário.
O soldado Diaz, que tinha o mesmo sobrenome, juntamente
com o Martinez e outro, que havia saído correndo para nos avisar da necessidade
de voltar, nos levaram até o hospital que ficava perto de onde estávamos.
Lá chegando, o Diaz nos levou até um posto da policia,
creio que civil ou militar, que usa uniforme azul, que tem um escritório na
entrada do hospital, onde eu e o Lauro preenchemos uma ficha. Aí o Lauro disse
que estava começando a sentir uma dor no ombro esquerdo. Ele entrou para fazer
uma radiografia e ser atendido.
Eu não tinha absolutamente nada, ao menos no corpo, e fui
na sala de espera com a Bê. Mas o Diaz me chamou novamente para poder preencher
o BO. Lá fui eu até a viatura, que agora estava estacionada sob a sombra de uma
arvore do lado oposto da avenida do hospital.
Fiz o teste do bafômetro e pensei, graças a Deus que não
havia bebido absolutamente nada alcoólico desde a noite anterior. E preenchi o
BO sendo que me foi solicitado que dissesse o que havia acontecido.
Imediatamente me lembrei do acidente do Guilherme onde aconteceu a mesma coisa
e me preocupei em ser muito claro nas explicações evitando que de alguma forma
algo viesse a ser mal interpretado futuramente.
Aí o Lauro teria que fazer a mesma coisa, mas ele estava
lá dentro do hospital. O Diaz ainda me levou para a entrada do hospital a fim
de que eu também fizesse uma avaliação medica. Disse que não precisava pois
nada havia acontecido, mas ele insistiu, dizendo que mesmo assim seria bom que
constasse isso de um laudo médico. Ok. Concordei e fui para a porta de entrada
de emergência do hospital.
Lá dentro me pediram mais uma serie de dados e fiquei
aguardando para ser atendido por algum medico, que não estava presente no
momento. Vi a Bê sentada na sala de espera através do vidro de onde uma
funcionaria atendia ao pessoal que chegava com suas queixas e acenei para ela.
Enquanto esperava solicitei informação a um funcionário sobre onde estavam o
Lauro e a Edite. Ele me disse que o a mulher estava sendo atendida e que o
homem havia ido para a radiografia.
Fiquei por ali até que chegou um medico muito simpático e
também novo, acho que devia ter não mais de 25 ou 26 anos e ele com a minha
ficha nas mãos me perguntou o que tinha acontecido, falei para ele e aí me
perguntou se havia algo comigo, disse que não pois nada havia sequer encostado
nem em mim e nem e nem na minha esposa. Então ele perguntou porque o policial
tinha me encaminhado, respondi que não fazia a menor ideia mas que quem sabe
Era apenas para que constasse que nada tinha acontecido comigo.
Ele achou razoável a minha inferência e perguntou se eu
queria ir junto com o meu amigo e eu disse que sim. A Bê ficaria esperando ali
do lado de fora mas ao menos um de nos teria como levar alguma noticia, pois eu
não sabia nada sobre a Edite e isso estava me preocupando.
Quando cheguei na radiografia lá estava o Lauro em pé
esperando e fiquei com ele. Aquele medico foi muito legal em permitir que isso
acontecesse. Mas ele não soube me dizer nada da Edite. Quando ele saiu
perguntei ao Lauro se ele sabia de algo da Edite, ele disse que ela tinha ido
para o raio X também e que ainda não sabia do que teria ocorrido e na hora me
falou que estava bem e que se nada tivesse ocorrido com ele e nem com a Edite
ele iria dar um jeito de arrumar a moto ou de alugar uma outra e iria com a
gente em frente na viagem.
Aí eu falei para ele que achava que a Edite tinha
quebrado a perna, na altura do tornozelo e que possivelmente não daria para
seguirmos e mais ainda, não sabia se nos seguiríamos em frente depois de uma
situação como aquela que tínhamos vivido. Pois se algo ocorresse de ruim depois
daquele aviso como eu poderia me perdoar?
Ele se resignou com a situação e ficou pensativo por um
tempo, muito triste com o ocorrido e tentando compreender o que afinal de
contas teria acontecido? Nem eu nem ele conseguíamos compreender o que tínhamos
feito de errado, apenas talvez não fosse para irmos e pronto. Afinal de contas
comentei com ele eu que tinha tido um sonho ruim na semana da viagem e que
tinha ficado muito impressionado, mas que não sabia como interpretar aquele
sentimento.
Ele foi chamado para entrar na radiografia, fez a chapa e
saímos dali em direção ao local onde havíamos entrado na região do atendimento.
O Hospital Escola de Paysandu é um hospital grande, tem muitos corredores e
quartos e alas, lembrando um pouco o Hospital Cajuru de Curitiba. Muita gente
por todos os lados, principalmente muita gente simples. Mas a maioria dos casos
eram mesmo de mulheres grávidas e nascimento de bebes.
Quando chegamos ali na região da entrada nos sentamos
para esperar notícias da Edite. A Bê estava sozinha lá fora mas eu não queria
ir lá antes de ter notícias da Edite para poder levar para ela.
Aí o Lauro e eu fomos chamados para irmos até onde a
Edite estava em uma maca, deitada em um local cercado por biombos de tecido,
ela ficou feliz de nos ver e eu então nem se fala de ver ela estava realmente
bem. Aí peguei a medica de lado, quando ela estava saindo dali e pedi
informações sobre as condições da Edite.
Ela me explicou que a Edite estava com a perna quebrada e
que teria que ser feita uma cirurgia para colocação de parafusos, pois o tipo
de quebradura, embora não tenha sido nada muito grave, ainda assim necessitaria
de intervenção cirúrgica. Aí ela me perguntou se tínhamos plano de saúde para
fazer a cirurgia e eu respondi que teríamos que levar ela de volta o Brasil a
fim de que fosse operada em Curitiba, levando-se em conta as questões
relacionadas com a recuperação, família, etc. ela entendeu e eu solicitei que
necessitaríamos de um relatório do atendimento dado a ela e da alta para que
pudéssemos leva-lá para Montevideo a fim de pegar um avião de volta.
Retornei ao Lauro e à Edite e perguntei se eles já haviam
sido informados da situação da Edite, me disseram que não, aí eu expliquei para
eles o ocorrido e que teríamos que levar a Edite de volta para o Brasil pois
teria que ser operada para colocação de parafusos.
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