Imagens do Fin del Mundo

Imagens do Fin del Mundo
Eu estive lá. De frente para a vida!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Missões Argentinas - 2015

Participantes:
- Luiz Bianchi - Harley Davidson Ultra Glide Limited
- Bernadete Condello de Oliveira - Harley Davidson De Luxe
- Daniel Silva e Ana Paula - Triuph Tiger 1200
- Lauro Luiz Stremmel e Edite - Harley Davidson Ultra Glide Limited

Check List:
Fizemos um bom Check List, pois para sair para qualquer viagem o mesmo é necessário, entretanto quando saímos para uma viagem que contenha algum outro país, no caso a Argentina, é claro que se torna ainda maior a necessidade de cuidados com a documentação.
- Documento de propriedade do Veículo;
- Carta Verde;
- Passaporte e/ou CI;
- Seguro da moto cobrindo a Argentina, no caso o Mercosul;
- Seguro Saúde cobrindo a Argentina;
- Habilitação;

Roupas:
- Segunda pele, para o caso de fazer frio;
- Impermeáveis, para o frio e chuva;
- Roupas de pilotagem na estrada;
- Meias para uso com botas impermeáveis;
- Bermuda, roupas de banho, calça e camisetas;
- Um chinelo para poder descansar os pés.
- Luvas para frio e calor;

Para a moto:
- Tyre Repair, para o caso de ter um furo em um pneu, sendo que no da minha moto tem o Never Flat;
- Arame e lacres de plástico de vários tamanhos;
- Chaves diversas e alicate;
- Impermeáveis para bagagem, caso necessário;
- Extensores diversos, inclusive aranha;
- Desembaçante e limpador para a viseira;
- óleo desengripante WD-40;
- Carregador para celular;
- Estoque minimamente arrumado de músicas, embora durante o trajeto eu prefira as rádios locais;
- Chaves reservas trocadas entre eu e a Bê - sempre uma segurança a mais;
- Silver tape, isolante, fita durex larga;
- Pneus em condições, calibragem, lâmpadas sobressalentes.

Para o coração:
- Uma boa dose de ânimo e amor pela aventura a ser realizada. Isso com certeza nunca faltou nem faltará, se Deus assim permitir.
- Um Jack Daniels para os momentos de maior necessidade. Hahaha.

Mas dessa vez foi apenas o Jack, pois levar garrafas na moto é algo meio complicado e que exige cuidados especiais, afinal de contas quando a carga nos é muito cara temos que ter cuidados especiais não é verdade?

Traçado do caminho a ser percorrido:

Trajeto que percorremos nos dias 4 a 8 de Setembro.
Feriado de 7 de Setembro é um feriado que merece um passeio que tenha alguma relação com a história. Como a nossa está meio difícil de engolir, aproveitamos para dar uma olhada nas histórias pregressas de nossa America Latina, da qual fazemos parte também, a República dos Guaranis que abrangia 30 Reduções Jesuíticas, sendo 7 no Brasil, outras 7 no Paraguai, onde, segundo informações, tem as ruínas mais bem conservadas e ainda 14 Reduções na Argentina.

Escolhemos visitar San Ignácio Mini, Nuestra Señora de Loretto e Santa Ana, todas localizadas muito próximas umas das outras. Faltou apenas a de Santa Ana, que segundo informações que tivemos, estava menos conservada que a de San Ignácio Mini.

Dia 1 - 04/09/2015 - Florianópolis - Curitiba - 302km

O trecho no primeiro dia, foi percorrido apenas por mim e pela Bê para nos encontrarmos com o Daniel e o Lauro, em Curitiba.

Trecho percorrido em nosso primeiro dia, Eu e a Bê.

Saímos em duas motos, eu e a Bê, cada um na sua moto, de Florianópolis, após as 15h00 na sexta-feira dia 4 de Setembro de 2015, com destino a Curitiba, que embora não tenha nada a ver com o nosso destino final, era o ponto de encontro com o Daniel e Ana Paula e com o Lauro e a Edite.

Fomos direto até a casa da Cintia para ver eles e principalmente os netinhos, Luciano e Bernardo, hehehe. Saímos de lá, já era tarde, mais de 22h00 e fomos para a casa do Daniel onde havíamos combinado de dormir, tendo em vista que na manhã seguinte sairíamos muito cedo e a casa deles fica a pelo menos meia hora mais perto de qualquer ponto de encontro do que a nossa casa, no Alphaville.

Chegamos lá e tomamos uma sopa deliciosa que a Ana Paula tinha preparado e ficamos conversando sobre muitas coisas, dentre as quais, quais os caminhos que tomaríamos e onde dormiríamos pois tínhamos apenas reservas na Posada Brizas del Norte, em San Ignácio Mini, do sábado, dia 5, para o domingo.

Depois de muitas ponderações vimos que deveríamos acertar lá onde dormiríamos no dia seguinte, tendo em vista que poderíamos conseguir algum lugar muito mais barato que o valor que tínhamos pagado pela reserva, que foi de US$ 121,00 para um pernoite, para dois casais.

Dormimos tarde, mais de meia noite, o que no dia seguinte iria fazer alguma diferença, tendo em vista que o caminho era longo.

Hora de dormir para no dia seguinte levantar nada menos que as 5h00 da matina, muito mais cedo que o dia. hehe. Mas tínhamos um dia inteiro para rodar muito e longe.

Dia 2 - 05/09/2015 - Curitiba - San Ignácio Mini - 824km

Trajeto de Curitiba a San Ignácio.
Levantamos as 5h00 da manhã, tomamos um banho e uma xícara de café, que o Daniel e a Ana muito gentilmente haviam prepararam para nós, como acompanhamento um pedaço de queijo. Colocamos as bagagens na moto e era hora de partir, muito cedo, saímos da casa do Daniel às 5h35 da matina, o dia ainda não estava amanhecendo.

Havíamos marcado o ponto de encontro com o Lauro e a Edite às 6h00 no primeiro posto Shell que tem após a Havan na saída para Ponta Grossa, BR-277, logo depois da entrada do Parque Barigui e de fato chegamos lá eram 5h58 e o Lauro estava manobrando a moto dele para estacionar. O problema é que o posto ainda não estava aberto e eu e a Bê teríamos que abastecer, uma vez que no dia anterior por termos chegado de Floripa estávamos com os tanques vazios.

Como o posto não abriu, decidimos seguir em frente e parar no próximo que encontrássemos. Tínhamos pouco mais de 50km de autonomia, mas era mais que o suficiente. Retornamos para a estrada e fomos até o próximo posto que estava lotado e com uma bela fila. Novamente saímos do posto e seguimos em frente para abastecer mais adiante ainda, o problema é que aí parou todo o trânsito e nós fomos seguindo pelo corredor.

A estrada estava absolutamente lotada e ainda eram 6 horas da manhã, ficamos preocupados pois seria um dia difícil pelo que estávamos vendo. Nossa esperança era que depois de Sprea poderia melhorar, quando a gente pegasse o caminho que passa por Iratí e depois para Guarapuava. Foi uma luta para subir a serra, passamos pelo pedágio e chegamos ao posto que tem depois da saída para Bateias. Abastecemos a minha moto e a da Bê e saímos imediatamente sem perda de tempo, pois o caminho se mostrava do tipo cansativo. Combinamos que estávamos passeando já e que não tínhamos nenhuma razão para termos pressa,  aproveitando o momento da melhor forma possível, sendo que mesmo andando no corredor, devido ao forte movimento, estávamos passeando e não sofrendo.

Assim com o espírito em festa, como sempre quando saímos livres com o espírito voando pelos caminhos, o que é uma experiência que somente quem sabe, sabe e quem não sabe, não adianta nada querer explicar, pois se torna impossível entender.

De fato, depois do Posto da Polícia Federal, saímos para a direita e tomamos o rumo de Iratí, o movimento reduziu muito e a estrada ficou ainda mais maravilhosa, sendo que a partir daí pudemos imprimir uma velocidade mais normal, na ordem dos 110km/h. 

Rodamos muito até que paramos para nosso café da manhã e banheiro às 9h00 da manhã, quando então já estávamos perto de Guarapuava. Não perdemos muito tempo ali, não e seguimos em diante com as 4 motos abastecidas. O que me vem na cabeça é que os nossos corações estavam ainda mais cheios que os tanques das nossas motos e diferentemente daqueles, quanto mais rodávamos mais cheios eles ficavam.
Tomando nosso café da manhã, finalmente.

Assim passamos por Guarapuava e saímos pela BR-373, em direção à Reserva Indígena, no caminho de Pato Branco, passando por Candói, em frente ao hotel onde dormimos quando eu e a Bê cumprimos com o desafio de percorrer os extremos de Santa Catarina. 

Quando passamos por Marmeleiro, encontramos um lugar que pareceu muito interessante para pararmos para almoçar, alguma comida meio leve, de forma que não pesasse muito no estômago, gerando sono, o que se torna o maior inimigo que podemos ter, em uma viagem de moto.

No restaurante onde paramos para almoçar, quando já passava das 14h00, tinha um pesque-pague e o dono nos deu ração para jogar aos peixes. Tinham muitos e fervilhavam atrás da comida.

Como não estava sendo servido peixes e o Daniel não come carne vermelha, pedimos um omelete para a cozinheira, ela fez, não tinha muita cara de omelete mas pelo que ele falou estava razoável. Eu pedi um ovo frito também e estava tão salgado que não deu para comer, mas diferentemente do ovo, o restante da comida estava simplesmente maravilhosa. Foi um belo almoço.

Saímos em direção a Barracão, cidade que adotamos como nossa preferida para cruzar a fronteira, sendo o melhor ponto de cruzamento pois encurta a distância e tem fronteira seca o que facilita o cruzamento, além de pouco movimento. Fizemos o desembaraço alfandegário, com toda a burocracia da Imigração e descobrimos que agora tudo está ainda mais simples que era no passado, pois não precisa mais nenhum documento para entrar com o veículo na Argentina, basta apresentar os documento, inclusive a Carta Verde. Com o passaporte fica ainda mais simples pois a imigração apenas apõe um carimbo de entrada no passaporte e pronto, não é necessário o preenchimento de Visa e outras complicações assim.

Entramos na Argentina pela Ruta 14, depois de passarmos pela barreira da Gendarmeria Argentina, seguimos até o trevo e saímos pela Ruta 17, seguindo em direção a Oeste, direto para Eldorado. Chegando em Eldorado, enchemos os tanques das motos e ponderamos sobre a possibilidade de comermos algumas empanadas, mas acabamos por decidir que chegaríamos muito tarde em San Ignácio e todos já estávamos cansados, havíamos saído as 6h00 da manhã, já estávamos no caminho por 12 horas e ainda tínhamos um bom trecho pela frente.

Assim que retomamos o nosso caminho, o Daniel chegou do meu lado e disse que havia caído um parafuso da placa da moto da Bê. Paramos na avenida central em Eldorado e coloquei um lacre de plástico na placa para fixar, evitando que acabasse por se soltar o outro também. Assim que tomamos a Ruta 12, que segue para o sul, em direção a Posadas, notei que o espelho retrovisor da minha moto estava desregulado, imediatamente imaginei que fosse pelo fato de eu ter colocado o capacete apoiado nele e levei a mão para arrumar, mas que nada, estava tudo solto. 

Parei no acostamento, em um ponto que tinha um alargamento para não colocar em risco nossa frota de 4 motos, expliquei aos demais o que estava acontecendo e pedi que o Daniel direcionasse a luz da moto dele para clarear o guidão da minha. Vi que era uma chave estrelada e rezei para que eu tivesse uma que se encaixasse naquele parafuso, abri meu estojo de ferramentas e tinha uma que estava levando o jeito, testei e bingo! Perfeito! Apertei os dois parafusos, sendo que um deles deu mais de uma volta e o outro meia. Incrível que quando solta, solta mesmo, cheguei a ficar com medo de perder a peça no caminho, pois se cai o parafuso eu iria me complicar. Mas que nada, deu certo e seguimos em frente.

Noite adentro, sem radares nem guardas, a 100km/h fomos seguindo. Os argentinos são meio doidos no volante e andam muito rápido, alguns passavam por nós a coisa de mais de 150km/h, colocando nossas vidas em risco. Mas fomos com os cuidados necessários e não passamos por nenhum problema mais sério. Também parou de dar qualquer problemas que fosse com as motos e nada mais aconteceu. Fomos passando por dentro de várias cidadezinhas, sendo que a maioria delas eram muito pequenas, mas algumas eram até mesmo grandes.

Lembrei em muitas ocasiões das diversas vezes que passamos por aquelas localidades, lembranças de prédios, de praças, de paisagens e tudo o mais. Viajar de moto passou a ser realmente uma realização, muitas memórias, talvez por isso que eu sinta tanto prazer em escrever essas histórias todas aqui no Blog, visando compartilhar com quem queira ler e ainda, mais recentemente, produzir livros ilustrados que guardam a memória dessas experiências que temos vivido. Quem sabe esta também não seja impressa em um livro?

De fato chegamos em San Ignácio Mini já tarde da noite, coisa de 22h00, tivemos ainda alguma dificuldade para encontrar a nossa Posada, que ficava na esquina da Ruta 12 com a Avenida principal da Cidade, a Av. Sarmiento. Parei do outro lado e não vi.

Seguimos em frente para ver se encontrávamos e nada. Aí o Daniel e a Bê disseram que eu devia estar cego pois não tinha visto. Ótimo, falei eu, vai na frente que eu não vi mesmo. Hehehe. Segui eles, depois de fazermos o retorno na estrada. Aí ele entrou na cidade, dessa vez quem não entendeu nada fui eu! No final da avenida que devia ter não mais de meia dúzia de quadras, parei do lado dele e disse: 
- Onde é que você está indo? A pousada fica na Ruta 12 e não aqui dentro da cidade.
Ele me responde:
- Não sei onde é a Pousada, falei da entrada da cidade.
Hahaha! Ri muito, pois cada maluco com uma idéia diferente! A Bê também estava na mesma situação. Bem, voltamos até a Ruta 12 para ver se achávamos a nossa pousada. Estávamos cansados, além do frio e loucos por uma comida e uma cama.

No cruzamento da avenida com a Ruta tinha um Posto de Apoio ao Turista e um posto da Polícia. A Central de Informações estava fechada mas na polícia tinha gente, aí perguntei ao cara e ele me disse que ficava do outro lado da estrada, exatamente onde eu havia imaginado pela primeira vez que ficava, mas não tinha um letreiro com o nome e por isso não havíamos visto. Fomos até lá e entramos no portão. Aí a Ariel veio nos atender. 

A Bê estacionou a moto e foi ao banheiro, pois estava apertada e a Ana e a Edite foram atrás dela. Eu, o Daniel e o Lauro fomos ver com a Ariel a situação das nossas reservas. Foi quando descobrimos que valia muito a pena levar dólares americanos, pois a diária de 2 quartos por uma noite, na verdade 2 chalés com 2 quartos cada, que havia ficado por US$ 121,00 pelo Booking, ela fazia por US40,00 a noite, assim, se ficássemos por 2 noites ali, nos custaria US$80,00 por casal para duas noites. Mas teríamos que realizar o pagamento em papel moeda, pois no cartão a situação seria a do câmbio oficial. Assim fizemos. Cada um de nós se agilizou para pagar em dólares a Ariel. Depois fomos cada um até o seu chalé para guardarmos as coisas e as motos, e retornamos ao restaurante onde elas já haviam solicitado o vinho. Claro que eu tratei de levar o Jack na caixa para o restaurante também.

Cansados mas muito felizes. Nosso primeiro jantar em terras Missioneiras.

Ao final da noite, havíamos tomado meio litro do Jack, 2 garrafas de vinho e comido nosso jantar que foram algumas empanadas argentinas e um eu comi um bife "au poivre" que estava muito bom. Rimos muito, nos divertimos muito e fomos dormir meio bêbados mas realmente muitos felizes pelo dia que havíamos tido. Claro que tomamos muita água também, por que senão, no dia seguinte, teríamos uma ressaca do cão.

O nosso Chalé era muito bom, tinha uma salinha, com sofá e mesa com 4 cadeiras, um quarto com cama de casal e outro com um beliche. Junto à sala um canto com microondas e pia com fervedor para água e um banheiro bom, o sistema de água quente era com um aquecedor a gás e o chuveiro era mais ou menos, mas quente.

Dia 3 - 06/09/2015 - San Ignácio Mini e Nuestra Señora de Loreto
Trajeto percorrido no dia. Só uma voltinha mesmo.
Levantamos cedo, para tomar café às 10h00 da manhã. Ficamos de nos encontrarmos no Chalé do casal Lauro e Edite. Tivemos que bater na porta pois eles também tinham perdido a hora. Nós chegamos lá às 10h15 e vimos a Ana e o Daniel vindo de uma caminhada. Incrível como esses dois realmente adoram levantar cedo.



Nosso café da manhã no Chalé dos Stremel. O Lauro estava ausente em uma empreitada muito séria. Hehe.
Eu e a Bê, em frente ao nosso Chalé.

Nosso Chalé era muito legal. A moto guardada sob a varanda.

O Chalé do Lauro e Edite, onde tomamos nosso café da manhã.
O café da manhã, conforme a Ariel tinha nos informado era uma bandeja com um café completo. Sachês de chá e de café. Isso mesmo! Sache de café. Alguém já viu? Nós vimos nessa viagem. Achei bem interessante porque realmente o café nada mais é do que um chá, que se passa no coador, logo, colocando o pó do café dentro de um saquinho de chá acaba que resulta em um café. Um saco de bolinhos adocicados, açúcar e adoçante, dois sucos longa vida. Pronto. Esse era o nosso café completo que a pousada fornecia. Hehehe. No restaurante era servido um café da manhã levemente melhor que esse, a R$17,00/pessoa.




Os Chalés são bem interessantes. Se soubéssemos poderíamos ter dividido em dois casais um Chalé.

Tomamos nosso café na varanda do Chalé do Lauro, sendo que a Bê e a Ana Paula foram até o restaurante e compraram algumas media lunas (croissants) e uma garrafa térmica de café passado, melhor que o de saquinho que tínhamos no chalé. Papeamos muito sobre as viagens anteriores, sobre as missões e sobre qual teria sido o local por onde passamos uma vez, eu e a Bê, quando vimos algumas ruínas às margens da estrada e que nos despertou o desejo de um dia conhecer as Missões Argentinas.
Esquina da Pousada onde ficamos.
Depois do café, tomamos um chimarrão, com erva argentina, que é mais forte e amarga que a nossa, Por fim, decidimos que já devia ser hora de sairmos para visitar as ruínas das Missões em San Ignácio Miní.
Nossas motos estacionadas em cima da calçada, em local próprio indicado pelo cuidador, em frente ao Museu.
O lugar é muito preservado, nos informaram que a Missão de Trinidad, localizada no Paraguai, encontra-se mais bem conservada que a de San Ignácio Mini, ficamos com vontade de conhecê-la, mas entrar no Paraguai de moto é uma aventura que eu mesmo ainda não me sinto pronto a realizar.


 Bê, Ana Paula e Edite em frente a entrada da Redução de San Ignácio Miní.


Na entrada do Museu da Redução Jesuíta de San Ignácio Miní.
Chegamos no portão de entrada das ruínas e o cuidador de carros, um rapaz muito simpático, nos informou que poderíamos estacionar as motos sobre a calçada em um local mais largo um pouco, que ele nos indicou. Assim fizemos. O Daniel acabou comprando os ingressos para mim e para a Bê, pois não tínhamos dinheiro. Entramos no Museu, uma construção bem interessante que tem logo na entrada. O local todo é tombado como Patrimônio Histórico da Humanidade.

Peça do Museu indicando peças de arte desenvolvida pelos Guaranis.




Cenas do Museu, contendo artefatos da cultura Guarani da Redução.

Arranjo Geral, típico de uma Missão.

Placa explicativa de todos os 30 Povos que constituíram a Nação Guarani.

O projeto arquitetônico de todas as Reduções é o mesmo, ou seja, todos tem uma grande Igreja com uma praça em frente. Atrás da Igreja a horta e ao lado o cemitério para enterro de pessoas que morriam de morte natural. Em seguida o hospital e o Cotyguaçú, ou Casa Grande, onde ficavam as viúvas, idosos e crianças órfãs. Ao redor da praça principal em frente à Igreja ficava o Cabildo, que eram as casas dos Caciques e em seguida as moradias dos demais índios e suas famílias. Todos moravam em residências de 5 por 5 metros, sendo que quando a família tinha mais de 5 pessoas, eles consideravam que era uma família numerosa e aí eles tinham uma casa com dois cômodos interligados.
Daniel e Ana Paula.

A construção das moradias era um prédio com os 5m de largura e com muitos metros de comprimento, construído em blocos cortados de rocha sedimentar, relativamente porosa e que era mais facilmente cortada pelos índios que as construíam. Os blocos de fundação eram de uma rocha mais resistente tipo basalto. Os pavilhões onde moravam os índios tinham de 6 a 7 quadros familiares que não se comunicavam diretamente. No meio tinha um espaço que ligava as ruas de um lado a outro, que era um local de convívio e também a cozinha.
Construções dos quadros onde os índios moravam e as colunas onde o telhado se apoiava formando a varanda.

A praça grande em frente a Igreja Matriz e as casas dos Caciques localizadas ao redor da praça.

Ruinas do Portal principal da Igreja.

Caminho que leva à praça principal, ladeado pelas casas dos índios.

Daniel caminhando na região das casas dos índios.

Pelo lado de fora, ao longo do edifício, tinha uma série de pilares onde se apoiava a estrutura do telhado, coberto com telhas de barro que eram moldadas com a utilização de um tronco de palmeira. Desta forma eles tinham uma varanda em volta de todo o prédio com cerca de três metros de largura. O lugar parecia ser muito agradável e bem projetado.

Em San Ignácio Miní, os banheiros eram feitos com o aproveitamento de um braço de rio que era desviado passando pela aldeia e que era utilizado para coletar os dejetos diretamente. Em outros locais, como Loreto por exemplo, os banheiros eram feitos sobre fossas negras mesmo.

Toda aquela estrutura funcionava com a presença de apenas 2 Jesuítas, que moravam na Igreja principal. Eles praticamente não falavam com os índios, todos os dias, os caciques iam ter com os Jesuítas, para saber das ordens. Eles retornavam e repassavam aos índios quais as ordens do dia. Nem os Jesuítas nem os Caciques trabalhavam, somente os índios é que produziam. A economia da região era principalmente através do comércio da erva mate.
Ruínas do portal de Entrada da Igreja. Algo realmente impressionante para estar na América naqueles anos 1600 a 1700.

Vista geral do Portal da Igreja visto da Praça Central.

Edite no Portal da Igreja. 
A Bê no Portal da Igreja.

Símbolo de Maria, gravado na parede da Igreja.

Nosso guia explicando a história da Missões. Muito esclarecido e preparado o rapaz.

Piso original do interior da Igreja, protegido por correntes.

Vista do interior da Igreja, tomada a partir da porta principal.

Vista da Nave da Igreja, em uma selfie improvisada.

Porta de acesso lateral. Muito bem decorada. Acima das demais construções da época, para a América do Sul.

Ruínas do que sobrou da parede lateral da Igreja.
Nem todos gostaram da chegada dos Jesuítas, principalmente por questões religiosas. Os Pajés não aceitaram a nova religião e nem os novos costumes de forma que muitos Jesuítas foram mortos por esses índios rebeldes, que não participavam das Reduções. O índios que iam nascendo nas comunidades não se adaptavam mais a viver na mata e acabavam se tornando dependentes das missões para sobreviver.

Nem todos os índios estudavam, apenas os mais dotados é que eram ensinados para que mais tarde se tornassem caciques e tivessem um posto de comando. A comunidade nas Missões funcionavam como um corpo. A cabeça eram os Jesuítas. O corpo eram os caciques e os membros eram os índios. Durante 150 anos aproximadamente, apenas 2 Jesuítas comandavam o funcionamento de cada uma das Missões, que eram compostas de 30 povos. Sete no Paraguai, quatorze na Argentina e outras sete no Brasil.
Nós escutando as explicações do guia. Notar a parede aos fundos. Era construída com pedras cortadas e rejuntadas com adobe, depois de serem niveladas com a utilização de pedras, utilizadas como cunhas.

Esta árvore nasceu envolvendo uma coluna de suporte do telhado, na varanda.
Nome da árvore que abraçou a coluna de pedra. Um passarinho colocou a semente em cima da coluna, ela germinou e as raízes foram crescendo até o chão, deixando a coluna no meio das raízes. Incrível!

Lateral com todos os pilares, inclusive aquele envolvido pela árvore.
Nesta foto, tem-se a ideia do tamanho da árvore abraçada ao pilar.


Visão clara de como eram as casas dos índios.

Caminho principal da Missão, ligando a praça central às casas dos índios.
Tivemos muita sorte pois quando estávamos dentro do museu, vendo os diversos artefatos e esculturas produzidas pelos índios, uma mocinha veio chamar para o início de uma visita guiada. Nada melhor que isso, eu quis saber qual seria o custo, pois de graça eu não podia acreditar que fosse. O Daniel foi atrás de uma funcionária e perguntou qual o preço da visita guiada e ela informou que era mesmo gratuita. O que já era bom havia se tornado ainda melhor. Hehehe. Fomos seguindo o grupo e realmente as informações passadas pelo guia foram extremamente úteis e esclarecedoras.

Eu e o Lauro, na praça grande.

Ana Paula e Daniel descansando.

Uma cena eternizada...
No Brasil, como o Rei de Portugal havia trocado o território de Colonia de Sacramento com o territórios das Missões no Rio Grande do Sul, acabou acontecendo uma guerra por questões de reintegração de posse das terras das Missões. O acordo que valia com o Rei da Espanha, não valia para o Rei de Portugal e assim as guerras acabaram acontecendo, sendo que depois de três invasões os portugueses conseguiram recuperar as terras e expulsaram os índios para a Argentina.

Já na Argentina a história foi diferente, não houveram essas guerras. Depois de 150 anos, não entendi muito bem o porque, os Jesuítas se retiraram das Missões e dessa forma foi como se a cabeça do corpo fosse amputada. Os caciques e os índios não tiveram mais como administrar as Missões que eram muito dependentes dos padres. Assim, outros aventureiros tentaram dirigir a colônia mas sem sucesso, possivelmente porque não quiseram aprender a falar o guarani e os índios não aceitaram trabalhar com alguém que desejava implantar a língua espanhola como oficial das missões.

Assim, eles acabaram indo embora e abandonando as Missões, essas foram sendo tomadas pelas matas e cerca de um século depois, um pesquisador, ouvindo histórias sobre as missões decidiu ir atrás e acabou encontrando as ruínas que foram restauradas e acabaram sendo tombadas como patrimônio Histórico da Argentina e depois da Humanidade.

Saímos das ruínas e fomos almoçar em um restaurante localizado ao lado, deixamos as nossas motos estacionadas no mesmo local e fomos andando. Eu estava com a minha bota nova que estava roçando no meu dedão, dos dois pés, sendo que a unha do dedão estava meio longa e isso estava judiando um pouco de mim, mas dava para aguentar, a pior parte era quando dava uma topada. Aí sim a coisa ficava meio desagradável. hehehe.

Comemos Pacú assado, que era para ser um peixe maravilhoso, mas estava um tanto assado demais, de sorte que perdeu um pouco do seu gosto. A Ana pediu uma carne que também veio passada demais. Ela reclamou e trocaram por um contra-filé muito bom. Fomos bem atendidos, nem podíamos reclamar muito pois estávamos comendo fora de hora, pois já era mais de 15h00. Como parte do almoço tínhamos direito à sobremesa, pedimos salada de frutas, era de frutas enlatadas, do tipo compota, mas estava bom.

Era domingo e tudo estava fechando, inclusive o restaurante, a loja de lembranças que tinha ao lado. Pagamos a nossa conta e saímos do restaurante, indo pegar as motos depois de acertarmos com o cuidador e seguimos em direção a Loreto, pois o ingresso que havíamos comprado para visitar as Missões valia para todas as Missões Argentinas por um prazo de 15 dias.

Descemos novamente pela Sarmiento e viramos à direita na Ruta 12, seguindo para o sul em direção a Posadas, que é a Capital da Província de Misiones. Loreto fica muito perto, coisa de 12km. Quando chegamos acabei passando direto pela entrada e quando vi já tinha passado uns 100m. Eu e a Bê seguimos em frente para buscar um lugar mais seguro para fazer o retorno e o Daniel e o Lauro fizeram ali mesmo. Nos encontramos e fomos até a Redução de Loreto.
A caminho de Loreto. A imagem tinha que ser documentada. Visão do meu espelho retrovisor.



Todas as motos se deslocando para Loreto, entrada boa e tranquila.

Essas ruínas estão muito mau conservadas, no sentido de que foram destruídas. Tudo muito bem cuidado, entretanto sobrando poucas paredes e a Igreja principal não tinha mais quase nada. Demos uma grande volta pelo local, que é especialmente bonito e com uma natureza muito abundante em beleza.
Entrada da área de Recepção, em Loreto.

Fomos informados pelo funcionário que nos atendeu que o horário de visitas se encerra às 17h00 e que não adiantaria tentarmos ir até Santa Ana visitar a outra redução, pois já estaria fechada para visitações. Desta forma retornamos para San Ignácio, onde tínhamos o interesse de comprar os ingressos para assistir ao show de luz, som e imagens nas ruínas. Imaginamos que fosse algo parecido com o que tínhamos visto em São Miguel das Missões no RS. Mas antes de retornarmos, fomos até a localidade de Loreto, que é muito pequena, tem cerca de seis quadras apenas, mas tinha um caixa eletrônico e eu queria sacar pesos argentinos, pois estava mesmo sem dinheiro.
Nave da Igreja principal de Loreto. Não sobrou muito.

Região onde se encontravam as casas dos índios.

Tronco de árvore caído. A Missão foi completamente tomada pela mata, até ser novamente descoberta.

O que parecia ser o caminho principal da Missão.

Segundo o Lauro, a Bê mexendo nos restos da última fogueira acesa pelos Guaranis. Hehehe.
Base da pequena Capela. Em Loreto além da Igreja principal tinha esta pequena Capela.

Escadaria sobrevivente, da Capela.


Ruínas da Capela.

Muito pouco sobrou da Missão, mas ainda é mais do que o que temos em São Miguel, a menos da Igreja Principal que em São Miguel está melhor.

Passamos no caixa e o mesmo estava funcionando, saquei $1.600,00, que seria algo como R$400,00, só que deverão me custar mais do que isso, pois foram sacados no câmbio oficial. A taxa que o banco cobra é de $52,00, cerca de R$13,00. A Edite queria ver se conseguia sacar com o cartão dela e acabou dando certo, só que ela fez o teste com um saque de $300,00. Que na verdade é muito pouco dinheiro e a taxa do saque acabou ficando percentualmente muito pesada para ela. Coitada ficou um pouco chateada, mas ao menos pode verificar que era possível para ela utilizar o cartão para saques.

Retornamos para San Ignácio, entretanto antes disso entramos em um caminho de terra, que tinha ao lado de um posto de gasolina na entrada da cidade, para ir até a beira do rio. Alguém com quem o Daniel e a Ana haviam conversado, tinha falado para eles que ali tinha um local bonito. Seguimos pela estrada, mas ela foi ficando estreita e cada vez pior, sendo que os moradores da região não pareciam ser gente lá muito boa, pois haviam bêbados e gente estranha caminhando, haviam alguns índios também. Como a estrada foi ficando cada vez pior, decidimos fazer a volta e retornar para a cidade.

Eu estava indo para a nossa pousada quando me lembraram de que teríamos que comprar os ingressos para assistir ao show e retornamos até a bilheteria das ruínas para comprar. Estávamos com medo de não conseguirmos participar da primeira apresentação que iria acontecer às 19h30. Mas acabou que deu certo, pois eles nos haviam dito que teriam muitas apresentações, sendo a última às 23h30 e que somente 40 pessoas poderiam participar de cada uma delas. Na nossa frente, na fila entrou um motorista de excursão que comprou 40 ingressos de uma única vez. Mas ao final, foram todos na apresentação das 19h30, inclusive nós. 



A apresentação é muito interessante, pois conta a história de forma resumida, mas tem uma tecnologia legal. Tem um sistema que nebulosa água e projetores projetam imagens 3D dos personagens se deslocando e conversando. De cara tem um índio com a cara toda pintada, falando em guarani, projetado no tronco de uma árvore muito grande. Depois de falar um tanto em guarani, ele dá um sorriso e se desculpa em espanhol falando que naquelas terras, durante tantos séculos se falou aquela língua, que ele havia até mesmo se esquecido de que o idioma não era mais conhecido por quase ninguém.

É uma apresentação de cerca de 40 minutos de duração que a gente nem percebe o tempo passar, pois é mesmo muito interessante. Ao final saímos por um portão lateral e tivemos uma boa caminhada para chegarmos no local onde tínhamos estacionado as nossas motos. Quando aí sim retornamos à nossa pousada para trocarmos as botas, eu aproveitei para cortar as unhas do meu dedão o que poderia me dar algum conforto maior, pois eu estava sofrendo com a bota para caminhar.

Depois disso fomos até restaurante sendo que levei novamente a nossa garrafa de Jack Daniels que estava já pela metade. Pedimos um vinho, nossa comida, que foi um bife de chorizo, no estilo borboleta e feito na chapa, pois em San Ignácio no tinha nenhuma parrilla. Repassamos muitas opiniões e entendimento que tivemos sobre o nosso dia e tudo o que tínhamos visto. Muitas coisas a serem registradas, afinal das contas, precisávamos ter um motivo para beber.

Teríamos ainda que definir o que iríamos fazer no dia seguinte. A Ana estava chateada, pois ela havia pensado em ir visitar as cataratas do Iguaçú pelo lado Argentino, que ela ainda não conhecia. Mas como era muito fora de mão, o pessoal acabou achando que não valeria a pena o esforço e assim foi até que decidimos que deveríamos ir até a cidade de Ametista, no RS, no dia seguinte, assim já estaríamos a meio caminho de casa pois teríamos um bom trecho para rodar na volta. Todos gostamos da sugestão do Daniel. Ele nos contou que passou por lá uma vez e que a única coisa que tem em Ametista é mesmo um museu da Ametista, que trata sobre como ela é extraída e como ela é tratada e comercializada, etc. Gostamos da idéia e esse seria o nosso destino na manhã seguinte.
O Lauro no último suspiro do nosso Jack, que estava realmente muito saboroso, com aqueles ares Missioneiros!
Nosso Jack estava demais. Pois ele foi produzido nos EUA, entretanto aquela estada por terras missionárias havia dado a ele um sabor que estava beirando o licoroso, talvez por essa razão é que ele não durou muito. Acabamos com o litro naquela noite, ou seja, em apenas duas noites, praticamente eu e o Lauro, com muito pouca ajuda dos demais, que estavam tomando vinho, tomamos o litro de Jack. Aí que descobri que da próxima vez teremos que levar um litro para cada duas noites. Hehehe. O Lauro fez questão de me pagar a metade do valor do Jack, que tinha custado US$25,00. Depois da janta e do fim do whiskey e do vinho, era chegada a hora de irmos dormir, sendo que combinamos que na manhã seguinte iríamos tomar o café da manhã no restaurante da pousada, pois ali era servido ovos, pão, queijo e presunto e Café. Um café muito melhor que o que tínhamos no chalé, oferecido pela pousada.

Lá fomos nós caminhando no frio, um tanto bêbados, mas andando relativamente bem. A grande solução para combater a ressaca é tomar muita água, junto com a bebida, o que evita a desidratação de forma que no dia seguinte nenhum de nós estava de ressaca. Funciona muito bem, mesmo considerando que, ao menos eu, havia tomado nas duas noites o Whiskey e o vinho também.

Chegando no Chalé ainda tomei um daqueles cafés de sachê, que para o adiantado da hora e da bebedeira estava muito bom.

Dia 4 - 07/09/2015 - San Ignácio - Iraí - 381km


Trajeto percorrido em nosso quarto dia, incluindo a fronteira através do cruzamento do rio Uruguai em uma Balsa.
Neste maravilhoso dia, pois todos os dias vimos apenas a luz do sol, sem nada de chuva desde que havíamos saído das proximidades do litoral, entretanto havia uma previsão de que deveríamos pegar chuva.

Tomamos o café da manhã no restaurante do hotel e realmente era muito melhor que aquele que tínhamos no quarto, quer dizer, era um café da manhã, mesmo que simples. Mas tinha água, suco, café expresso, ovos mexidos, queijo e presunto e media-luna. Não sei se me esqueci de algo. Estava muito bom para partirmos para um dia de estrada.

Assim foi, depois do café, rapidamente arrumamos o que tinha para ser arranjado e nos mandamos de moto em direção ao sul, pois passaríamos por Loreto e em Santa Ana, onde não pararíamos para ver as ruínas, tomaríamos o caminho do leste, passando por Oberá. Em Oberá todos estavam nos dizendo que estava tendo a festa dos imigrantes, que quando eu e a Bê passamos por lá uma vez, havíamos visto essa festa, tem uma publicação neste blog onde existem fotos dos bonecos grandes dos imigrantes.

As estradas estavam boas embora sejam de pista simples, mas como tem pouco movimento a gente pode viajar com segurança. O que nos impressionou foi ver a quantidade de motocicletas que passam pela Ruta 12, descendo em direção ao sul. É que este caminho a qualquer lugar que se deseje ir, desde o Chile, deserto do Atacama até Ushuaia, dependendo de onde a pessoa saia, mas não sendo do Rio Grande Sul, já pode ser caminho.

Os guardas da Argentina desta vez, tenho que registrar, estão de parabéns, não nos incomodaram de forma alguma. Quando necessário nos pediram documentação e quando precisamos de informações deles, os mesmo foram super educados e prestativos.

Como a Argentina está em época de campanha política para eleições, acho que em Outubro, vimos muitas propagandas políticas e ainda muitos palanques arrumados para comícios. Pelo que vimos as eleições incluem desde a presidência da república, que juro, estou torcendo para que a turma da Cristina suma de lá, assim como torço para que a turma da Dilma suma daqui e que esses vermelhos desapareçam da América Latina, até as prefeituras das cidades. Nos pareceu que serão mesmo eleições gerais. Havia muito movimento nesse sentido.

Quando chegamos em Oberá, uma cidade relativamente grande, com um certo agito, pois lá não era feriado, não vimos muito sinal de festa, na verdade quando chegamos na praça em frente à Catedral é que vimos os bonecos gigantes dos imigrantes. Apenas isso. Aí pensamos que a festa havia acabado no domingo anterior, mas que nada, a festa acontece somente à noite. Muita gente de fora, inclusive do Brasil vai até lá para se apresentar em espetáculos de música e de dança. De qualquer forma para nós teria sido impossível ficar para a noite de festa, já havíamos ponderado isso no dia anterior e decidimos que não valeria a pena devido ao cansaço da viagem.
Mirante do caminho onde aparece o rio Uruguai e na outra margem o Brasil.

As meninas na mureta. O rio Uruguai visto do lado Argentino.

Sem palavras...


Eu, a Bê, Daniel, Ana Paula, Edite e Lauro. O grupo todo.
Seguimos em frente em direção a Alba Posse, que fica na divisa com o Brasil às beiras do rio Uruguai, onde pretendíamos cruzar o rio para sairmos da Argentina em nosso caminho de volta para casa. Ainda passamos em Santa Rita, que é uma cidade muito pequena que nos impressionou muito pelo sua organização e limpeza. Um lugar realmente impressionante. Cabe ressaltar que a Província de Missiones é muito pobre e nos pareceu ter pouca produção, mas ainda assim é o celeiro da Erva Mate da Argentina, que é um produto muito valorizado, já que os argentinos consomem muita erva, nos mesmo moldes que observamos no Rio Grande do Sul.
Paso Internacional - Alba Posse/Porto Mauá
Quando chegamos no Porto em Alba Posse ficamos sabendo que teríamos que esperar até as 14h30, quando deveria sair a primeira balsa que cruzaria para Porto Mauá-RS, Brasil. Ponderamos se não seria melhor seguirmos em frente para qualquer outro lugar, pois o nosso destino do dia que era Ametista havia acabado de ir para o vinagre. O Daniel e a Ana que já haviam ido para lá, nos disseram que a única coisa que tinha lá para ver era o Museu da Ametista e uma visita que eles fazem às minas. Devido ao horário que a balsa iria sair nós não conseguiríamos mais chegar lá a tempo de realizar as visitas, assim sendo decidimos que iríamos a outro lugar. O Daniel havia comentado também que em Iraí-RS havia um hotel muito antigo mas confortável e que a cidade era uma Estância Termal e que seria interessante conhecermos. Como estava em nosso caminho de volta decidimos que esse passaria a ser nosso novo destino.
Bê e Edite  na fila da imigração e a Laura, nossa amiga de fila.

Muvuca no Porto para o embarque na Balsa.

Durante aquelas duas horas e meia de espera conhecemos algumas pessoas muito interessantes. Uma delas foi uma família que tinha uma filha de 11 anos, chamada Laura, que era super especial, muito inteligente e comunicativa, na verdade a família era muito legal. Tinham ainda 2 ônibus com muita gente. Quando chegamos tinha apenas dois carros e nós tomamos um chimarrão, almoçamos uma milanesa em um restaurante muito simples ao lado da rampa do porto, mas que estava muito bom. Claro que não dispensamos as empanadas argentinas, na verdade em todas as refeições que fizemos comemos empanadas pois elas são muito especiais. Conforme o tempo foi passando a fila de carros e pessoas foi ficando muito grande e não pudemos antecipar nem a compra da passagem para a balsa e nem os serviços de aduana, pois abriria somente às 14h00 mesmo. Como o movimento foi ficando grande, a situação foi ficando tensa e complexa pelas filas, mas acabou que passamos tranquilos, mas teve gente discutindo e brigando, coisa de bichos humanos.
Duas irmãs, ruivinhas de ohos muito azuis, filhas de um sueco.

A travessia foi muito legal, mas eu estava meio que empenhado no caminho que teríamos que tomar do outro lado para que pudéssemos seguir em direção a Iraí pelo caminho mais adequado. Depois de alguma surra que levei do GPS acabou que chegamos em um acordo quanto ao caminho e aos pontos intermediários para que a nossa viagem fosse mais direta.

Galera na balsa, durante a travessia.

Nós na Balsa atravessando para Porto Mauá, no Brasil.
O embarque na Balsa, do lado argentino foi tranquilo pois a rampa é de concreto e tudo muito arrumado, mas quando chegamos do lado brasileiro a coisa foi diferente pois a rampa é de terra mesmo com pedras. Fiquei preocupado pela Bê, mas que nada ela acelerou, jogou algumas pedras para trás e foi embora rampa acima, parando na aduana para controle. Eu me concentrei em mim na minha moto, pois ela foi e eu é que poderia me ferrar, pois a rampa era meio chata devido às pedras soltas, além de uma quantidade grande de pessoas caminhando na subida da rampa.

Na Aduana do Brasil apenas me perguntaram se eu estava levando alguma mercadoria ou somente roupas, eu disse que somente roupas e ele disse para seguir em frente. Todos paramos na rua asfaltada que dava acesso ao Porto Mauá e ficamos esperando para agrupar as quatro motos. Quando o Lauro chegou com a Edite, depois de ser liberado pela Aduana seguimos em frente. Fomos a 80km/h pois haviam nos dito que como era final de feriado e devido à Festa de Oberá, tinha muita gente viajando e os guardas da PRF deviam estar com certeza fazendo controle de velocidade com radar. Como estávamos andando muito tranquilamente, nem precisamos nos cuidar muito, mas é que andar a 80 é duro, normalmente a gente anda a 100km/h.
Já na estrada do Brasil indo para Iraí - RS.
Quando já estávamos relativamente perto de Iraí começaram uma série de relâmpagos e o tempo estava indicando que não chegaríamos a Iraí, embora faltasse somente uns 40km. Acabamos por parar em um posto que tinha uma cobertura em um restaurante para colocarmos roupas impermeáveis. Tudo indicava que estávamos chegando em casa, pois já estava começando a chover.

Assim que paramos uns 3 nordestinos, do tipo vendedores de redes, que estavam no restaurante, vieram ver as motos e conversar conosco. Um pessoal muito bacana e conversador. Um deles já tinha andado por tudo na Argentina e citou um monte de locais que nós também havíamos passado. Foi uma boa conversa enquanto colocávamos as roupas, nos despedimos e seguimos em frente pois a chuva estava começando.

Havia uma dúvida quanto ao fato de pegarmos chuva ou não, tanto que alguns nem queriam colocar a capa de chuva, mas ao final todos colocamos. Foi um acerto pois a garoa foi aos poucos aumentando. O interessante é que meu GPS indicava que o pôr do sol deveria acontecer às 18h23 e embora ainda fosse 17h30 já estava muito escuro. Aos poucos a chuva começou e a pista foi ficando molhada. Aproveitamos para andar um pouco mais rápido enquanto o chão ainda estava seco o que foi um acerto, pois quando a chuva começou de verdade, o que era uma tempestade embora sem muito vento, pois combinei com o pessoal que no caso de ter vento forte teríamos que parar, pois as coisas voando se tornam um grande inimigo dos motociclistas.

Quando a chuva caiu de verdade, com muitos relâmpagos e água que Deus mandava, como costumava dizer meu pai, a coisa ficou complicada, pois escureceu completamente e a estrada estava muito mal sinalizada, ou seja, para achar por onde a estrada ia era uma luta. Eu ia na frente do grupo pensando que os demais que estavam atrás, mais precisamente a Bê dependia do meu caminho. Se eu fosse para fora da estrada com certeza ela e mais alguém acabaria indo junto, pois ninguém devia estar vendo coisa alguma. Assim fomos inda a cerca de 50 a 60 km/h, que era a velocidade compatível com aquelas condições, aguardando que a situação melhorasse, mas que nada a coisa estava mesmo feia e cada vez pior.

Comecei a controlar no GPS a distância que ainda faltava para chegarmos em Iraí, me lembrando que um motociclista de verdade jamais se preocupa com esse assunto, pois nunca esta focado no quanto falta, mas sim em desfrutar do momento que está na estrada, mas naquela situação não tinha como não estar focado na distância que faltava e o pior não era pequena, faltava cerca de 20km para rodar no momento em que a coisa começou a ficar preta mesmo.

Fomos indo e chegando cada vez mais perto, como era de se esperar, claro, mas acontece que demorou muito mais do que normalmente, tendo em vista a questão emocional em que nos encontrávamos. Quando finalmente chegamos no trevo da entrada de Iraí eu fiquei mesmo muito feliz, pois todos estávamos ali depois de uma verdadeira saga. Parabéns à todos, Bê, Daniel e Lauro, somos vitoriosos e inquestionavelmente excelentes condutores de motocicletas, essa foi uma das maiores provas de habilidade e controle, tanto emocional quanto técnico.

Entramos na cidade e comecei a ponderar de o tal do Hotel Termas, para onde estávamos indo, iria ter uma rampa de acesso daquelas super íngreme e de paralelepípedo ainda por cima, coberta de limo, pois nos últimos hotéis onde fomos aconteceu de ser assim. Pensei comigo:"- Se for assim não quero nem saber, vamos para um outro Hotel."

Fiquei feliz por ver que Iraí é uma cidade até que grande e que tem muito hotéis. O Termas estava lotado com uma excursão de japoneses e não tinha nenhum quarto livre, o que acabei achando bom pois a diária era de R$180,00 e no São Luiz, onde ficamos era R$120,00, sendo que a qualidade do hotel era a mesma, inclusive com garagem incluída no preço da diária.

Paramos as motos na garagem e pegamos nossas bagagens subindo as rampas até a recepção em baixo da chuva mesmo, mas tinha dado uma aliviada. Depois que pegamos as chaves dos quartos e subimos para trocar as roupas, tirando os impermeáveis inclusive, a chuva voltou a apertar muito, caindo novamente um toró (palavra usada em homenagem aos guaranis) daqueles. Coloquei uma calça jeans e um chinelo e fomos ao restaurante antes que acabasse a janta, por isso não poderíamos tomar banho antes do jantar que era servido até as 20h00.

Tinha canja, arroz, feijão, bife acebolado, frango ensopado, macarrão, ovos fritos, saladas e um café colonial, ainda por cima. Coisa mesmo especial. Comemos muito, todos comemos demais, eu não fui excessão, mas a digestão até que foi boa. Depois da janta e de tomarmos 2 jarras de um vinho que era de matar, mais parecia um suco de uva com álcool, pelo menos não era doce, o que já era alguma coisa, ficamos de papo furado e combinando como seguiríamos no dia seguinte e até onde iríamos juntos e a partir de onde cada um teria que tomar seu caminho.

Vimos que eles estavam mais perto de casa do que eu e a Bê, pois teríamos uns 100km a mais para rodar do que eles. Ainda bem que a previsão era de que o tempo melhorasse ao longo do dia. Bem ainda com chuva mas depois melhorando já seria uma boa notícia. No dia seguinte quando fomos pagar a conta vimos que o custo da janta acabou ficando por R$15,00/pessoa. Um preço impressionante para o que foi servido, incluíndo o vinho. Desta forma recomendamos a todos que passarem por Iraí o Hotel São Luiz, os donos ficam lá e atendem, de forma que fomos muito bem tratados.

Hora de dormir e descansar, pois no dia seguinte teríamos ainda um dia inteiro de prazer nas estradas, quem sabe sem chuva o que seria ainda melhor, mas ao menos a gente poderia enxergar a estrada, o que prenunciava que seria uma aventura agradável.

Dia 5 - 08/09/2015 - Iraí - Florianópolis - 642km



Nosso caminho para casa no último dia. Claro que seguimos pela rota indicada em azul no mapa.
Saímos de Iraí pela manhã, pois combinados de sair às 8h00 da manhã, teríamos um dia longo de estradas perigosas pois agora rodaríamos no Brasil somente, quem já rodou na Argentina sabe que embora eles não sejam lá muito cuidadosos no trânsito e que em algumas estradas andem rápido demais, tem muito pouco movimento na Argentina. Já no Brasil o movimento é muito intenso.

Havíamos planejado de seguirmos juntos até a BR-153, onde o Daniel e o Lauro seguiriam para o norte, passando por General Carneiro, União da Vitória, São Mateus, Lapa e Curitiba e nós continuaríamos pela BR-282 até Florianópolis.

Realmente foi um dia difícil, pois começou com chuva, como era esperado. Quando chegamos em Chapecó, demos de cara com o trânsito parado, fomos passando a fila com as motos, tomando todo o cuidado e depois de vários quilômetros nos deparamos com tudo parado. Era um acidente e a pista estava totalmente fechada já ha duas horas. Um piloto de helicóptero da Polícia Civil havia falecido no acidente, pois um caminhão desgovernado tinha rodado na estrada e prensado a viatura em que ele estava contra o barranco. Uma catástrofe mesmo. Ainda tinha envolvido mais dois outros carros no acidente, entretanto parece que o único óbito foi o do piloto mesmo.

Não tinha como passar e ficamos ali esperando a liberação, o que acabou demorando ainda mais de meia hora. Retiraram um dos carros do acidente até que chegou o IML para retirar o corpo e liberar a estrada para os demais. Pedi a Deus pelo policial que havia ido a Chapecó para a festividade de 7 de Setembro e que acabou assim de uma forma tão estranha. Pensamos ainda que qualquer um de nós poderia ter sido coletado em um acidente como aquele, em que o caminhão simplesmente atravessa a pista em uma curva não deixando simplesmente nenhuma alternativa para escapar da situação. Que Deus o tenha!

Fomos em frente passando por Xanxerê e ao longo de todo o caminho encontramos uma quantidade enorme de unidades da BRF, onde trabalha o Conrado, meu filho mais velho, bem como muitos caminhões da Aurora também. Aquela região é realmente o seleiro de frango do Brasil e que exporta muito produto de frango e porco para o mundo todo.

Chegamos no entroncamento da 282 com a 153 já eram 12h40 e paramos na entrada de um restaurante, que tem no entroncamento, para nos despedirmos e agradecermos pela bela companhia deles, em nossos dias. Eles seguiram para o norte e eu e a Bê seguimos para o leste. Sendo que graças a Deus já não estava mais chovendo. Não almoçamos para ganharmos tempo na estrada, pois tinha boa possibilidade de estar chovendo no litoral.
Bê comendo um pastel de banana, próximo ao cruzamento da estrada que vai para Urubici.

Demos uma parada para abastecer e comer um pastel, na verdade comemos somente pasteis naquele dia de retorno. Paramos novamente para abastecer quando estávamos no entroncamento com a SC-416, rodovia que sai para Urubici, onde enchemos os tanques e comemos mais um pastel e descemos a serra. Nos pontos mais altos as temperaturas estavam muito baixas, coisa de 12 graus.

Quando chegamos na região de Termas de Imperatriz começou a chover, paramos para a Bê colocasse o impermeável que ela havia tirado, a chuva foi forte mas durou pouco e quando chegamos na BR-101 já não estava mais chovendo. Chegamos em casa às 20h00, cansados mas muito felizes com o que conquistamos neste feriado da Pátria. Um bocado de história e muitos quilômetros rodados em uma companhia espetacular da Bernadete e do Daniel e Ana Paula e do casal Lauro e Edite, todos pessoas muito especiais, com quem já tivemos a felicidade de rodar muitos milhares de quilômetros pelo Brasil e pela America Latina incluíndo a Argentina e o Chile.

Para a Bê esta foi a segunda experiência em viagens internacionais, a primeira para o Uruguai e esta para a Argentina. Agora falta o Chile e depois só Deus sabe o que o futuro nos reserva.

Até a próxima aventura meus queridos companheiros de estrada.

Cansados, porém muito felizes.