Imagens do Fin del Mundo

Imagens do Fin del Mundo
Eu estive lá. De frente para a vida!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

E depois da Capivara ....

Antes que me pergunte: Eu não comi a Capivara. Não foi por preconceito não, mas é que não consegui trazer a dita cuja, por razões que me pareceram no momento mais do que óbvias. Nem o Luciano tinha espaço no carro para trazer e, na verdade, confesso que nem eu estava muito a fim de ver a danada na minha frente. Coitada, ela havia morrido no acidente e aí a gente vê que a vida é mesmo muito frágil, tanto a dela como a nossa.

Minhas prezadas memórias, que me acompanham ao longo da minha jornada, em alguns momentos de forma mais sutil, entretanto, em alguns outros momentos de forma muito veemente.


Assim tem sido comigo e, imagino que com todos nós, em alguns momentos temos um período um pouco mais importante. Momentos estes que julgamos, quase sempre, serem negativos. Como compreender os nossos caminhos se ao longo desta jornada tudo aquilo que a princípio parece não ser bom acaba por ser na verdade ótimo, entretanto, apenas depois do passar o tempo é que podemos compreender isso.


Por isso peço a Deus que me dê sempre paciência para esperar até que eu possa compreender o verdadeiro motivo de minhas vicissitudes, além, é claro, de sabedoria para poder compreendê-las.
Devo confessar que me falta mais sabedoria do que vicissitudes.
Hahahaha... Rir é sempre um ótimo remédio, ou pelo menos, paleativo.


Assim, em nossa viagem até o Uruguai, Punta del Este, eu e a Bê juntamente com o Luciano, Lucianinho e Cíntia (não necessariamente nesta ordem....), quando estávamos voltando, acabamos  atropelando uma capivara, na BR-116, uns 10 km ao sul de Pelotas às 22:25 horas do dia 23 de Abril de 2011. Mais precisamente, estávamos a 1,5 km ao sul da praça de pedágio na BR-116, na cabeceira de uma ponte sobre um pequeno lago artificial.


Dali, a ambulância da concessionária me levou até a Santa Casa de Pelotas e o Dr. Teixeira pediu algumas radiografias, me fez uma bota com muita competência, e me disse que não teria outro jeito, teria que fazer uma cirurgia para reconstrução de várias peças do meu pé, mais precisamente calcanho e tornozelos.


No Hotel Curi, em Pelotas. Com o pé na tala, cadeira e Cara de quem passou
a noite bem mais ou menos mesmo.

Como ficou a moto. Apenas um pequeno amassado no mata-cachorro,
pedaleira e porta-luvas.

Dá para ver que o estrago maior foi no meu pé mesmo.


Dormimos em Pelotas no Hotel Curi. Depois de uma noite nada boa para mim, que já dava o tom para os dias que se sucederiam, saímos de carro em direção a Porto Alegre.

Eu acho que eu devia estar meio ruim da cabeça pois estava achando que a idéia de seguir de carro até Curitiba não ruim. Pode uma coisa dessas?

Graças a Deus tinha mais gente no carro e até mesmo o Lucianinho sabia que eu não deveria ir de carro junto com eles até Curitiba. A Bê e o Luciano trataram de fazer contato com a irmã do Luciano, a Juliana, que trabalha em uma empresa de turismo, para que ela nos arranjasse uma passagem de avião de Porto Alegre para Curitiba. Ela acabou arranjando a passagem, graças a Deus! Mas o mais importante é que eu já estava preparado para o pior, que seria vir de carro até Curitiba, a bagatela de 1.200 km sentado no banco do meio atrás do carro com a perna esticada sobre o apoio de braço entre os bancos dianteiros da Sportage.

Não passou muito tempo, ainda nem estávamos em Porto Alegre a a minha bunda já estava reclamando da dureza do assento do meio no banco de trás.

Chegamos em Porto Alegre e eles nos deixaram no aeroporto. Arranjaram uma cadeira de rodas para mim e lá fomos nós procurar por um lugar para ficar esperando, pois ainda não eram 5 da tarde e o vôo sairia de lá umas 10 da noite. Fomos até a sala VIP da TAM e nos instalamos. O rapaz que trabalhava lá nos atendeu muito bem e se preocupou em nos acomodar. Fiquei a princípio na cadeira de rodas mesmo, mas depois que a Bê nos arranjou um lanche para "almojantar", acabamos indo para o sofá. Lá eu pude me esticar, deitei mesmo. Até que fiquei relativamente bem. O pé estava ainda amortecido embora doesse um bocado ainda, eu estava tomando remédio para a dor e tudo parecia estar indo mais ou menos bem.

A idéia era chegar em Curitiba e nem ir para casa, ir diretamente para o Hospital Vita, deveríamos chegar lá pela meia-noite para ver se conseguia um internamento. Na verdade eu não estava nem um pouco a fim de passar mais uma noite sem nenhuma infra-estrutura, em casa com o pé daquele jeito.

Foi o que fizemos. Após a consulta o médico que estava de plantão me internou e na manhã seguinte teria a consulta com o cirurgião, ele confirmou o que o médico de Pelotas já havia me dito. O meu caso era cirúrgico e não tinha alternativa. Era uma cirurgia complexa e com uma recuperação ainda mais complexa e demorada, sendo que eu teria que ter muita paciência durante a recuperação.

Lá fui eu para o quarto e, como a cama de hospital levanta a parte dos pés, foi muito melhor do que ficar em casa, ou ainda, muito melhor que a noite anterior que eu havia passado no Hotel Curi em Pelotas, menos por causa do hotel e mais por causa do meu pé mesmo. hehe.


Depois de uma noite difícil, nem tanto como a anterior, mas ainda assim muito dura, na manhã seguinte colheram sangue para exames, conversei com o médico, que me informou que a cirurgia seria às 13:00 e que eu teria que ficar em jejum completo, devido à anestesia, ainda veio uma médica anestesista que me fez um monte de perguntas, alergias, etc.


Bem, quando chegou o horário vieram ao quarto me buscar e lá fui eu de maca, deitadão, vendo aquelas luzes no teto, que os filmes mostram tão bem. Tinham me dado um sonífero no quarto e a médica anestesista havia me informado que eu iria sentir sono, pensei comigo que devia ser o "dorminide", acho que é este o nome, e fiquei atento para ver se dava sono. Sabe que não vi mais nada, nem sequer senti sono, dormi direto.


Bem, nada aconteceu até que acordei. Estava na sala de cirurgia e tinha um campo armado em forma de leque a partir de minha cintura e vindo em direção de minha cabeça, só que alto. Eu tinha visão boa, estava de lado e fiquei ali quieto escutando e sentindo o balanço do corpo provocado pelo que quer que estivessem fazendo com o meu pé. Não sentia dor alguma. Até poderia dizer que eu estava em uma situação bem confortável, mais do que eu poderia imaginar.


Aí o Dr. Bruno Moura, médico que estava me operando, falou comigo: - E aí Luiz, como é que está?, e eu respondi: - sabe que aqui está tudo bem mas eu estou curioso para saber se aí está tudo bem.
Ele riu e me disse que estava tudo bem, mas que a coisa tinha sido mais difícil do que ele inicialmente imaginava que deveria ter sido.


Deve ter sido mesmo, porque demorou para eu chegar ao quarto, cheguei somente às 7 da noite. Sabe que depois deste momento de muita lucidez, na sala de cirurgia, acho que dormi novamente pois quando voltei a ter consciência já estava no apartamento. Me lembro que eu estava me sentindo excessivamente animado, muito satisfeito, diria que quase em euforia. Provavelmente resultado da anestesia.


Assim foi durante estas primeiras horas quando a Bê estava no quarto, meu pai foi me ver, meus filhos também foram. Tudo estava muito bem. Dormi, acho que já era umas 11 da noite. Acordei com muita dor no pé à 1:30 da manhã.


Aí a coisa ficou preta. Chamei a enfermeira para pedir um remédio para dor e ela me disse que o médico tinha deixado receitado um remédio para esta situação. Fiquei mais tranquilo, já que o meu problema seria resolvido.


A enfermeira demorou uma eternidade para retornar ao quarto, devido à dor que eu sentia me pareceu que tinha passado uma semana, quando ela voltou e me aplicou uma injeção no tubo do soro que estava no meu braço, diretamente na veia.


Aguentei firme, pois não tinha o que fazer mesmo, gritar não adiantava, nada adiantava a não ser esperar que a dor passasse com o medicamento. Esperei.... Esperei muito, tinha passado já meia hora quando chamei novamente a enfermeira. Ela chegou e eu disse que estava com uma dor do cão e que o remédio que ela tinha me dado não tinha feito efeito nenhum.


Aí ela me disse que poderia aplicar outra dose apenas depois de 2 horas pois era morfina e não podia ser aplicado em menos que este tempo. Que coisa!!!!! Foi de lascar até que passaram 2 horas e ela veio me aplicar outra dose. Não adiantou nada novamente. Dor e mais dor até que novamente ela veio, depois de mais 2 horas e aplicou outra dose, eu já estava preocupado que não adiantaria nada aquelas injeções. Fiquei me mordendo de saudade da anestesista e queria chamar ela de volta, pois a anestesia funcionou que foi uma beleza durante a cirurgia. Lá pelas 8:30 da manhã a dor começou a ceder e eu consegui descansar um pouco, inclusive tomar um cafezinho, mesmo que sem muita vontade.


O médico veio me visitar, contei para ele o que tinha passado na noite, ele me disse que era assim mesmo e que eu teria que ter muita paciência durante o período de recuperação que estava começando. Me disse que eu não poderia sair da cama em hipótese alguma, para nada. Que devia mexer o pé e que estava liberado para comer o que quisesse. Bem, lá se foi o dito cujo.
Olha só o estrago. Nesta foto ainda tem os pontos.

A mancha rocha que ficou na sola do pé. A pancada foi grande.


Fiquei ali, pacientemente vivendo o que eu tinha que passar e pensando sobre o que tinha acontecido e se tinha um porque de tudo aquilo. O ser humano deve mesmo ter algum problema, pois está sempre buscando uma razão para as coisas e o que é pior, acaba achando uma razão para as coisas. heheh.


Assim foi comigo também. Eu aprendi que não deveria andar de noite em estradas com a motocicleta, isso é mesmo muito perigoso pois os animais acabam saindo muito mais durante a noite do que durante o dia, o que sem dúvida aumenta em muito a chance de ter algum acidente com eles durante a noite. Outro fator é que tem menos movimento na estrada durante a noite o que, devido ao maior silêncio na estrada, também acaba senão atraindo, pelo menos afastando menos os animais silvestres.


Além do que, durante a noite, mesmo que aquela fosse uma noite muito limpa, clara, sem movimento de veículos, estrada bem sinalizada com olhos de gato e pista em ótimo estado de conservação e ainda por cima os animais tem uma pelagem que os camufla muito bem, graças a isso eles sobrevivem em meio aos predadores. Quando eles saem da proteção da mata eles entram na estrada como se fosse um campo e, dessa forma, se sentem ameaçados por estarem em uma área aberta e correm no trecho.


Ainda bem que não vi a capivara, pois se tivesse visto, em uma fração de segundo eu poderia ter a ideia de desviar ou sei lá o que. Aí eu não sei o que teria acontecido. Pensei também que se eu estivesse com os pés nas plataformas a capivara teria batido no mata-cachorro e meu pé ficaria livre do acidente. Logo depois pensei também, como engenheiro que sou, que se meus pés estivessem em outro local a resistência do ar teria sido menor também e aí nós poderíamos ter chegado ali naquele ponto algum instante antes o que teria resultado no impacto da capivara com a roda da moto e nós poderíamos ter saído rolando pela estrada com consequências desconhecidas.


Depois de pensar muito cheguei à conclusão de que aconteceu o que tinha que ter acontecido e que as consequências do ocorrido foram mínimas, ou seja, é como se não tivesse acontecido nada, pois a Bê, que estava na garupa, não teve nenhum problema, nada nada, só bati com a perna na ponta do bico da bota dela e ela ficou sentindo um pouco a ponta dos dedos, e isso ainda nem durou muito tempo, nada mais.


Sei que durante os dias que fiquei no hospital, que foi de segunda, dia 25/04/2011, quando fiz a cirurgia, até na sexta-feira, dia 29, e ainda mais durante muitos dias que fiquei em casa e poderia dizer que até hoje, pensei e penso ainda sobre as lições que tive que aprender de forma drástica.


- Andar à noite não; 
- Andar em velocidades muito altas, não; 
- Andar de moto novamente, assim que possível. 


Estou morrendo de vontade de andar, mas ainda não sinto que meu pé esteja me dando segurança para isso, pois ainda dói muito, sendo que estou sem muletas apenas a 4 dias. Logo logo chegará o dia da primeira voltinha.


Iniciei a fisioterapia já no primeiro mês, mesmo que ainda fosse muito difícil ir até a clínica. Mas quanto antes se começa maiores e melhores os resultados. De fato foi bom, embora não pudesse apoiar o pé, fiz uma série de exercícios sem carga mas que começaram a dar mobilidade às articulações do pé.


Neste período inicial eu acabei sofrendo duas quedas, na primeira quebrei o dedo da aliança e no segundo, por muita sorte mesmo, não aconteceu nada. Aí entendi que a pior parte de recuperação quando a gente fica sem um dos pés para pisar no chão, é que a pessoa cai muito e acaba se quebrando toda, ou seja, o primeiro acidente que originou toda a história acaba sendo secundário.


Durante minha recuperação tive que ficar 66 dias sem pisar no chão, esperando que os ossos se solidificassem. Depois desses 66 dias, o médico me disse que poderia por o pé no chão. Primeiro apoiando 30% do peso, depois evoluindo para 50% do peso, ou seja, utilizar o pé e uma muleta no braço oposto. Me deu 2 guias para fisioterapia nesta linha. Ele chamou de treino de marcha com 30% da carga e depois com os 50%.


Com o início do apoio do pé no chão, mesmo que fosse apenas encostando ele no chão enquanto dava os passos com as muletas, o primeiro fato foi que parei de cair pois aumentou em muito o meu equilíbrio, mas muito mesmo, é sensível a diferença. Depois que pude apoiar o pé no chão caí somente no box do banheiro, principalmente por culpa do pé do banquinho de plástico que dobrou, e que por muita sorte também não me aconteceu nada.


Mas muito da minha recuperação e principalmente do meu alto astral, que sem dúvida me ajudou, e ainda tem me ajudado muito na recuparação, foi a presença de meus amigos, grande e sinceros amigos que a vida me deu e que mais recentemente esta maravilhosa marca de motocicletas "Harley Davidson" complementou. Estes amigos estiveram sempre presentes e próximos de mim, sempre com uma palavra de otimismo e uma história de recuperação própria ou de alguém próximo a eles.


Assim recebi convites múltiplos para participar de passeios, embora tanto eu como eles sabíamos que não daria para ir, pois ainda estaria muito cru para começar a andar com a moto, mas ainda assim faziam planos como se fosse dar certo. Sempre deixando para a próxima oportunidade, e ainda com a presença constante deles em minha casa. 


Foi realmente muito positivo isso. 


MEUS AMIGOS! 
MUITO OBRIGADO POR VOCÊS EXISTIREM E ESTAREM PRÓXIMOS A MIM NESTE MOMENTO EM QUE PRECISEI DE VOCÊS.
AMO MUITO TODOS VOCÊS!


Agora tenho ainda mais certeza de que sempre vou precisar de vocês. Estamos ligados para sempre. Podem ter certeza disso.


Teria ainda tantas coisas para contar, como as noites em que acordei me sentindo muito mal e graças a um floral chamado "Rescue", consegui superar bem aquela sensação de ansiedade resultante do trauma físico e psicológico provocado pelo acidente e de suas consequências em mim. Obrigado Daniel por ter me dado esta valiosa indicação.


A Bê merece um agradecimento especialíssimo, em ter me aguentado, pois houveram muitos dias em que eu estava com os "nervos a flor da pele" e ela teve bastante paciência comigo. Houveram momentos em que a coisa azedou um pouco, mas faz parte, acho que foi muito mais tranquilo do que seria se não nos gostássemos tanto, quer dizer, falo da minha parte, e agradeço a ela pela parte dela.
Ao final estamos felizes com o que temos vivido, mesmo considerando os acidentes de percurso, ao menos eu penso assim. hehe. Foto tirada pelo Guma no Café Dobrucki, Curitiba.


A todos em minha casa que também tiveram que se adaptar à minha presença mais constante, pois na  nunca passei muito tempo em casa com a família, pois nem sequer férias nos últimos anos pude tirar.


Foi e tem sido ainda uma experiência e tanto, espero estar cada dia podendo aprender um pouco mais para me tornar um pouco melhor a cada dia.