Imagens do Fin del Mundo

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Eu estive lá. De frente para a vida!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O Poldy se foi



O tempo está passando e que os companheiros já começam a retornar.

Hoje pela manhã, enquanto via as novidades nos grupos de WhatsApp, recebi um grande baque! A notícia postada por uma amiga comum, informando que o Poldy havia falecido. Que coisa inacreditável. Abri o FaceBook imediatamente e busquei pela página da Magaly, irmã dele. Eis que infelizmente estava lá uma mensagem de despedida. Que tristeza!

Fomos amigos desde os 11 ou 12 anos de idade. Lá pelos idos de 1967. Quando andávamos juntos. Eu o Zani e o Poldy éramos muito companheiros. Participávamos do Grupo da Mercês, pois os nossos pais haviam feito Cursilho de Cristandade juntos e acabamos nos aproximando através dos movimentos religiosos.

Os anos foram se passando, e nos tornamos jovens juntos e sempre compartilhando momentos. Até que quando tínhamos uns 16 ou 17anos, a família dele se mudou para Belo Horizonte.

O pai dele era na época exilado político do Paraguai, que vivia a ditadura do General Stroessner. Ele até fazia parte do governo até que o General decidiu não sair mais do poder e implantar um regime de excessão. Como ele discordou daqueles fatos teve que fugir do país. Primeiro para a Argentina e depois para o Brasil. Chegando aqui em Curitiba onde pediu asilo político e foi trabalhar na COPEL, que na época estava construindo a Usina Hidrelétrica de Capivari-Cachoeira. Parece que ele trabalhava na área de compras.

Lá pelo ano de 1970, me lembro que me convidaram para ir juntamente com eles até Assunção. O pai do Seu Leopoldo estava muito doente e ele conseguiu uma autorização especial para visitar o pai. Foi a família toda e eu junto. Todos nos acomodamos em uma Kombi que ele tinha. No total éramos em 13 pessoas, sendo que alguns de nós ainda eram pequenos.

Foi o casal, Leopoldo e Gladys, as 2 tias velhinhas que moravam com eles, os 7 filhos e eu. Os menores se deitavam sob os bancos da Kombi para dormir, pois o caminho era muito longo. Depois que entramos no Paraguai, foram feitos os tramites de fronteira e me lembro que o Seu Leopoldo me perguntou porque meus pais haviam feito a autorização em nome da Dona Gladys e não no nome dele para eu ir junto na viagem. Respondi que não sabia, mas que talvez ele acabasse não podendo ir e aí teria que estar em nome dela. Mas na verdade eu não sabia muito bem. Meus pais tiveram muita coragem em dar a autorização pois, o Paraguai vivia uma ditadura e ele era um exilado político, muito perigoso para o regime, pois era o Presidente de Partido Colorado, no exílio.

Notei que depois que cruzamos a fronteira, a vegetação mudou muito. Naquela época ainda não haviam plantações de soja e milho por todo o interior do estado do Paraná e nem no Paraguai. A vegetação nativa ficou muito diferente. Logo adiante, paramos em uma cidade, que na época era muito pequena, chamada Caaguazú, que é um nome em Guarani. Assim tive os meus primeiros contatos com o povo paraguaio. Era a família de parentes do Seu Leopoldo ou da Dona Gladys, não saberia precisar.

Na casa do Leopoldo eu já estava me habituando a ouvir o idioma espanhol, assim como o sotaque típico do paraguaio, que puxa um pouco pelo Guarani. Aprendi então que o Paraguai tinha dois idiomas oficiais. O Espanhol e o Guarani. Para mim isso foi uma surpresa. Mas os filhos do casal não sabiam falar Guarani, entretanto o Seu Leopoldo e a Dona Gladys, assim como as duas tias que com eles viviam, falavam o Guarani quase sempre. Apenas quando queriam que as crianças entendessem que o que estava sendo dito é que falavam em Espanhol. Assim fui aprendendo a entender o espanhol e também a falar alguma coisinha.

Foi uma viagem que durou 30 dias, ou seja, demorou um tempão. Naqueles dias, aprendi a compreender o castellano, que eu creio que seja oriundo de Castilla - España, além de me apaixonar pelo Paraguai. Mais pela capital do que por Ciudad del Este, que naqueles dias, se chamava Puerto Stroessner.

Quantas boas lembranças tenho dele. Desde a calça jeans, marca Lee, na época importada dos USA, que a mãe dele havia mandado aumentar dois triângulos na lateral. Isso deixou a calça com uma boca sino muito legal. Na época isso era moda, mas uma calça daquelas era coisa muito rara.

Meu maior sentimento é perceber que o tempo está passando e que coisas importantes em minha vida estão ficando para trás. Isso me acertou em cheio nesse ano de Pandemia. Como se já não bastasse a minha tia Alice, de Ribeirão, que se foi há pouco mais de 2 meses, agora isso.

Aos poucos vamos sabendo, na carne, que a vida não é eterna e que o tempo passa. Pior que isso. Passa rápido demais. Quando eu era criança ouvia as pessoas dizerem isso e achava que era mesmo conversa de velho, mas agora, vendo o que vejo e como vejo, realmente eles tinham razão.

Hoje perdi um Irmão. Com I maiúsculo mesmo.


Essa foto representa muito bem a alegria que ele emanava!

O Poldy, eu e o Zani. 

Não tenho como expressar aquilo que estou sentindo, mas independentemente disso, senti que precisava deixar isso aqui registrado, entre as passagens importantes da minha vida. 

Nada a fazer, a menos de saber que a vida simplesmente segue sempre em frente. 

Assim que é! 

Assim que sempre foi!

Assim que deve ser!

Adeus Poldy! Quem sabe algum dia não poderemos voltar nos encontrarmos?

Até lá!