Imagens do Fin del Mundo

Imagens do Fin del Mundo
Eu estive lá. De frente para a vida!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagem ao Chile - 2011/2012



Viagem ao Chile

Nós planejamos muito, comemos muito mais e bebemos outro bom tanto. Eis que finalmente chegou o dia 17 de Dezembro de 2011. Mama mia! Que data mais esperada. Quanta expectativa e quantas coisas todos nós teríamos a aprender nestes breves 23 dias de viagem, tanto da paisagem quanto das nossas coisas mais internas e dos relacionamentos.

De toda a turma, os que já haviam ido uma única vez, eramos eu e a Bê, conforme descrito neste Blog entre Dezembro de 2009 e início de 2010. Daquela vez, apenas 13 dias, mas agora teríamos 23 dias maravilhosos para nos cansarmos, brigarmos, comermos carne na Argentina e Uruguai, frutos do mar no Chile. Yuhuuu! Dia da PARTIDA!


Trecho Percorrido – Somente em Rodovias: 8.020km


O mapa acima representa todo o trecho percorrido durante os dias que eu e a Bê rodamos. Precisamos esclarecer que o trecho rodado pelo restante do pessoal é diferente do nosso, uma vez que eles seguiram em frente a partir de Posadas em direção ao Chaco argentino para Joaquin V. Gonzales, depois Salta, San Pedro de Atacama, Taltal, La Serena e finalmente Santiago no Chile onde voltamos a nos encontrar, enquando nós retornamos para Curitiba devido aos problemas de saúde de meu pai.
 
Dia 1: 17/12/2011 – Curitiba, PR – Posadas, AR - 880km


Era sábado e marcamos de nos agruparmos todos no posto BR que tem ao lado da Havan na saída de Curitiba para Ponta Grossa. Incrível! Todos chegaram na hora, com exceção do Marquinho e Isnarde que atrasaram um pouquinho só. O engraçado é que o Marquinho é o mais pontual, aquele que acorda antes do sol. Mas parece que o Isnarde foi quem atrasou. Nenhum problema, todos com o tanque das motos e, principalmente, com a mochila cheia de sonhos. Além de algumas roupas, remédios, ferramentas, Tyre Repair, etc. Mas o principal não se podia ver nos alforjes, ele estava estampado no rosto, nos olhos das pessoas. Que imagem bonita. O paraíso é assim! Chega de frescura.
Saímos em direção à Serra de São Luis do Purunã, devia ser umas 6:20, logo após o pedágio se juntaram ao grupo o Áureo e a Marta que moram em Araucária. Perfeito! Eles estavam lá. Seguimos até Guarapuava, onde paramos para colocar gasolina nas motos e beliscar alguma coisa, são 250km. Havíamos nos programado para parar a cada 250km aproximadamente para que a viagem rendesse e não nos cansássemos tanto.

Ninguém vai acreditar, mas o Fernando Escorsin com a Marillys e mais alguns amigos, foram lá para nos encontrar às 6:00h da manhã, 6 da matina em um sábado pessoal! Não é qualquer coisa não! Para nos acompanhar até o Anilla que fica em Irati, onde eles entraram para tomar o café da manhã e nós seguimos adiante para tomar o nosso café da manhã em Guarapuava. Tamanho o companheirismo, amizade e, principalmente, vontade de ir junto, que somente quem anda de Harley pode compreender, os demais que estão lendo este Blog não entenderão muito bem isso, entretanto infelizmente daquela vez não foi possível para eles. Aguardem! Iremos juntos em uma outra oportunidade, ok?
Dalí seguimos em direção à cidade de Barracão, saindo da BR-277 logo depois de Guarapuava e rumando para o sudoeste, passando por Francisco Beltrão, onde almoçamos e seguimos para Barracão. Chegando lá decidimos abastecer as motos antes de cruzar a fronteira, tendo em vista as notícias de que na Argentina estava faltando gasolina. Ainda não sabíamos o quanto faltaria nem por qual extensão, então ficamos com um pouco de medo.
Passamos a fronteira tranquilamente, não fosse pelo fato de dois dos menores, estarem portando apenas passaporte, e acredite se quiser, não pode passar com passaporte apenas, tem que levar a carteira de identidade, já que no passaporte atual não consta a filiação. Pode isso? Lá se foram o Daniel e a Ana Paula com a Helena, todos preocupadíssimos com o ocorrido, mas o funcionário da alfândega argentina disse que se fosse até o Brasil e fizesse uma declaração de filiação, eles aceitariam. Foi o que fizeram. Já o caso do Caduzinho foi diferente, como ele tinha uma cópia colorida da Carteira de identidade o Fiscal acabou engolindo.

Eu liguei para o hospital onde meu pai estava internado e o pessoal me informou que ele havia piorado muito. Caraca! Ir ou voltar? Deixei para decidir à noite, na esperança de que ele já estivesse melhorando e eu pudesse seguir com o pessoal, pois a vontade era grande. Confesso que eu não estava com bom pressentimento. O Isnarde me disse que ele não morreria e que viveria muitos meses ainda. Não sei de onde ele tirou isso, mas fato é que ele tinha razão.

Seguimos em Frente, já passava das 3 da tarde quando saímos de Bernardo de Irigoyen (cidade que faz fronteira com Barracão e Dionísio Cerqueira) em direção a El Dorado para depois descer em direção a Posadas.

Quando chegamos em El Dorado, uma cidade bem razoável, paramos em um posto e só tinha gasolina Fangio (que é 97 octanas). Aí resolvemos seguir e procurar outro posto para colocar a Super (95 – tem ainda a comum com 93 – o que não tem lá é gasolina tão porcaria como a nossa de 82 octanas, se tanto). Acabamos encontrando um posto e seguimos em frente, passamos pela esquina onde da outra vez que fomos havíamos parado no banco para sacar dinheiro, mas seguimos, sacaria dinheiro em Posadas, até lá no Money. Somente cartão de crédito que sempre costumou funcionar muito bem.
Seguimos respeitando a velocidade da via, pois quando a gente se adianta corre o sério risco de acabar tendo problemas com os policiais. Sabe que parece que eles sabem quando a gente está rápido, pois nos pararam 2 ou 3 vezes e apenas perguntaram onde íamos, se estávamos todos juntos, que as motos eram maravilhosas, etc.

Finalmente entramos em Posadas e fomos até o Hotel, que ficava na mesma rua onde nós havíamos nos hospedado da outra vez. A diferença é que era muito melhor, mas não tinha estacionamento. Paramos as motos na frente do hotel mesmo e fomos para dentro.
Liguei novamente para o hospital e meu pai estava pior. Disseram ainda que ele havia cuspido sangue e que a médica havia dito que quando isto acontece a doença se espalha pela corrente sanguínea e que a coisa piora muito.
Foi um momento muito difícil para mim. Abrir mão de todo aquele sonho e largar o pessoal que havia se mobilizado para ir conosco, os únicos que conheciam o caminho e que tinham um GPS operacional e já testado anteriormente para andar por aqueles caminhos.
Decidi finalmente que deveriamos voltar na manhã seguinte e eles seguiriam em frente sem nós. Falei com a Bê se ela queria continuar com o restante do pessoal, mas ela não quis e decidiu que retornaria comigo. Assim ficou. Aí o pessoal começou a se organizar para ver como fariam para seguir em frente, entrar e, principalmente, sair das cidades encontrando os caminhos em um país estranho.

Trocamos algumas informações, repassamos nossas tarefas para o restante do pessoal e nos preparamos para voltar. Quando comuniquei ao pessoal a minha decisão todos me apoiaram, o que foi muito legal, poder contar com a compreensão dos amigos mesmo sabendo que eles deviam estar se sentindo abandonados por aquele que tinha o GPS, que conhecia o caminho e que já tinha realizado o trajeto.

Dia 2: 18/12/2011 – Posadas, AR – Curitiba, PR 880km

Na manhã seguinte saímos do hotel já era tarde, mais tarde do que o combinado, já que deveríamos sair lá pelas 7 e acabamos saindo as 9:30 da manhã. Eu e a Bê, muito tristes, mas pelo menos com um grande peso a menos nas costas, regulamos o GPS com o destino Bernardo de Irigoyen novamente e eles buscando Joaquín V. Gonzales, já depois da grande reta do chaco argentino.

Nos despedimos e vimos as motos seguindo em frente, mais do que isso, ouvindo o ronco maravilhoso dos motores e aos poucos ficou apenas o ronco solitário da nossa querida e fiel companheira. Seguimos exatamente pelo caminho contrário daquele que havíamos feito no dia anterior.

Nenhum problema, 850km rodados e chegamos em Curitiba lá pelas 9 da noite, ou seja, 11:30 horas de percurso, incluindo o tempo de fronteira e as paradas de abastecimento, almoço e descanso.

Dias 3 a 9: de 19 a 25/12/2011 – Em Curitiba

Francamente tínhamos a forte intenção de voltar a nos reunirmos com o grupo, fosse onde fosse. Com o passar dos dias, meu pai foi melhorando, parece que com a minha chegada ele melhorou mais rapidamente. No dia 24 de Dezembro, dia da véspera de Natal, o médico nos avisou que daria alta para que ele pudesse passar o Natal com a família. Nós a princípio ficamos muito preocupados, pois a médica havia dito que ele não deveria mais sair do hospital.

Quando o médico falou em alta ficamos um pouco confusos. Entretanto o médico nos disse que mesmo que ele viesse a falecer, seria muito melhor para ele que estivesse junto conosco em casa do que no hospital. Não deveríamos nos sentir culpados caso algo de pior acontecesse. Acabamos concordando com a situação.

Alugamos oxigênio, cilindro para transporte e um purificador concentrador de O2, que com energia elétrica retira o nitrogênio do ar, ficando quase que 95% O2. Muito legal, pois é muito mais barato que manter os cilindros cheios e que não duram nem um dia sequer se considerada a velocidade com ele estava consumindo o O2. Ah! Sim. Uma cadeira de rodas também para deslocar ele, já que para caminhar não dava, o fôlego estava muito curto mesmo.

A cada dia que passava minha vontade de voltar a me reunir com o grupo continuava crescendo, mas a cada dia eu achava mais difícil poder voltar. Foi quando acabamos finalmente desfazendo as malas que ainda estavam prontas na moto. Aproveitamos descer ao litoral um dia para colocar o nosso apartamento para alugar e vender. Mas estava difícil. Meu pai não queria nem ouvir falar do assunto de eu viajar. Ok! Vamos ficando.

Foi muito bom passar na casa dele a noite de Natal. Passamos eu e a Bê, meus filhos foram lá também, a minha irmã, marido e filha, já que os outros dois filhos de minha irmã estão morando um na Alemanha e a outra na Irlanda.

Foi uma noite muito legal. Cheia de conversas que somente poderiam ter ocorrido naquele dia e naquela situação. Coisas do coração andaram nos permeando naqueles dias.


Dia 10: 26/12/2011 – Curitiba, PR – Curitibanos, SC - 303km

Quando eu já não acreditava mais na possibilidade de voltar a me juntar ao grupo, mas sempre com um fio de esperança bem amarradinho na ponta do coração, na segunda-feira, dia 26 de Dezembro, as 4 da tarde perguntei ao meu Pai. – Agora você está bem melhor. Acho que eu poderia ir viajar com a Bê. Que você acha? Pois sem a sua benção não vou sair daqui.


Ele me respondeu – Acho que agora você pode ir. Eu já estou me sentindo muito melhor.


Dei um beijão nele, me despedi de minha irmã e dos demais que estavam lá e seguimos para casa para arrumar as coisas novamente. Aí que bateu o arrependimento de ter desmanchado tudo. Muito cuidado para não esquecer de nada e quando era umas 6 da tarde saímos em direção ao nosso destino que a esta altura era Santiago no Chile, local onde eles já se encontravam e que ficariam por alguns dias. Se seguíssemos com firmeza, poderíamos chegar lá a tempo de encontrá-los, ou em Santiago ou em Mendoza. Eu queria a todo custo cruzar os Andes e poder ver os amigos Sadir e Joyce que moram lá em Santiago há alguns anos.


Neste primeiro dia, saímos pela BR-116, rumo ao sul e dormimos em Curitibanos. Foi uma puxada de pouco mais de 300km, 315 na verdade. Chegamos era 10 da noite e fomos jantar em uma pizzaria muito boa que tem lá na avenida principal.


 

 

Dia 11: 27/12/2011 – Curitibanos, SC – Santa Fé, AR - 1.330km


Dormimos e na manhã seguinte saímos muito cedo, 6 da manhã já tínhamos tomado nosso café e estávamos na moto. Nosso destino era Mendoza e combinamos que pararíamos em qualquer lugar pelo caminho a fim de dormir quando estivéssemos cansados.


Chegamos em São Luis Gonzaga na hora do almoço, cerca de 1:30 da tarde, cidade gaucha que fica na região das Missões, perto de São Miguel das Missões, onde nasceu e se criou o que foi, na minha opinião o maior poeta gauchesco, chamado Jayme Caetano Braun. Quando paramos no posto para abastecer perguntei ao frentista onde poderíamos comprar a coleção de CD’s do Jayme e ele me disse que em qualquer lugar tinha para vender. Beleza, foi aí que pedi a ele que me dissesse onde ir e ele ficou pensando e não soube me explicar. Me disse que guardaria com ele no posto para que quando eu passasse por lá novamente poderia pedir para ele que ele teria na mão. Como eu sempre digo, a hospitalidade do pessoal do interior do Rio Grande do Sul é mesmo incrível, o pessoal é muito atencioso, ao menos comigo e a Bê sempre foi assim.


Seguimos em frente. A Bê havia tirado a jaqueta por causa do calor e depois de algum tempo andando, ela sempre quieta, perguntei se ela estava dormindo e me disse que estava passando mal, com vontade de vomitar e ir ao banheiro. Ou era problema de desidratação ou ela estava passando mal por causa de alguma coisa que tinha comido. Fiquei de parar no primeiro posto que encontrasse no caminho, principalmente para que ela pudesse tomar água para rehidratar.


Demorou um pouco para aparecer um posto, mas quando chegamos ao primeiro, localizado quase na entrada que sai para São Borja, no caminho da ponte que cruza para a Argentina, entramos e parei bem na frente dos banheiros. Ela mais do que rápido desceu e demorou um pouco no banheiro. Eu entrei na loja e comprei garrafas de água e Gatorade para hidratar. Acho que depois de uns 15 minutos ela apareceu. Estava pálida e disse que tinha vomitado um monte. Tomou o Gatorade aos poucos e foi melhorando. Tomou a garrafa toda e mais um pouco de água, aí a cor voltou na pele e ela já estava com uma aparência boa.


O posto era muito movimentado, sendo que tinham muitos clientes argentinos e brasileiros, parece que a fronteira de São Borja, que eu não conheço, é muito procurada pelos turistas, pois estava um agito só. Tinham também algumas famílias de argentinos muito bronzeados de sol que visivelmente estavam retornando das praias do Brasil.


Creio que ficamos parados no posto por cerca de quase uma hora, até que a Bê se animou e estava pronta para seguir viagem, graças a Deus, pois parar ali devido a problemas alimentares teria sido muito ruim, mas, às vezes pode acontecer. Com ela recuperada, pedi que vestisse a jaqueta pois a combinação de vento com calor é muito perigosa, pois a pessoa se desidrata numa velocidade enorme, principalmente quando em cima de uma moto.


Como tínhamos a notícia do pessoal que tinha ido para a Argentina nos últimos tempos de que na Argentina estava faltando combustível, quer dizer, estava com problemas de abastecimento de combustível, seguimos pelas estradas brasileiras mesmo, descendo ao longo da fronteira do RS com a Argentina desde São Borja até Uruguaiana, onde cruzamos para a Argentina.


Procuramos por um posto do lado de lá, o que fica localizado logo depois da aduana estava sem gasolina, andamos um pouco em direção ao nosso caminho que levaria à estrada que deveríamos seguir para Santa Fé, pois a cerca de 2 ou 3km o GPS indicava outro posto e lá tinha gasolina Super, que é a gasolina azul que deles. Nós estávamos com o tanque vazio, caso não encontrássemos combustível teríamos que voltar para abastecer no Brasil e cruzar novamente a fronteira.


A moça do posto me arranjou um galãozinho de 5 litros para colocar gasolina, sendo que lá na Argentina também não é permitido transportar gasolina em galões inapropriados, mas embrulhando em um saco preto fica meio camuflado. É mais ou menos como aqui. Saímos de Paso de los Libres (que fica do lado argentino), devia ser umas 4 da tarde. Seguimos em direção a Santa Fé, que já conhecíamos da primeira viagem ao Chile em 2009, e tínhamos um trecho de aproximadamente 500km para rodar, passando pelo túnel sob o rio Paraná, que liga a cidade de Paraná, província de Entre Rios, a Santa Fé, na província de mesmo nome, antes das 10 da noite.


Neste dia rodamos a bagatela de 1.330km, ou seja, quase um Iron Butt, que seriam 1.000 milhas, ou 1.600km. O que para nós foi um recorde absoluto. O interessante foi que quando falei para a Bê que eu não estava muito cansado ela me disse que também não e que poderíamos seguir em frente. Confesso que se fosse dia, ou se fosse antes da capivara, teríamos ido mais uns quilômetros.


Jantamos e dormimos no maravilhoso Hotel e Cassino Los Silos.
Dia 12: 28/12/2011 – Santa Fé, AR – Mendoza, AR - 915km


No dia seguinte acordamos um pouco mais tarde, lá pelas 8 da manhã, tomamos café e seguimos em frente. Saímos de Santa Fé era 9 da manhã. Rumo Mendoza que o GPS mostrava uma puxada de mais de 900km novamente. Lá fomos nós, meu pai continuava estável e bem, e nós andando mais que notícia ruim.
Saímos em direção a San Francisco, cidade que fica na divisa da Provincia de Córdoba e ali viramos para o sudoeste, passamos por Villa Mercedes, Rio Cuarto, San Luis. Fomos sem nenhum problema de combustível nem de nada. A maioria dos lugares aceitava cartão, apenas em um único posto tivemos que utilizar dinheiro vivo.

O calor era grande, quando parávamos a gente se molhava todo, vestia a jaqueta e seguia, com a jaqueta aberta. Desta vez as temperaturas estavam mais amenas, coisa de 44 a 45 graus. Para quem da outra vez tivemos que enfrentar quase 50 graus. Desta vez foi mais fácil que da vez anterior.


Depois que passamos por San Luis, o calor continuava forte e o asfalto e os pneus estavam muito quentes. Em uma longa descida em que vínhamos, a uns 110km/h, com o piloto automático ligado, notamos que estava cainda uma chuva de verão a partir da segunda metade da reta. Achei estranho, visto que naquela região chuva é algo muito raro, pois ali o clima é desértico, tanto que é uma região de produção de uvas e vinícolas.

Na mesma velocidade que vínhamos entramos no piso molhado, imediatamente a moto começou a chimar, desliguei o piloto automático e esperei que a velocidade caísse, quando chegou abaixo dos 80 é que parou de chimar. Depois é que fui entender que o pneu estava muito quente, pois estava uns 45 graus, o sol batendo direto sobre o asfalto devia manter a temperatura em cerca de 60. Com o atrito acredito que a temperatura do pneu fosse maior que 80 ou 90 graus, assim sendo, quando entramos em contato com a água, o resfriamento rápido acabou enrijecendo a borracha o que comprometeu a aderência. O pior é que o pneu traseiro ficou comprometido, aparecendo alguns coroços que me levaram a trocar o mesmo, ainda com muita borracha, pois os calombos reduziram sensivelmente a área de aderência com o piso.
As estradas, como sempre estavam muito boas, e chegamos em Mendoza no final da tarde e seguimos direto ao conhecido Hotel Mendoza. Parei a moto no estacionamento que fica em frente ao hotel e acabei descarregando o galão de 5 litros de gasolina no tanque. O que me deu muito trabalho e me arrependi de ter levado o galão, pois não utilizamos, e na hora de colocar no tanque me deu um trabalho danado, cortei uma garrafa de água no meio para fazer um funil, acontece que o bico da garrafa é maior que o orifício de entrada do tanque, logo é bem complicado para colocar a gasolina no tanque sem fazer muita lambança. Fique todo fedido de gasolina, que cheira muito e que não sai facilmente com água e sabão.


Subi para o quarto, a Bê já estava lá, cansados mas muito felizes e realizados, pois já estávamos em Mendoza e era quarta-feira apenas, havíamos saído de Curitiba na segunda feira as 6 da tarde.
Saímos para passear um pouco e jantar, aproveitando para caminhar e mudar o amassado do sentador. A noite estava super agradável, era dia 28 de dezembro, ficamos relembrando que dia havíamos passado por lá da outra vez, e vimos que foi no dia 26, dois dias antes no calendário.
A idéia era passear um pouco, comer uma carne, tomar um vinho e dormir para poder sair no dia seguinte para  cruzar a fronteira pelo passo Cristo Redentor. Jantamos na calçada da Avenida Sarmiento, que inicia na Plaza Independencia.

Dia 13: 29/12/2011 – Mendoza, AR – Santiago, CH - 363km

Na manhã seguinte acordamos lá pelas 8 e tomamos nosso café em torno das 9 horas. Aí já notamos algo diferente. Como havia chovido no trecho da estrada entre San Luis e Mendoza, no dia anterior, perguntei à atendente do salão de café do hotel se havia chovido em Mendoza no dia anterior, a resposta foi sim e que aquele céu limpo era realmente incomum estando relacionado com a chuva que havia caído no dia anterior. O café da manhã no Hotel Mendoza é servido no último andar do prédio, lá pelo 14 andar.
Aquele dia era especial, pois da última vez que passamos por lá, o céu estava nublado, ou seja, embora nunca chova o céu está sempre nublado até aproximadamente as 2 da tarde, depois vai abrindo, mas, desta vez, estava sendo diferente, o céu estava azul logo cedo e era possível ver as cordilheiras, embora a parte mais alta, os Andes Negros, não fosse possível ver devido à distância e por ficarem ocultos atrás das montanhas marrons que ficam na frente.





Explicando, chamo de Andes Negro, nome que minha irmã chamou pela primeira vez que ouvi, porque existem muitas montanhas marrons que se estendem por muitos quilômetros, entretanto, quando se chega nos trechos mais altos, aparecem os Andes Negros. Facilmente reconhecíveis, pois são uma intrusão negra que sai de dentro das montanhas marrons e atinge alturas impressionantes, chegando aos cerca de 6.000m de altura no pico do Aconcagua.


Saímos em direção aos Andes lá pelas 10 da manhã. Respeitando sempre o horário correto para cruzar a cordilheira, lá por 1 ou 2 da tarde, aproveitando os horários mais quentes do dia, principalmente devido à possibilidade de frio e demais intempéries que se fica exposto quando andando em grandes altitudes. Tanto que não é possível saber qual a temperatura que poderá ocorrer na travessia. Pode acontecer de ter temperaturas abaixo de 0 ou acima de 15 graus positivos.

O caminho que leva para o Chile é uma experiência e tanto. Logo que saímos pegamos um engarrafamento enorme na estrada e, muito esperto que sou, resolvi sair da estrada, pois o GPS mostrava que tinha um caminho paralelo através do qual se podia retornar para a estrada mais à frente. Saímos e quando chegamos lá vimos que a coisa começou a ficar ruim e o caminho não era mais asfaltado, que coisa! Retornamos. Quando chegamos novamente na estrada o engarrafamento já havia terminado e o caminho estava livre, embora um tanto movimentado.
Ao longo do caminho, que é muito bonito, passamos por uma grande vinícola, localizada ao largo da estrada. a região é desértica, embora tenha algum verde, não chega a ser o Atacama, mas é desértico.
A paisagem é uma coisa de doido e mesmo que a gente já tivesse passado por lá, parecia que eu nunca tinha visto aqueles lugares. Para todo lado que se olha se vê paisagens inacreditáveis. Passamos por muitos rios secos, onde se vê somente areia e pedra e ainda alguns equipamentos de escavação dentro do leito, pois as empresas coletam materiais de construção diretamente no leito dos rios secos.
Lagos de um verde inacreditável, que inclusive as fotos mostram, formados por águas de degelo que deve ter alguma mistura que acaba deixando a mesma daquela cor. Corredeiras no rio que segue ao lado da estrada e que despenca pelo fundo do vale. Digo despenca pois não é um rio estável, já que o mesmo corre com o degelo e não tem um fluxo permanente, sendo que a idade do rio não fica representada pelo leito sobre o qual ele corre, já que durante a maior parte do ano, não tem rio ali naquele leito e na primavera deve ter uma vazão muito grande, no verão menor e ao longo do outono e inverno não deve ter muita água descendo por ali não.

Ao longo do caminho, além do rio, existem as cicatrizes de uma ferrovia que a muitos anos não opera mais, entretanto pode-se ver as estruturas corroídas e desgastadas pelo tempo e pelo abandono, mostrando que por muitos anos aquela ferrovia não opera mais. Existem aqui e ali túneis abandonados, em locais que por vezes não se pode compreender por que, ou para que, foram construídos, pois parecem isolados em cotas altas onde não se pode ver acesso por estrada nem cota com possibilidade de acessá-los facilmente? Seriam entradas de minas? Quem sabe. Tudo ali parece ser mesmo misterioso e muito estranho aos nossos olhos não acostumados a ver aquelas paisagens e cenas secas e cotidianas. Não é possível deixar de imaginar como seriam aquelas paisagens no inverno rigoroso que lá acontece.
Passamos por vários lugarejos, alguns maiores outros menores, Les Arboles, Uspallata (este é um pouco maior, tem até uns 3 postos de gasolina, Cassino, etc.), Polvaredas e, finalmente, Los Penitentes, todos na Argentina, ao longo da Ruta Nacional 7. Los Penitentes é um lugar bonito, mas onde se vê claramente que aquela estação não tem nada a ver com o local preguiçoso onde durante o verão nada acontece, mas que claramente a vida é pungente no inverno, quando a quantidade de turistas deve ser muito grande e toda a infra-estrutura que se vê lá deve ser usada. Incluindo os prédios de apartamentos turísticos, hotéis, posadas, etc.

Quando se chega aos locais mais altos, pode-se observar o aparecimento das réguas, ou balizas, com 4 m de altura, que imagino seja para indicar aos tratores que removem a neve no inverno, onde está localizada a estrada, pois com a neve tudo desaparece e a paisagem deve ficar toda simplesmente branca.
A paisagem nos Andes deve ser maravilhosa no inverno também. Um dia precisaremos ir até lá nos meses frios, claro que não poderá ser de moto, mas aí poderemos observar que maravilha deve ser esta paisagem quando tudo fica completamente diferente e a região se transforma em um verdadeiro resort onde as pessoas passam férias esquiando e aproveitando de alguma forma que não conheço, pois sou filho de um lugar tropical, onde não temos isso em nossos invernos. Imagino até mesmo as crianças brincando na neve e guerreando com bolas de neve além de construir casinhas e bonecos.
Paramos em Los Penitentes, para almoçar e ir ao banheiro. Comemos uma boa comida, embora simples, era um bife com salada e fritas. A senhora que atende no local é moradora de lá e dona da pousada onde tudo é muito simples e limpo, que certamente foi crescendo com o tempo, pois são uma série de containers justapostos, quando olhado do lado de trás, onde estão localizados os quartos e banheiros.
Comemos, tomamos um cafezinho e seguimos adiante. Passamos por uma instalação do exército argentino que tem uma barreira de controle, na qual não nos pararam, pagamos o pedágio para cruzar o túnel que tem uns 3 km de extensão e que no meio dele encontra-se a divisa entre a Argentina e o Chile.
Entretanto antes de entrar neste túnel longo, existe uma série de pequenos túneis que torna o caminho muito bonito agradável, considerando que tudo se passa como se estivéssemos em algum lugar de Marte e não neste nosso querido planeta Terra.

Aos poucos o rio que despenca vai se tornando cada vez menor e menor até que acaba por ceder lugar a falésias lindas. O que continua ao lado do caminho aqui e ali é a antiga ferrovia, com suas proteções contra avalanches totalmente ruídas. Acho que o pessoal desistiu da ferrovia pelo fato de que devia dar um trabalho enorme manter a mesma em funcionamento. É notável os investimentos que se observa para manter a rodovia operacional e que também se pode ver que foi realizado na ferrovia. Passamos o túnel e chegamos ao Chile.
Quando saímos no lado chileno já pudemos ver que a temperatura caiu um bocado, mas mesmo assim ainda estava agradável, pois da outra vez que passamos ali estava uns 3 graus, mas desta vez estava bom, acho que mais de 18 graus. Bem agradável mesmo.
De qualquer forma, quando se chega do lado chileno a infra-estrutura chama a atenção, pois as estruturas para proteção contra avalanches são acintosas, com construções tipo túneis, que visam manter a pista da estrada sob as possíveis avalanches que devem ser muito comuns e perigosas por lá.
O trecho chileno sempre está em obras, pelo menos nos parece, porque da outra vez tinham muitas obras e novamente estavam sendo implementadas melhorias no pavimento da estrada, embora me parecesse em perfeito estado, possivelmente por isso que está sempre em bom estado, pois a água entrando nos poros do asfalto e congelando deve ter um efeito devastador para o pavimento. Aqui no Brasil não temos este problema e mesmo assim vemos o quanto é difícil manter as estradas em bom estado.
Chegamos à alfândega, que na fronteira entre Argentina e Chile é sempre o ó do borogodó! Uma fila enorme e uma quantidade maior ainda de papéis para preencher. Pedi para a Bê pegar os papéis para a gente preencher enquanto eu fiquei na moto para ir acompanhando a fila. Haviam muitas outras motos de brasileiros lá, inclusive um casal que já passou por ali mais de 40 vezes, pois eles vão para lá todo ano e, muitas vezes, mais de uma vez por ano. Achei que o fato de eles terem descoberto a mais anos do que nós aqueles maravilhosos caminhos, era uma grande vantagem. Eles informaram que já passaram ali, nesta época de final de ano, ou inicio de ano, com dias de neve forte, com temperaturas muito baixas e que tiveram que esperar dias para poder seguir viagem devido ao fato da estrada ficar fechada devido à Nevada. Isso em plena época mais quente do ano. Logo, sempre que se vai cruzar a fronteira é necessário que se esteja muito bem preparado com equipamento necessário para enfrentar o que vier. Aí que a gente imagina o que deve ser aquilo no inverno mesmo.
Depois que se sai da aduana, imediatamente se chega em um hotel maravilhoso que esta localizado às margens de um lago verde, completamente verde mesmo, pintado de verde, como se fosse uma inacreditável aquarela, localizado à nossa direita e à nossa esquerda se encontrava uma instalação de um canteiro de obras permanente, de alguma empreiteira, onde todos os barracões têm o telhado azul escuro vivo. Um cenário bem legal. Pouco mais à frente chegamos aos sensacionais caracoles. Paramos para tirar fotos e curtir a paisagem, mesmo que o acostamento não seja pavimentado, com muita areia e com muitos pedregulhos, que obriga a gente a ter muito cuidado para não escorregar e acabar tombando a moto.
Incrível como aquela paisagem não nos cansa. Quanto mais a gente olha mais coisas a gente vê e mais interessante o local se torna. Ali não tem lhamas nem vicunhas, na verdade quase não se vê vida naquele local, mas é bonito para sobrar. Quem não conhece tem que ir, as fotos que a gente tira não tem muita aderência com a visão real dos locais.

 

Aí começa novamente um rio a seguir pela nossa lateral esquerda, novamente, como do lado argentino, um rio de degelo que corre e alimenta as cidades como se fosse o Nilo para os egípcios, representando a vida para uma região muito desértica.
Passamos por muitos quilômetros de túneis construídos para proteção das avalanches e fomos chegando nas regiões mais quentes e mais baixas. A vegetação local é absolutamente estranha aos nossos olhos, muito pouca diversidade e muito pouca vegetação também, limitando-se a cactos e alguns arbustos sem folhas mas que tem caules esverdeados que se prestam à retenção de água e ainda à fotossíntese.

Chegamos em Santiago devia ser umas 4 da tarde e tínhamos que levar a moto para a revisão então fomos direto para a loja da Harley, depois de algumas tentativas erradas, devido ao fato do GPS indicar a numeração em ordem inversa. Quando chegamos na loja, ainda estava aberta mas já em processo de fechamento. Com isso o rapaz levou a moto para dar uma olhada mas não tinha mais como fazer nada, somente para o próximo dia, aí eu não quis, comprei o óleo para trocar e quando cheguei lá fora eis que encontramos o Lauro e o Julio, que era o Mecânico da Hard Road, oficina-hotel onde eles estavam hospedados. Que beleza assim eu poderia seguir eles até o local. Foi o que fizemos. Só podia ser o Lauro mesmo, que é uma pessoa e tanto! Um cara companheiro e que, mesmo quando não sabe, acaba sendo um anjo no caminho.

Quando chegamos no Hard-Road hotel, onde eles estavam foi uma bela festa. Tanto para nós como para eles. Um momento genial pois nem eles nem nós sabíamos se aquele momento realmente aconteceria depois de toda a novela que transcorreu entre o nosso retorno e nosso reencontro.


Imediatamente falei com o Julio, que era o mecânico, para trocar o óleo e lavar a moto pois na manhã seguinte iríamos partir novamente em direção à mesma fronteira da qual estávamos acabando de chegar. Mas nenhum problema, pois passar por ali todos os dias deve ser muito interessante, nós não nos cansaremos tão rapidamente, na verdade acho que em uma vida fica difícil se cansar daquelas paisagens, como pode ser visto nas fotos.


Uma vez que acertei as questões da moto com o Julio era hora de buscar pelo Ricardo e pela Joyce, nossos amigos que estão morando em Santiago. Ele Argentino-americano e ela Chilena-americana. Um casal fantástico, ao menos para nós, mas sempre no aquário. Bem, isso merece um esclarecimento, é que uma vez, em um encontro gay em San Fracisco – CA, o líder do movimento declarou que a sexualidade é um oceano mas se você prefere viver num aquário.... A partir de então sempre brincamos com este assunto.


Conseguimos falar com eles e passar o endereço, depois de algum tempo eles apareceram para nos pegar para jantar. Não fomos jantar junto com o nosso pessoal, mas não tínhamos nenhuma outra alternativa já que os dois não poderiam ir conosco passar o ano novo em Mendoza junto conosco.


Deixamos o carro estacionado na garagem do prédio onde é a empresa em que ele trabalha e acabamos indo a um restaurante maravilhoso, à pé, onde comemos as deliciosas machas gratinadas de entrada e depois um peixe fantástico tudo regado por um vinho maravilhoso que o Ricardo escolheu. É incrível como os frutos do mar no Chile são de nunca mais esquecer. Como a gente não estava junto com o pessoal eles acabaram não descobrindo isso, que pena, para eles é claro.


Depois da janta fomos até a casa deles, um belo apartamento, próximo do local onde ele trabalha, pois como o trânsito em Santiago é muito difícil, ele vai trabalhar à pé e mora perto. Tomamos um whisky e papeamos um bocado rindo outro bom bocado. Eles insistiram muito para dormíssemos na casa deles, falamos que seria ótimo mas que teríamos que sair muito cedo na manhã seguinte e que seria muita sacanagem fazer eles levantarem.


Saímos tarde da casa deles, acho que eram quase 2:00h da madrugada, indo procurar pelo hotel. Colocamos o endereço no GPS e apanhamos um pouco para encontrar o hotel. Depois de caminhar um pouco, eu e o Ricardo, achamos o hotel e o rapaz que estava cuidando acordou e nos disse que não tinha nenhuma reserva em meu nome. Bem, desta forma não tínhamos mais o que discutir e fomos dormir na casa deles mesmo. Foi uma escolha muito acertada. A cama, o chuveiro, o conforto do apartamento era perfeito. Realmente a única coisa chata seria eles terem que acordar muito cedo para nos levar até o Hard-Rock às 6:30h da manhã para encontrar o pessoal e pegar a nossa moto.

Dia 14: 30/12/2011 – Santiago, CH - Mendoza, AR - 363km


Assim foi e eles tiveram o carinho de acordar la pela 6:00h da manhã e nos levar até lá. Foi uma noite que passou muito rápido, mas foi muito bom como sempre a companhia das pessoas que amamos é (sempre no aquário, logicamente. Hehehe).


Ah! Tem um caso interessante. Eles tem dois cachorros, a Maria José, que já morava com eles aqui no Brasil e um outro cachorro que não me lembro o nome. O interessante é que eles ficam super agitados quando os donos vão até a porta, mas basta dizer “já voltamos” que os dois ficam sentadinhos olhando. Muito legal.


Chegamos lá no Hard-Rock, a maioria do pessoal já tinha terminado de tomar o café da manhã, nós sentamos e rapidamente comemos alguma coisinha. Os ovos mexidos estavam maravilhosos, do tipo que ainda não esqueci. Não sei como ela fazia aquele ovo, mas ficou demais mesmo. Rapidamente colocamos as bagagens na moto, paguei os serviços do Julio e nos preparamos para partir, desta vez como foi a nossa formação antes de retornarmos de Posadas para Curitiba, ou seja, eu e a Bê na frente de Road Captan, com o GPS, e o Kadu de cerra-fila e os carros atrás.


A viagem é muito cansativa e por causa disso, suponho, houveram alguns atritos entre as pessoas, o que é normal. Mas como era um grupo muito grande, a situação estava um pouco complicada mas, rapidamente, acredito que a maioria dos problemas foram superados de forma que pudemos usufruir das maravilhosas paisagens do caminho.


Seguimos por um caminho novo que nos foi indicado, e que logicamente deu algum problema. Foi então que eu vi que o melhor realmente é seguir o GPS e as demais sugestões devem ser menos críveis do que o GPS, embora o meu GPS tenha sido apelidado de “GPS Social”, tendo em vista que o mesmo adora escolher os caminhos que passam pelas favelas e regiões mais pobres. Bem, social ou não, ao menos ele sempre me levou até onde nós quisemos ir, conhecendo ou não os caminhos. Hehehe.



O caminho que liga Santiago a Mendoza é maravilhoso e esta era a primeira vez que passávamos no sentido Santiago – Mendoza, pois as duas outras vezes que passamos por lá foi no sentido inverso. Seguimos maravilhados com o caminho, agora andando mais devagar com muito mais atenção pois além da estrada à frente, do caminho a seguir e do GPS que necessita de atenção o tempo todo tínhamos ainda que cuidar do grupo através do retrovisor e principalmente do rádio com o Kadu que ficava lá atrás informando como o pessoal estava vindo.



As paisagens são incríveis, mas a gente fica na expectativa dos “caracoles”. Ao longo do caminho os rios de degelo, usinas hidrelétricas que operam com as águas do degelo e que aproveitam quedas muito altas, a paisagem que vai se alterando rapidamente com o caminho, etc. Assim fomos seguindo. Subir os Andes pelo lado chileno é bem mais íngreme do que quando se sobe pelo lado argentino. Assim fomos seguindo. Quando chegamos na região onde tem os túneis de concreto, que foram construídos para proteger as estradas das avalanches que acontecem no inverno, já fiquei na expectativa dos “caracoles” e não demorou muito lá chegamos. Paramos para tirar fotos em três locais, sendo que um deles foi mesmo no meio dos “caracoles” e depois paramos ainda no Hotel Sol que fica às margens de um magnífico lago de cor verde-azulada.

Alí paramos, fomos até a beira do lago para ver se era salgado ou não, atiramos algumas pedras no lago, e subimos a ladeira que vai até as margens do mesmo. Vimos ainda uma rampa que suponho sirva para saltos de esqui???? Não sei muito bem como aquilo funciona. Depois subimos até o Hotel e fomo ao restaurante do mesmo. Logo na entrada tem uma loja que vende roupas de frio, em sua maioria, pois aquele hotel tem muito movimento é no inverno mesmo, pois nas demais estações do ano acho que o local fica apenas lindo, logo no inverno deve ser deslumbrante. Um dia teremos que ir conhecer aquele local no inverno.

O restaurante é muito bom e teve plenas condições de atender aos 27 participantes de nosso grupo e, vale salientar, que tinha ainda uma grande quantidade de outros clientes, quase outro tanto deste. A comida estava ótima, a maioria das pessoas pediu peixe, nós também.


Saímos dali e seguimos para a fronteira, passamos pelo ponto de controle onde fizemos a documentação da entrada no dia anterior, procuramos onde ir, mas nos informaram que teríamos que seguir em frente e que adiante teria a Aduana. Seguimos sem saber muito bem onde iríamos encontrar o local de controle. Depois do túnel onde tem a fronteira, acabamos chegando em uma pequena guarita. O cara da guarita nos entregou um papelzinho que parecia ter sido rasgado de saco de pão, com o número da placa do veículo, um carimbo e o visto do cara.

Nem dei muita importância para aquele papelzinho. Mas olha que este papel acabou se mostrando mais importante que os nossos passaportes, pois foi pedido um monte de vezes, inclusive pelo controle ao longo da estrada.

Aí acabamos chegando a um barracão muito grande, onde o Luciano deve ter ficado pensando que ele perdeu a oportunidade de ter vendido e montado aquele barracão, e fomos encontrando as passagens livres e fomos passando. Aí que começou uma confusão. Tinha gente que faltava documento, depois de muita procura descobriram que parte dos documentos do Isnarde, por exemplo, estavam em poder do Lauro e coisas assim. Depois de algum tempo, acho que uma hora, conseguimos sair todos dali, graças a Deus ninguém ficou preso, hehe.

Fomos seguindo por aquelas paisagens incompreensivelmente lindas, até que chegamos em Mendoza. Este trecho não é longo, mas como tem muitas belezas acaba sendo demorado. O céu continuava azul desde as primeiras horas da manhã no Andes, pelos mesmos motivos que os citados no dia anterior. O rio que despenca continuava ali, só que agora na nossa esquerda, os lagos de coloração estranhamente verde, as rochas e areias com muito pouca vegetação.

Chegamos em Mendoza e fomos direto ao Hotel, aí teve um caso que já se tornou corriqueiro, o GPS social nos levou a um local totalmente estranho, não era uma favela devido ao fato de em Mendoza não ter favela, mas era um bairro muito simples. Mas a rua era lá mesmo e o endereço estava correto, só que não era em Mendoza e sim em uma cidade satélite. Que coisa estranha isso.

Bem retornamos pelo caminho, era final da tarde e o movimento era intenso, desta forma fomos todos buscando seguir uns aos outros sem muita organização até que retornamos à estrada/avenida que dava acesso ao centro da cidade. O Hotel Aconcagua, onde nos hospedamos, fica em um ponto muito central, ao lado da Plaza Itália a duas quadras da Plaza da Independencia, que é o marco central da cidade. É de muito boa qualidade com piscina, dias de sol e calor. Hahaha

Fizemos o check in no hotel, o que não é uma coisa tão simples já que se tratava de um grupo grande, fomos aos quartos guardar nossa coisas e marcamos de nos encontrar ali em baixo para jantar. O hotel possui um restaurante muito bom onde jantamos e tivemos várias outras refeições, inclusive a ceia de Ano Novo, claro que para variar comemos um bife de chorizo, aquela coisa horrorosa que tem nos países de nuestros hermanos. O grupo acabou se separando sendo que alguns acho que nem comeram e nós jantamos em umas 10 pessoas ali na mesa. Haviam outros do grupo em outras mesas também, pois é difícil juntar todos.

Depois da janta mais alguma conversa boa regada por vinho de Mendoza mesmo, aquele vinhozinho de colono da região, hehe, e depois de muito papo, até mesmo para podermos acertar alguns pequenos problemas que haviam acontecido devido ao intenso convívio de muitas pessoas, fomos dormir e, o melhor, sem hora para acordar no dia seguinte. Que beleza.

Dia 15: 31/12/2011 – Mendoza, AR




Dormimos muito bem, pois eu e a Bê estávamos cansados, ainda não tínhamos ficado parados em lugar nenhum por nenhum dia até aquele momento. Era o primeiro dia de relativo descanso.

Descemos para o café da manhã e lá encontramos algumas pessoas do grupo que não haviam ido ao passeio pelas vinícolas, o que parece que foi sensacional pelo que eles contaram depois que voltaram. Disseram que a Família Zuccardi foi demais, um almoço daqueles de nunca mais se esquecer. Mas, fazer o que, nós decidimos não ir junto.

Aproveitamos o nosso café e depois saímos junto com o Daniel, Ana Paula e Lelê. Fomos até a Sarmento e escolhemos um restaurante de esquina para almoçar. Comemos lasanha e carne. Olha que a lasanha estava espetacular, nunca tinha comido massa na Argentina mas gostei muito daquela lasanha. Depois continuamos subindo pela Sarmento até a esquina com a Av. Belgrano, que é onde antigamente passava o ferrocarril que possivelmente passava pela linha férrea que vimos ao longo dos Andes. É possível se pensar e imaginar muitas coisas que deviam passar na cabeça das pessoas que transitavam por aqueles caminhos difíceis e nevados.

Na esquina destas duas avenidas tem um local maravilhoso. É uma sorveteria que produz seu próprio sorvete e tem uma qualidade que agradou até mesmo a mim que não gosto de sorvete, nem na Itália o sorvete me convenceu, mas aquele estava bom mesmo.

Saímos pela Belgrano e fomos até a Gen. Las Heras, onde descemos novamente, ali encontramos uma loja de lembranças onde compramos algumas coisas, inclusive o presente do meu amigo secreto, pois eu havia ganhado o presente mas ainda não havia dado, pois no Natal estávamos separados do grupo. Eu tinha tirado a Luciana como minha amiga e comprei para ela uns vasinhos de decoração, artesanias de barro. A sede apertou e compramos algumas garrafas de água. Naquela altura do campeonato o meu pé estava doendo de tanto andar, pois o mesmo ainda estava mais ou menos.

Adotamos um cachorro que nos acompanhou por este trajeto, acho que era um tipo de policial de turistas. Hahaha. Seguimos até próximo do Hotel e entramos em uma loja de frutas, um tipo de mercearia que ficava na esquina de baixo do hotel. Compramos uma garrafa de refrigerante de pomelo (que é uma delícia) e que alguns ali ainda não tinham provado, compramos algumas frutas e encontramos com o Marquinhos e a Manu que já haviam chegado do passeio e que estavam maravilhados com a beleza do que viram dizendo que tinha sido demais.

Dali voltamos para o hotel para nos encontrarmos com o restante do pessoal e, depois de muitas idas e vindas, acabamos acertando que passaríamos a noite de Ano Novo ali mesmo no restaurante do hotel onde teria uma ceia. Pensamos em um monte de alternativa, ao final, creio que tenha sido o André e a Luciana e nem sei mais quem, que negociaram um preço melhor para o grupo e decidimos passar ali mesmo. Ficamos curtindo um pouco o calor e a agradável companhia dos amigos, escutando as histórias do dia deles e contando as nossas.


Subimos para tomar banho e nos acomodamos do lado de fora do salão do restaurante onde haviam arrumado as mesas para nós. Claro que com aquele grande risco de chover no deserto, ficamos preocupados. Hehehe. Foram várias mesas para acomodar as 27 pessoas. Tomamos vinho da região (nada de vinhos importados, estávamos economizando) e jantamos carne de bicho que cisca para frente, para dar sorte ao longo do ano.

Jantamos e ficamos aguardando a passagem do ano. Nós festejamos duas vezes. Uma primeira no horário do Brasil e depois uma segunda no horário local. Tinha uma hora de diferença. Aproveitamos para ligar para a família, incluindo o meu pai, que estava em casa e que passava bem, Graças a Deus. Ao longo de todo o tempo ele era uma preocupação. Mesmo que eu tenha comprado os créditos para habilitar meu telefone na Argentina e Chile, o telefone não estava funcionando, o que era muito irritante. Tinha que ligar de locutórios e do hotel. Descobri que os hotéis não roubam tanto como a TIM lá fora. Pois o valor dos interurbanos para o Brasil eram mais baratos que os valores do minuto que iria pagar caso o meu telefone estivesse funcionando. Custava coisa de R$ 0,40/min as ligações, em alguns locais mais e em outros menos.

Deu meia noite e partimos para o brinde com espumante argentino que o restaurante serviu. De cara a Bê e a Ana Paula, foram brindar e quebraram as taças. Nem tinham provado ainda e já quebraram. Tratamos de arranjar mais duas taças para elas, dividimos o conteúdo das nossas e novamente partimos para o brinde geral e irrestrito.

Uma lua maravilhosa no céu, montes e montes de fogos de artifício no ar, alegria e gritaria por todos os lados. Sabem de uma coisa, eu gosto destas festividades de Ano Novo, acho que tem muito a ver com a minha história e com as coisas que aconteciam lá em casa nesta data juntamente com os amigos de nossa família, como a família do Tio Toninho e Tia Bete, Seu Oscar e a Dna. Carmem, o Seu Omar e a Dna. Rose, entre outros, que passávamos os Anos Novos em Curitiba quando eu era criança.

Foi uma noite maravilhosa, não tardamos muito em ir dormir, pois o sono bateu cedo no pessoal, devia ser umas 2 da manhã quando subimos para dormir.

Dia 16: 01/01/2012 – Mendoza, AR





Era Ano Novo, dia 1º de Janeiro do ano da graça de 2012, acordamos e descemos para o café, quando passamos pela porta do quarto do Lucianinho escutamos os gritinhos dele. Ah! Que coisa boa é escutar as crianças quando estão rindo e se divertindo por tão pouco, eles sim é que sabem ser felizes e dar o valor correto simplesmente por estarem vivos, nalgum momento da vida perdemos isso, este nosso neto então é uma sacanagem. Todos os adultos cansados e ele achando tudo ótimo na maior festa. Acho que ele é meu neto mesmo, mesmo que não tenha o meu sangue nas veias o tem no coração, festar e passear é com ele mesmo.

Batemos na porta e brincamos um pouco por ali até que descemos para o café da manhã. Lá encontramos com alguns que ainda estavam no salão e outros já tinham tomado o café e estavam na piscina. Não tivemos dúvida, tomamos tranquilamente nosso café, mesmo que tenhamos demorado um monte, papeando e rindo de coisas bobas como a gente sempre faz quando está feliz. Aí combinamos com as mulheres que iríamos até o posto de gasolina para encher os tanques das motos e depois voltaríamos para a piscina.

Nós pilotos resolvemos sair para ir abastecer as motos e as mulheres ficaram na piscina do hotel. Fomos buscar por um posto que tivesse gasolina, não precisamos procurar muito não, e depois saímos para dar uma volta e fomos pela Sarmiento, que começa na Plaza Independencia, até o Parque General San Martin que fica dentro da cidade de Mendoza, uma área verde muito bem cuidada e freqüentada pelas famílias que ficam lagarteando por lá pois estava um calor de sufocar, acho que uns 40ºC para cima.

Dentro do Parque tem uma Universidade e uma quantidade enorme de aparelhos urbanos, como quadras poli-esportivas, quadras de tênis, pista de corrida e atletismo, campos de futebol, pista de caminhada, lago para pedalinho e canoas a remo. Tem até bebedouro. Andamos por diversas ruas do parque, vimos que tinham alguns carros antigos e algumas motos paradas em uma rótula. Parece que eles se concentram lá para trocar experiências e idéias. Muito bacana o local.

Voltamos para o Hotel, guardamos as motos na garagem novamente, fomos trocar de roupa para nos encontrarmos com restante do pessoal na piscina. Foi uma festa. A água imaginem que delícia pois fora esta uns 35ºC ou até mais e embora a piscina não fosse refrigerada estava uma delícia e fizemos uma festa.

O pior é que tinham algumas pessoas do norte europeu ali e, nossa barulheira costumeira de brasileiros, não permitia que elas pudessem se concentrar, em uma coisa muito importante que era ler um livro. Pode isso! A pessoa sai da Alemanha, vem até a Argentina para ler um livro, que ainda por cima está em alemão. Que coisa de louco! Por que não ficou por lá mesmo para ler? Possivelmente a história que liam, contava sobre pessoas muito felizes brincando em uma piscina de hotel e que nós ali, brincando felizes na piscina, não estávamos permitindo que eles lessem. Hahahahahaha. Essa foi boa! Até eu gostei.

Encontramos ainda um peruano de 83 anos, nadador e que é campeão do Master 80+ América Latina. Batemos um bom papo, contei para ele que também havia sido nadador e ele contou sua história e que nunca havia para do de nadar. Então ele entrou na água para nadar e nós ficamos olhando. Admirável a disposição do Sr. Raul, acho que era esse o nome dele, me deu um cartão, mas agora não sei onde o coloquei.




Descemos da piscina para almoçar já meio tarde tendo em vista que tínhamos marcado um cititour pela cidade e por isso fomos à lanchonete do hotel para comer alguma coisa, que ficava localizada na área contígua à do café da manhã. Na verdade não foi muito bom para os que escolheram sanduiches pois demoraram para servir e quando chegou teve gente que não gostou pois a carne estava dura, não sei bem o que ocorreu. Bem eu, como sempre, pedi o meu bife de chorizo que, como não tem erro, estava muito bom. Vale lembrar que conseguimos água quente e tomamos um delicioso chimarrão enquanto ficávamos esperando pela comida.

Logo depois de comermos, o ônibus do cititour chegou e lá fomos nós primeiramente até o Parque General San Martin que fica no meio de Mendoza e foi construído visando manter uma floresta no lugar, irrigada com águas que descem das geleiras. Esse parque é muito antigo e era uma idéia pré-colombiana, pois quando os espanhóis chegaram já existia o sistema de adução das águas de degelo que permite que a cidade seja toda arborizada. Como era fim de ano, por questões de segurança a prefeitura de Mendoza fecha as comportas que alimentam os canais visando evitar acidentes com turistas que não estão acostumados com este tipo de canal nas ruas da cidade e acabam caindo neles e se afogando ou se machucando. Na verdade estes canais parecem muito com as antigas valetas que existiam antes de ter redes coletoras de esgotos nas cidades brasileiras.

Andamos, rimos, tiramos fotos e vimos carros antigos e algumas motos custom que costumam se reunir ali. Muitas pessoas, famílias inteiras, sentadas na grama fazendo piquenique. Como estava muito calor, haviam vários jovens brincando de encher vasilhas com água dos bebedouros e jogar na própria cabeça ou uns na cabeça dos outros, molhando o corpo todo.

Depois passamos pelas ruínas que sobraram do grande terremoto que destruiu completamente a cidade de Mendoza. Depois deste terremoto, diversos países ajudaram na reconstrução e ganharam um espaço para uma homenagem. Devido a este fato é que em Mendoza tem praças com nomes dos países que auxiliaram na reconstrução, como a Plaza Espanha ao lado do nosso Hotel.


Fomos ainda até o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, onde tem a cópia da Santa Bernadete que encontra-se íntegra até o presente, embora tenha morrido a mais de um século. O lugar lembra muito N. Sra. Aparecida no Brasil, inclusive com a existência da Basílica que é enorme e de arquitetura muito moderna.

Depois do passeio, no retorno, pedimos que o ônibus nos deixasse na sorveteria onde tínhamos ido no dia anterior, aquela que é boa pra caramba. Todos comemos muito sorvete. Eu como gostei do dito cujo, pedi um potinho de 500g, e digo mais, comi tudo e fiquei com vontade de pegar mais.

Saímos de lá caminhando e retornamos ao Hotel mas antes passamos no Cassino que fica na primeira quadra da Sarmiento, próximo da Plaza Independencia, claro que o Luciano fez o que pode para entrar no Cassino, inclusive colocou um sapato no pé, acho que ele perdeu uma grana lá dentro, pois não disse nada. Ficou bem quietinho depois que saiu. Hehehe. Mas feliz.

Nesta noite fomos jantar em um restaurante italiano na Sarmiento, próximo à sorveteria. O grupo acabou se dividindo em alguns grupos e cada um foi para um canto, mas a maioria do grupo estava por ali mesmo, na vizinhança.



Depois disso retornamos para o Hotel já que no dia seguinte teríamos que partir em direção a Villa Carlos Paz, que eles pronunciam Bicha Carlos Paz.

 

 

 

Dia 17: 02/01/2012 – Mendoza, AR – Villa Carlos Paz, AR - 577km


Levantamos cedo para tomar café da manhã e marcamos de sair meia hora depois do início do serviço do café da manhã. A maioria das pessoas havia fechado a conta na noite anterior e desta forma ficou mais fácil e rápido para sair com muito menos perda de tempo com aquelas burocracias do fechamento de conta, que costuma demorar muito, considerando que sempre faltam funcionários e sobram clientes neste momento.


Eu e a Bê fizemos o que sempre costumamos fazer, já descemos para tomar café com toda a nossa bagagem arrumada e prontos para sair. Descemos e enquanto ela foi para o salão do café eu fui até a moto, arrumei toda a nossa bagagem nos alforjes e no tourpack (bonito esse nome) para depois subir para o café.

Tomamos nosso café, levei a moto para a frente do hotel onde todos fomos nos reunindo para a saída na hora combinada. Coloquei um rock para tocar na minha moto, pois o dia prometia muito calor mas, o que é melhor, muitas paisagens maravilhosas por onde passaríamos e ainda por cima a serrinha que passa pelo Parque El Condor, lugar de muita beleza e depois chegar em Villa Calos Paz que é um balneário paradisíaco localizado no meio da América do Sul, entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

Estes argentinos podem ser o que quiser dizer que são, mas que os danados tem, ou talvez tinham, bom gosto, Ah! Isso eles tem, ou tinham. Não sei se os demais gostaram de lá, mas eu adorei desde a primeira vez que nós fomos.

GPS programado, trajeto checado, para ter certeza de que não iríamos desviar da serrinha da Fundação El Condor, e seguimos em frente.


Logo que a gente saiu de Mendoza, podíamos ver a nossa esquerda a Cordilheira, em determinado momento apareceram alguns picos gelados. Aquilo foi muito lindo. Coisa de louco é saber que aquela paisagem não é comum para os nossos olhos e é coisa que somente podemos ver lá já que no Brasil não temos morros nevados e nem altitudes como aquelas.

Seguimos pela paisagem desértica que cerca Mendoza e boa parte do oeste argentino. O tempo foi passando juntamente com os quilômetros e foi chegando a hora do almoço, como tinha gente na turma que precisava almoçar, fomos buscando locais para almoço. Só que a paisagem era bastante desolada para ter algum local para almoçar, sequer postos de gasolina estávamos encontrando pelo caminho,

Uma desolação só, até que de repente chegamos em um lugarejo chamado Lujan, imediatamente me lembrei da padroeira do país, que acho que é a N. Sra. De Lujan, ou da Argentina ou do Uruguai, sempre me confundo. Logo depois de uma placa que indicava a entrada de Lujan vimos um restaurantezinho até que de tamanho razoável. Retornamos até lá, onde de cara encontramos o prefeito da cidade. Bem, pensei comigo, se o prefeito vem aqui com a esposa é por que o lugar não pode ser tão ruim, correto?

Bem lá chegando, todos fomos nos instalando e notei que havia um certo desconforto no ar, mas ninguém havia falado nada comigo. Quando cheguei em nossa mesa, onde estavam a Bê, Ana Paula, Lele, etc... a Bê me disse que o pessoal não estava gostando do local e que estavam achando que ele não teria a menor condição de atender aquele número de pessoas. Perguntei se aquela era a opinião de todos e me acenaram que sim com a cabeça, imediatamente dei uma de louco. Levantei e disse: Pessoal! Vamos embora! Se a maioria do pessoal não está gostando do local vamos embora e encontraremos outro local para comer. Quem tem fome se agüente mais um tanto.

Foi um tal de gente pagando conta dos refrigerantes e águas que compraram e fomos embora novamente. Acho que o dono do restaurante até agora esta chorando pela perda do faturamento do ano. Hehehe.

Estávamos a 250 km de nosso destino, mas a desolação do local deixa a gente muito preocupado, pois não se via alma viva pelo caminho. Entretanto não nos faltou gasolina nem nada, a pouco tínhamos encontrado um posto na entrada de Lujan e havíamos enchido nossos tanques, ou seja, ao menos nossas motos estavam alimentadas.

 Mais à frente chegamos em Villa Dolores, uma cidade bastante interessante embora muito pequena. Encontramos um bom restaurante, chamado Mountains Restaurant, depois de alguns enganos, que são comuns quando não se conhece nada no lugar. O atendente nos disse que não se comia carne na segunda feira, pois durante o final de semana comiam muita carne. Tudo bem, mesmo que meio desconfiado da informação que o garçom nos deu, ainda assim pedimos outras coisas. Tinha frango, massa com carne moída ou em pedaços (a bolognesa) e uma salada muito boa. O principal é que tinha água. Pedimos uma limonada de 2 litros. O curioso é que somente eu e a Bê tomamos a jarra toda durante o período que ficamos ali, não mais de 1 hora.

Depois do almoço voltamos para fora para enfrentarmos o calor que estava de lascar. Buscamos postos com gasolina, mas tinha fila. Tudo bem, ficamos ali no calor esperando para abastecer antes de seguir viagem. Dalí para frente o calor continuaria grande, sendo que depois do almoço fica ainda pior. Passamos por um local de piscina natural, que tinha muita gente se banhando, mas era água de rio, barrenta e tudo. Nunca tinha visto algo assim, mas estava cheia de gente se refrescando.

Talvez devido a esta distração, acabei seguindo pelo caminho errado em uma rotatória, ao invés de pagar a estrada reto peguei à direita, depois de andar uns 20km é que observei que o GPS estava mandando eu seguir mais 15km para fazer o retorno e voltar pelo mesmo caminho que estávamos indo. Que merda! Parei no acostamento para averiguar o GPS e vi que realmente tinha entrado errado. Este esquema de recálculo automático às vezes prega peça na gente. Neste caso foi assim, pois logo que virei na rodovia, o GPS recalculou e traçou a rota pelo caminho errado, de forma que eu estava andando sempre em cima do traçado do mapa. Sacanagem!

Voltamos os 20km, acho que o pessoal que estava com um calor danado deve ter me chingado pra caramba, mas o que fazer? GPS é assim mesmo. De vez em quando prega uma peça, ao menos em mim. O caminho passaria por Mina Clavero, onde existe uma fábrica de Alfajor. Aliás aquela região é uma região de muitas fábricas de alfajores, desde os caseiros até as instalações mais profissionais.

A região é muito bonita e parece que no inverno deve ser muito agitado por lá. Tem mais ou menos o jeitão da região de Gramado e Canela.

Quando chegamos na fábrica de Alfajor paramos, era a El Nazareno – Fabrica Familiar de Alfajores y Especialidades e só que ao lado da pista tinham muitas pedras, do tipo rípio, que se parece muito com seixo rolado. Para as nossas motos não é coisa simples de lidar não. Mas o alfajor vale a pena. Pegamos nossas garrafas de água para encher, pois ali não vendiam água mineral, para desespero de alguns, pois o calor estava de lascar. Cerca de 45ºC na sombra, pelo menos.

Mas como a moça não se recusou a encher nossas garrafas, no plural pois uma era para beber e a outra para jogar na cabeça, quer dizer, pernas e camiseta enquanto andávamos com a moto. Quando bate o vento a água evapora e rouba calor do corpo o que torna a temperatura mais amena enquanto a água não seca.

Começamos a subir a serra da Fundación El Condor. As paisagens são magníficas. Paramos uma vez para tirar fotos, pois o pessoal estava muito cansado e não estavam mais tendo prazer nas paisagens. O interessante é que nós que estávamos de moto conseguimos ver um condor. Uma ave realmente maravilhosa, estava ao longe voando próximo às encostas que são muito íngremes. Subimos a cerca de 2.400m, de onde se podia ver o vale mais ou menos 2.000m abaixo de nós. Esta é uma visão que só lá mesmo.

Tiramos algumas fotos e passamos para a outra encosta da serra, a encosta leste que dá acesso à Villa Carlos Paz. Eu queria muito parar na Fundação onde tem um pequeno museu, uma lanchonete/restaurante e venda de artesanatos e lembranças relacionadas com a Fundação, além de um mirante de onde se pode avistar Carlos Paz e seu magnífico lago, entretanto passamos direto, quando eu reconheci o prédio já havíamos passado e, novamente, como o pessoal estava reclamando muito do cansaço, creio que muito ampliado pelo calor, não voltei. Devo dizer que até hoje estou arrependido por não ter voltado. A vida é assim um aprendizado em cima do outro e este foi a grande confirmação de um grande aprendizado, da próxima vez eu farei a volta e retornarei.

Descemos a serra avistando aqui ou ali a Villa. As curvas são do tipo da Graciosa, só que por ali passam muitos ônibus e quando eles cruzam nas curvas a coisa fica perigosa. A estrada não tem a largura suficiente para caber o ônibus e um carro, por exemplo, até mesmo a moto ficava em situação de perigo. Fomos com muito cuidado ao longo deste trecho perigoso.

Chegamos bem na entrada da cidade, e paramos em um posto para abastecer as motos e tomar água. O Cadu ia me emprestando dinheiro de 100 em 100 Pesos argentinos pois os postos não estavam aceitando cartões de crédito nem débito. Interessante, pois quando eu e a Bê fomos em sentido contrário, para nos encontrarmos com eles lá em Santiago, não tivemos este problema, pagamos com cartão de crédito os nossos abastecimentos.


A avenida Carcaño, ao longo da qual entramos e seguimos por muitos quilômetros dentro da cidade, que não é assim tão pequena, estava muito engarrafada com um movimento danado. Fomos por ela até praticamente o Hotel HR Riviera que estava localizado na San Martin (pra variar um nome diferente). Relativamente próximo do margem do lago onde tem a Avenida Costaneira, lugar de muito charme onde a vida noturna acontece como se fosse uma cidade de litoral tipo Camboriu.

Descarregamos nossas coisas, e saímos em direção à Av. Costaneira à pé, por sorte estávamos a cerca de 6 ou 7 quadras apenas. Fomos em uma turma grande, coisa de umas 20 pessoas. Já que passamos em uma churrascaria ao lado do Hotel, na esquina em que descemos para o lago, encontramos o Marquinhos e a Manu jantando, depois vimos que teria sido mais fácil comer ali mesmo, embora o nosso passeio tenha sido muito mais legal que ficar ali ao lado do Hotel.


Chegando ao final da rua, viramos para a direita. Vimos um parquinho infantil no gramado tipo praia do lago, uma sorveteria do outro lado da rua, que estava lotada, e um restaurante encaixado entre a avenida, o morrote e o lago, com deck e tudo. Restava somente um problema a ser solucionado, aceitaria cartão? Claro que não. Somente dinheiro. Pode isso? Um restaurante num local turístico que não aceita cartão? Pois então, ficamos frustrados. Mas, o que fazer?

Desistimos do local, mais do que isso, muitas das pessoas do grupo desistiram de jantar e resolveram voltar para o hotel ou comer na churrascaria ao lado. Tudo bem, alguns de nós, mais teimosos, seguimos em frente, retornando em direção à ponte velha de Carlos Paz.

Passamos por alguns restaurantes muito legais, mas que também não aceitavam cartões. Acho que a Argentina está mesmo afundando com essa história de governos demagógicos e populistas, acho que a América do Sul está indo por este caminho de destruição de todos os valores, talvez uma nova América esteja para surgir, tipo Afeganistão, Paquistão, não sei, ainda não consigo enxergar para onde estamos indo como filosofia de convivência coletiva (que nome bonito!). Mas este assunto é para outro fórum.

Acabamos encontrando um belo restaurante, ainda em um grupo bem numeroso, o local aceitava cartão, arranjamos uma mesa bem legal e jantamos maravilhosamente bem tomando um belo vinho. Foi muito bom e valeu o esforço.

Depois de muito papo e comes e bebes, retornamos ao Hotel, que é claro, estava mais longe do que na ida. Chegamos eram 2 horas da manhã e encontramos algumas pessoas do grupo na recepção. Estavam propondo que saíssemos as 6:00h da matina na manhã seguinte, ou seja, sair sem café da manhã e levantar às 5:30. Mas eram mais de 2 já!

Bem, depois fui compreender que as pessoas estavam muito cansadas e, emocionalmente, queriam chegar logo em casa. De que adianta se estávamos indo para Buenos Aires? Bem esta é uma pergunta racional e a questão era muito mais emocional que racional. Indo mais cedo chega antes em casa. Tudo bem. Depois de alguma conversa resolvemos ceder sob o risco de algum acidente por sono ao longo do dia seguinte sendo castigado por um forte calor.

Dia 18: 03/01/2012 – Villa Carlos Paz, AR – Buenos Aires, AR - 734km


Graças a Deus tudo foi bem, a única coisa ruim foi entrar em Rosário, cidade já próxima a Buenos Aires, onde fomos almoçar em um Mc Donalds. Pode esse sacrilégio? Ir à Argentina e comer no Mc? Bem, estávamos concordando com qualquer coisa em prol do bem estar do grupo, mas juro que fiquei traumatizado com isso. Diz a Bê que o mundo para ser mundo tem que ter de tudo. Mau gosto é simplesmente parte deste tudo.

 A estrada era excelente. Somente a Cibele, que estava de carro sentiu sono depois do almoço na estrada e acabou saindo da pista por duas vezes, mas graças a Deus nada de mais aconteceu. O Cadu ficou para trás e avisou no rádio para pararmos no primeiro posto que encontrássemos que ele viria ao nosso encontro. Depois de algum tempo eles chegaram, André, Cadu e o carro da Cibele, aí que ficamos sabendo da história que tinha acontecido com ela.

Neste posto, que estava próximo de Buenos Aires combinamos que seria melhor sub-dividir o grupo em 3, um grupo capitaneado pelo carro da Cibele, que tinha um GPS no iPAD operado pelo Caduzinho e que vinha se mostrando muito bom. O segundo grupo seria capitaneado pelo Marquinhos, que também tinha um GPS, mas que não estava funcionando muito bem. O terceiro grupo seria capitaneado por nós, que tínhamos também o GPS, além de já termos chegado em Buenos Aires por aquele caminho e já conhecíamos a cidade relativamente bem, ao menos o caminho até o Hotel Colon, localizado na Avenida 9 de Julio, a avenida mais larga da America Latina, muito próximo do obelisco no cruzamento desta com a Corrientes.

Todo o arranjo acima foi organizado na tentativa de aumentar a segurança do grupo, pois para deslocamento dentro de uma cidade tão grande como Buenos Aires com um trem de 11 veículos seria no mínimo complicado, bastaria um sinal de trânsito fechar para que a consução do grupo ficasse comprometida.

Grupo 1: Cibele (carro), Cadu, André (da moto) e André (do Uno, acredite se quiser, Uno mesmo, aquele que é Mille, hehehe);

Grupo 2: Marquinhos, Isnarde e Áureo

Grupo 3: Nós, Luciano (carro), Lauro e o Daniel.

O Grupo 1 acabou se separando de nós e seguiu na frente.

O Grupo 2, que por conhecermos o trajeto e estarmos com um GPS mais fiel, veio atrás de nós. Em caso de problemas eles seguiriam, mas de forma geral combinamos que tentaríamos ir juntos, pois o Cadu também já conhecia Buenos Aires.

Fomos tranquilamente e chegamos no Hotel quase ao mesmo tempo todos os três Grupos. O difícil foi colocar as motos na garagem do hotel. A rampa de descida foi projetada por um duende que estudou em Hogwarts (escola do Harry Potter). O chão não era plano, nas curvas as inclinações eram muito grandes o que desequilibraria facilmente a moto. Olhei aquilo e percebi que não poderia usar o chão como referência de horizontalidade, senão ficaria no chão em um local difícil de cair e não se machucar e ainda muito difícil de levantar a moto.

Descemos todos, um por vez, com cuidado e cuidando uns dos outros, sendo que não tivemos grandes problemas a não ser o medo de pensar que alguma hora teríamos que sair dali. E subir seria fatalmente muito mais complicado do que havia sido descer. Entretanto naquele momento teríamos que descarregar as motos e levar tudo lá para cima. Que burrice, porque não descarregamos as motos lá em cima? Nem preciso dizer que não tinha elevadores e que tivemos que subir a rampa com as bagagens. Todos cansados, mas também felizes.

Quando estávamos no lobby do hotel, uma mulher começou a reclamar que haviam roubado a bagagem dela ali mesmo na recepção do hotel, pois ela havia deixado a bagagem no chão para assinar algum documento no balcão e quando foi pegar a mesma já estava mais lá. Reclamamos com o atendente do hotel por não ter segurança no hotel e que aquilo não poderia acontecer em um hotel como aquele. Não adiantou muita coisa, pois a mulher, que era brasileira, acho que de SP, ficou sem a bagagem.

Subimos para os quartos a fim de tomar banho e de nos prepararmos para sair para o jantar. Alguns estavam cansados, devido aos vários dias de viagem além do calor que consome as energias da gente, e um dia após o outro vai corroendo as nossas resistências.

As pessoas que combinaram de ir jantar desceram, no total fomos em 14 pessoas ao Las Lilas que costumava ser dos melhores restaurantes do Puerto Madero. A comida estava boa, mas o problema é que teve muita confusão se comparado o preço dos demais lugares, diria que ali o serviço deixou muito a desejar. Pratos trocados, não acertaram o prato de quase ninguém, o ponto da carne também veio errada na maioria dos casos, uma cois muito estranha para um restaurante onde se paga mais ou menos o triplo do preço dos outros restaurantes. Atribui-se que esta diferença deva ser devida ao serviço que estava muito ruim.

Aí o Cadu chamou o gerente do restaurante e fez uma forte reclamação, mas somente após pagar a conta, para que não dissessem que estávamos reclamando para tentar não pagar a conta. Depois de uns meses o Cadu pediu que consultássemos as contas do cartão de crédito pois o Las Lillas teria devolvido o dinheiro no cartão de crédito utilizado no pagamento da conta. Confesso que até hoje não consultei o meu cartão para ver se voltou, mas somente a notícia já foi ótimo para o ego.

Voltamos para o hotel da mesma forma que fomos, divididos em diversos taxis e fomos dormir, pois a canseira era grande.

Dia 19: 04/01/2012 – Buenos Aires, AR




Na manhã seguinte acordamos sem pressa e tomamos um café da manhã muito bom no Hotel. Aí algumas pessoas do grupo resolveram ir conhecer o Teatro Colon, que ficava do outro lado da rua, praticamente, pois existia um circuito de visitação guiada pelo Teatro. Eu francamente achei um programa meio estranho, mas tudo bem.

Fomos até o Teatro e aguardamos pelo horário da visita. Uma moça nos guiou pelo interior do teatro que é muito bonito e antigo, com a pompa dos teatros antigos, que eram dirigidos somente para as classes mais altas da sociedade, logo, com a cara da Europa, mais especificamente, França.

Depois de andarmos pelo teatro, com alguns achando legal e outros achando ruim pois queriam conhecer muito mais lugares especiais do que aquilo que estava sendo nos mostrado, saímos, alguns fizeram reclamações, eu procurei por um banheiro e tomei um café no Caffé do Teatro que estava localizado ao lado do local onde vendiam os tickets para o tour guiado. Bem, eu muito particularmente gostaria de entender o que será que as pessoas esperavam ver na visita guiada do Teatro? Para aquela visita só poderia dar no que deu, ou seja, uma merda. Mas tudo bem. Eu gostaria de poder entender como eles estavam pensando, mas ainda não cheguei a este ponto de evolução, mas quem sabe em outra vida eu chegarei.

Saímos de lá e fomos almoçar no Palácio de las Papas Fritas, localizado na Calle Lavalle, perpendicular à Av. 9 de Julio ao lado do Hotel Colon onde estávamos hospedados. Andamos umas 2 ou 3 quadras e chegamos lá. Quando estávamos indo para o restaurante, encontramos um grupo de pessoas do nosso grupo indo direto pela 9 de Julio e perguntamos onde eles estavam indo e convidamos os mesmos a irem almoçar conosco no Palácio. Eles estavam indo no Burger King, é sim, podem ler várias vezes que não vai mudar o texto. Era para comer sanduiche mesmo! Imagine só, em Buenos Aires, comer sanduiche. Gosto não se discute mesmo. Ainda me sinto culpado, pois não consegui transmitir para aquelas pessoas a beleza da culinária porteña.

Almoçamos bem de mais. Para variar continuava a comer os bifes de chorizo que naquele país são tão maravilhosos.

Depois do almoço havíamos combinado de nos encontrarmos para irmos até a loja da Harley comprar camisetas e principalmente, para ver o que estava acontecendo com as luzes de freio das duas Heritages, a do Lauro e a do Daniel que não estavam funcionando, provavelmente uma questão de trocar a cebolinha apenas.

Tínhamos o endereço da loja mas quando chegamos no lugar, guiados pelo GPS, a loja estava fechada e tinha a indicação de outro endereço para onde tinha se mudado. Colocamos o novo endereço no GPS e fomos nós em 5 motos. Não era muito longe e nem muito difícil de chegar, descemos algumas ruas, viramos à direita, seguimos uma 15 quadras e novamente à direita por uma avenida, mais umas 10 quadras e chegamos ao endereço.

Depois de apanhar um pouco, devido ao fato do GPS ter indicado o endereço da oficina e não o da loja, e na oficina não tinha letreiro na fachada aí tivemos que perguntar em um posto e nos explicaram como chegar, estávamos a menos e 2 quadras do local.

Uma loja bem jeitosa mas com um pessoal muito mal educado, como normalmente são os porteños. Pessoal meio besta. Acho que ficaram com inveja das nossas motos, pois descobrimos que lá eles tem cotas de importação de veículos e podem importar somente 80 motos por ano, o que deixa eles sem motos para comercializar. Na loja havia apenas umas 4 motos usadas que estavam à venda. A Concessionária da Argentina, que tem duas na região metropolitana de Buenos Aires, são do mesmo proprietário da Concessionária do Chile. Acho que por isso ainda não fechou.

Perguntamos onde ficava a oficina para que os dois pudessem levar as Heritages para ver a luz de freio, eles explicaram e se foram. Algum tempo depois voltaram e foi incrível, disseram que o cara não quis atender por já ser quase 5 da tarde e que eles teriam que fechar. Só mesmo na Argentina, pois a Harley tem uma política de privilegiar os viajantes em qualquer lugar do mundo. Ficamos muito contrariados e fizemos fortes reclamações pois eles teriam que continuar a viagem sem o conserto o que poderia acabar colocando em risco a nossa viagem.

Saímos de lá ponderando se deveríamos comprar alguma coisa na loja. Depois de pensar um pouco cheguei à conclusão de que a raiva passaria e eu ficaria sem a camiseta, o que não seria bom e comprei umas camisetas, aproveitando que tinha o meu tamanho. Outros resolveram fazer a mesma coisa que eu.

Saímos de lá, e retornamos ao hotel. O passeio foi muito bonito, já que descemos ao longo das margens do rio da Prata, que é na verdade um mar e não um rio. Chegando ao hotel encontramos algumas pessoas lá em baixo do hotel discutindo se adiantariam ou não a ida para Colonia Del Sacramento de Buque Bus. Eu e a Bê ainda não tínhamos comprado as nossas passagens para o Buque Bus e nos interessamos em saber se todos iriam adiantar a viagem ou não. Alguns que tinham comprado para a noite do dia seguinte estavam dizendo que ficariam e outros querendo trocar os bilhetes e ir embora na manhã do dia seguinte. Assim foi. Uma parte do pessoal foi na manhã seguinte e outra parte da turma acabou indo somente no final da noite, passando um dia a mais em Buenos Aires.

Sinto dizer que a minha impressão de Buenos Aires ficou muito abalada com esta ida, pois a cada dia sumia as bagagens de alguém na recepção do hotel e na rua tentaram roubar o relógio da Vanessa, mulher do Dr. André (que estava de Uno). Não fosse eu ter ficado para trás para pagar a conta com cartão de crédito e sair da lanchonete bem na hora que o cara estava tentando arrancar o relógio do braço dela, acho que ele teria conseguido levar o relógio. Uma coisa de louco, achei até que está pior que o Brasil no quesito segurança, graças a Deus ainda não se espelhou por todo o país, pelo menos em nossa experiência, vimos este problema apenas em Buenos Aires, ainda assim no centro, por onde andam a maioria dos turistas. Entre a Florida e a 9 de Julio.

Em diversas ocasiões orientaram a Bê para que ela não andasse com a bolsa pendurada ao lado do corpo mas sim na frente, para evitar que alguém lhe cortasse a bolsa para roubar algo. Isso aconteceu no Palácio de las Papas Fritas e ainda em diversas outras lojas da Lavalle. Uma pena mesmo, pois Buenos Aires costumava ser um paraíso romântico na América do Sul, assim como ainda são Montevideo e Santiago.

O jantar foi no Restaurante La Chacra, localizado na Av. Córdoba, umas duas quadras do Hotel. A maioria do pessoal foi. O Cadu que indicou o restaurante, como já tinha feito no dia anterior, quando pagamos caro e não fomos bem servidos. Mas eis que ele se redimiu completamente. O La Chacra é ótimo e relativamente barato. Uma coisa de louco, tanto que saímos de lá pensando que poderíamos retornar no dia seguinte. Tiramos fotos com um touro empalhado que tem na frente do restaurante e comemos e bebemos vinho, rimos pra caramba e contamos muita piada. Foi uma noite memorável.

Dia 19: 05/01/2012 – Buenos Aires, AR – Colonia del Sacramento, UY - 53km





Passamos o dia em Buenos Aires, mas com um pouco de preocupação devido às questões de segurança, pois já tínhamos visto muitas coisas ruins para uma pequena estada como a nossa.

Pela manhã andamos um pouco pelas lojas para comprar uma blusa para a mãe da Bê e comprar lembrancinhas para o pessoal.
À tarde fizemos um cititour pelos pontos turísticos de sempre, La Boca, a Bombonera, Cemitério, parques da cidade e a flor que se abre com o sol e fecha durante a noite, que nos informaram que não estava mais funcionando. Acho que eles estão copiando o Brasil em quase tudo.

No final da tarde, fomos em uma lanchonete localizada quase ao lado do hotel, onde tentaram roubar o relógio da Vanessa. O mais interessante é que quando estávamos saindo do hotel para ir até o Buque Bus para embarcarmos, eu falei para o Dr. André que estava com a família dentro do carro na saída da garagem do hotel, - Você não fique chateado de eu ter dado um Rolex para a sua esposa, juro que não tenho nenhuma outra intenção com ela. Hahahahaaa. Rimos muito. Afinal das contas tínhamos que desestressar um pouco.

Fomos ao Buque Bus, bem dizer direto, pois é simples, apenas descemos pela Corrientes até o Puerto Madero e viramos à esquerda na última rua, depois dos trilhos do trem, saindo direto um quilômetro mais ou menos, do lado direito está a estação de embarque do Buque Bus. Uma empresa européia de grande porte com ferry boats bem modernos, ao menos quando comparados com os que temos aqui no Brasil, que normalmente são muito simples, pois as travessias são sempre muito pequenas e nunca internacionais.

Nós acomodamos e a maioria de nós conseguiu dormir um pouco no barco. Chegamos a Colonia lá pelas 3 da matina, seguimos direto para o hotel. Paramos as motos na rua mesmo, em frente ao hotel, onde estavam estacionadas as demais motos e carros do pessoal do nosso grupo, demos entrada e fomos dormir literalmente pregados.

 

Dia 20: 06/01/2012 – Colonia del Sacramento, UY




Na manhã seguinte, claro que nem tão manhã assim, pois já era mais de 10 horas e tivemos que pedir uma atenção especial do pessoal do hotel para nos servir o café da manhã que já tinha sido encerrado há mais ou menos meia hora e eles foram tão atenciosos que nos fizeram este carinho e nos serviram.

Saímos lá fora e encontramos o Cadu com um carrinho que parecia um carro de golfe, das outras vezes que estivemos lá em Colonia já havíamos visto estes carrinhos andando por lá. Eu pensava que fosse de pessoas que viviam por lá, mas aí o Cadu me disse que eles eram alugados em diversas locadoras de carrinhos. Eu e o Lauro nos olhamos e logo fizemos um acordo de dividir os US$ 50 da diária do carrinho. Pedimos carona ao Cadu, que levou até a locadora dos carrinhos no carrinho dele.

Chegamos lá e vimos que tinham apenas dois carros, um deles era muito legal, pois não tinha capota, ou seja, lona de cobertura. Era conversível, muito parecido com o carrinho do Mickey Mouse, só que ao invés de vermelho era verde. Pagamos um dia de locação e o rapaz nos informou que teríamos que devolver até as 18:30, mas que ele faria uma exceção e nos permitiria devolver às 19:00h.

Saímos de lá paga buscar as nossas mujeres no hotel. Fomos fazendo a maior festa, acho que não teria idade nem para ter carteira de motorista, nem eu nem o Lauro, pois éramos duas crianças com cerca de 8 anos de idade. Chegando no hotel elas vieram e embarcaram, aí foi de mais, pois seguimos pela avenida principal da cidade até a cidade histórica, demos uma boa volta pela orla, nos divertindo muito com tudo. O Lauro se fazia de GPS, sinalizávamos as curvas imitando pisca-pisca, pois no carro não tinha. A velocidade máxima devia ser uns menos de 40 por hora, mas parecia que estávamos em plena corrida dos anos 20.

Depois de passar no Banco para sacar pesos uruguaios, que é claro, acabei sacando menos do que precisava e tive que voltar ao banco em poucas horas, pois o que saquei deu apenas para pagar o almoço. Hehe

Almoçamos no mesmo restaurante onde da outra vez que passamos por lá eu e a Bê havíamos almoçado. Fomos atendidos com muito carinho pelo pessoal, e diga-se de passagem, se tem uma coisa que o uruguaio tem é educação e atenção para com os turistas. Ao menos eu e Bê sempre fomos tratados como reis naquele lugar, a única diferença é que no final nos apresentaram sempre a conta, quer dizer, não é bem rei que não paga as contas, mas... como se fosse.

Depois do almoço, acabamos encontrando boa parte do pessoal que sei lá onde havia se enfiado, pois rodamos por tudo e não encontramos muitas das pessoas. Aí fomos passear pela cidade antiga, ou histórica. A pracinha de Colonia Del Sacramento é uma coisa de outro mundo, bem, o Uruguai inteiro é uma coisa de outro mundo. Parece que a gente se desloca no tempo cada vez que entra naquele país.

Tiramos algumas fotos muito bonitas da Bê e de mim nas fachadas de algumas casas históricas daquelas ruas cheias de memórias não mais contadas, mas que podemos escutar ainda os murmúrios e cochichos nelas guardadas. Cenas de outros tempos que não voltam mais e chegam a deixar saudades de coisas que nunca vivemos, ou ao menos não nos recordamos de ter vivido.

Fotografamos ainda uma fechadura de uma casa que estava simplesmente tomada por teias de aranha, o que significa que não era aberta a muito tempo. Encontramos o Lucianinho, Cíntia e Luciano e entramos em uma casa de artes, onde tinham diversos objetos de madeira e alumínio fundido. Peças de arte muito bonitas e de valor relativamente baixo. O Lu e a Cintia compraram um crucifixo de madeira com alumínio fundido de dar água na boca.  Hoje está pendurado na parede da casa deles e ficou muito bonito lá. Eu e a Bê nos arrependemos de não termos comprado um também, mas não faltará oportunidade de irmos lá novamente para comprar. Como diz o outro sempre é bom ter um motivo para voltar aos lugares.

Ao entardecer, ainda mediante um calor muito grande, tomamos sorvete na praça, era uma sorveteria Fredo, muito boa. Até eu que não gosto de sorvete achei que estava bom, mas o banheiro estava melhor, pois eu estava já apertadíssimo para ir à casinha. Saímos para subir na torre e ver o por do sol lá de cima, já estavam dizendo que o por do sol, visto do farol era muito lindo. Coisas que o pessoal adora inventar, eu gostaria de ter esta criatividade de criar as verdades eternas em um momento e todo mundo acredita como se fosse uma verdade atávica. Bem, muito curioso, mas é tema para outra discussão.

Pagamos a taxa e começamos a súber na escada caracol. O nome da escada é caracol porque, caracoles, é super enrolado subir lá. E alto. E enrolado e alto. E a gente não faz mais idéia de para onde está indo, porque é como se fôssemos cachorros correndo atrás do rabo. E quando vinha alguém lá de cima para passar? Não cabiam duas pessoas na descida, coisa de doido mesmo, super apertado. E o vento? Ah o vento! É duro de explicar o vento que estava ventando lá em cima. Acho que ele devia ter nome e sobrenome, porque era mesmo uma celebridade. Aquele vento era de mais.

Quando chegamos lá em cima, tem uma pequena sacada, que tem um banquinho fixo, de onde é possível olhas a maravilhosa paisagem, que a gente não fazia a menor idéia de como não era levada pelo vento. Sentei ali para não ser carregado, mas comecei a ter a impressão de que a torre estava balançando com o vento. Sério mesmo, acho que estava. Juro que fiquei com medo. Mesmo pensando que aquela torre tinha mais de 100 anos e que estava ali todos aqueles anos, não seria naquele dia em um ventinho normal daqueles que ela acabaria caindo. Mas não teve jeito, chamei a Bê propus para ela porque não descíamos para ver o por do sol lá de baixo, junto com o resto do pessoal, onde a vida era mais normal e em um lugar muito mais seguro do que aquele, onde a qualquer momento todos nós acabaríamos sendo levados aos ares. Minha alma estava agarrada ao corpo já com a ponta dos dedos quando entrei para o recinto interno do farol da torre, onde fiquei protegido.

A Bê me seguiu e começamos a tarefa de descer, coisa que é mais fácil de escrever aqui e vocês lerem do que de fato estar lá. Chegamos lá em baixo e, extasiados, vimos que o sol ainda não tinha se posto. Ainda dava tempo de chegar junto ao pessoal para ver e fotografar o fim do dia. Daquele dia muito especial que tínhamos tido, coroando todos os demais dias muito bons que tivemos ao longo de todos aqueles maravilhosos dias em que estivemos juntos. Pois a partir dali, de fato começaríamos o nosso caminho de volta para casa. Eu estava pesaroso com isso, embora a maioria do pessoal já estivesse louco para voltar para casa.

Depois de fotos maravilhosas que tiramos do pôr do sol, acho que nunca havia tirado fotos tão bonitas de pôr do sol como aquelas que tiramos lá e encontram-se mostradas aqui neste blog, a seguir fomos, pesarosamente, devolver o nosso magnífico carrinho e voltamos para o hotel para tomar um banho e irmos jantar.

O pessoal combinou de todos irmos jantar no Colonia Rock, que fica localizado na praça histórica de Colonia, e que seria um restaurante muito bom e barato, o que de fato se confirmou. Tomamos um belíssimo vinho Tanat e um café. Mas tudo isso acompanhado de muito vento, que embora não fosse assim tão forte como aquele da torre, estava de carregar tudo. Nada podia ficar livre sobre a mesa sem ser carregado. Tinha guardanapo voando por toda parte e teve até mesmo taça de vinho que caiu quando o vento levantou um guardanapo que estava em baixo da taça e acabou levando tudo para o chão.

Aquele era o último jantar do grupo fora do Brasil, já que no dia seguinte cruzaríamos a fronteira com o Brasil em Rivera e passaríamos para o lado de cá, para o nosso lado. Pena que o vento estava tão forte que nem teve clima para uma festividade de despedida do grupo para que cada um pudesse externar a sua experiência de vida adquirida naqueles dias.

Dia 21: 07/01/2012 – Colonia del Sacramento, UY – Rivera, UY - 526km



Era chegado o dia de partirmos de volta, quer dizer, mais diretamente de volta para casa. Levantamos cedo, tomamos nosso café e tomamos em comboio o caminho de volta.

Logo no início do caminho de volta encontramos a estrada ladeada de maravilhosas palmeiras de um tipo diferente das palmeiras que normalmente vemos aqui no Brasil. Todas plantadas ao longo do caminho. Esta é uma paisagem que eu gosto de lembrar.

Fomos seguindo o GPS a caminho de Rivera, cidade que faz fronteira com o Brasil em Santana do Livramento, passando por Durazno, Tacuarembó entre outros lugares. Acontece que o meu GPS é Social, e, assim sendo, ele costuma nos levar por caminhos menos conhecidos, logo estradas pequenas e cidades e bairros mais pobres. Coisas que somente o meu GPS tem, mas, para não correr o risco de estar sendo injusto, devo confessar que jamais ele nos deixou na mão ou deixou de nos levar aos locais onde queríamos ir.

Desta forma, chegamos em uma cidadezinha muito pequena e simples, e parei para ver o mapa e o Isnarde que já estava nervoso para usar o mapa que tinha comprado, nos trouxe o mapa dizendo que deveríamos ir por uma outra estrada. Bem olhei no GPS e vi que estávamos cortando o caminho e que chegaríamos naquela mesma estrada logo à frente, quer dizer, teríamos que rodar uns vários quilômetros antes de chegar a uma boa estrada, coisa de uns 100. Coisa pouca. Bobaginha. Hehehe

Acabamos chegando a um consenso e seguimos em frente. Realmente andamos um bocado antes da estrada ficar melhor, mas afinal, não tinha buracos, tratava-se de uma estrada sem acostamento, com um asfalto meio grosseiro, mas em compensação tinha muito pouca gente andando, logo, tomando-se os devidos cuidados, era relativamente segura. Como era esperado, ao longo do caminho, fomos trocando de estradas e elas foram melhorando de forma que chegamos a boas estradas e seguimos em tranqüilidade até Rivera, onde chegamos e fomos diretamente para a Aduana, que fica localizada dentro da cidade, já que é uma fronteira seca.

Paramos no estacionamento da Aduana para irmos acertar a papelada e foi quando a Cíntia e Luciano informaram que os passaportes deles tinham ficado no hotel em Colonia, quando eles chegaram no hotel a moça que os atendeu recolheu o passaporte para fazer uma cópia e não devolveu. Que coisa de doido! Nós todos ali no estacionamento e eles sem os documentos. Deixar os documentos para trás simplesmente seria muito perigoso, já que passaportes brasileiros são sempre procurados pelo comércio ilegal, já que brasileiro tem qualquer cara mesmo, de africano a chinês, passando pelo alemão, francês ou americano e árabe.

Ligamos para o hotel em Colonia e eu falei com a atendente que confirmou que ela havia ficado com o passaporte. Aí foi uma discussão danada, pois ela jamais poderia ter feito isso, ter ficado com os passaportes durante 2 dias e não devolver. Daria para contratar um desenhista para copiar os passaportes ao invés de utilizar uma copiadora.

Depois de muita discussão ela informou que tinha um ônibus que saia as 6 da tarde de Colonia, com destino a Montevideo e que de lá sairia um outro com destino a Rivera e que ela colocaria os documentos em um envelope. Este ônibus chegaria em Rivera na manhã do dia seguinte apenas, lá pelas 8 ou 9 horas.

Parte do pessoal que tinha compromissos inadiáveis na segunda-feira partiu, eu disse que ficaria com o Luciano para esperar pelos documentos e que os demais deveriam ir embora. Entretanto o Cadu falou que não, que estaríamos juntos na subida e na descida e que não iria. Assim ficou a maior parte do grupo, tendo seguido em frente apenas 3 motos, o Lauro, o Marquinhos e o Áureo.

Ficamos e foi muito bom, pois pudemos aproveitar a tarde de sábado para fazer compras de algumas bobagens, como uma garrafa térmica, shampoo e creme para a Bê e outras cositas mas além de nos hospedarmos no hotel Uruguai-Brasil, onde já tínhamos ficado outras vezes, que tem uma boa parrillada em baixo. Jantamos lá e tomamos mais uns vinhos com o pessoal.

Dia 22: 08/01/2012 – Rivera, UY – Concórdia, SC - 669km


Nesta manhã acordamos não muito cedo, porque o Luciano teria que ir até a rodoviária para esperar o motorista e pegar os documentos antes que saísse a turma da entrega e acabássemos ficando reféns da entrega. Mas enquanto tomávamos nosso café da manhã o Luciano chegou feliz da vida que estava com os documentos. Vivaaa!!!!!

Estávamos liberados. Como todos havíamos feito nossas documentações de regresso ao país no dia anterior, o Luciano foi até a Aduana e carimbou os passaportes. Assim estávamos liberados para seguir viagem.

Entretanto, antes de pegarmos a estrada fomos até uma loja da Harley que tem em Rivera e que segundo as informações abria às 9 da manhã no domingo. Chegamos lá, era umas 9 e meia e a loja estava fechada ainda. Falamos com uma mulher que saiu da casa que fica geminada com a loja  e ela nos disse que já deveria estar aberta, que sempre abre aos domingos mas que a funcionária devia estar atrasada. Tudo bem, fomos embora e voltamos para o hotel para desocupar os quartos e carregar as motos. Depois disso partimos, mas antes de seguir pela estrada, passamos novamente pela loja e aí sim ela estava aberta e os dois donos estavam lá, a funcionária não chegou nunca, deu os canos no trabalho naquele dia.

Foi um arraso! Eu consegui comprar somente uma camiseta mas o pessoal se arrebentou. Foi casaco e jaquetas de vários tipos e diversos badulaques. Foi uma coisa bacana conhecer a loja até mesmo porque o rapaz falou que avisando ele pode encomendar pneus, óleo, pastilhas de freios, etc., pois estão para montar uma oficina, cujo principal objetivo seria o de atender aos viajantes que passam por Rivera, que segundo ele não é pouca gente. Gostei da Loja, bem arrumada e me deu uma vontade danada de comprar alguns litros de óleo para trazer para Curitiba ao menos para poder usar na moto, já que o óleo original pode rodar por 8.000 km e não por 4.000 como o que é utilizado aqui no Brasil, se é que isso não é apenas uma sacanagem das Concessionárias da HD no Brasil.

Saímos de Rivera já era tarde, algo como 10:30 da manhã e seguimos em direção a Rosário do Sul, Santa Maria, Cruz Alta, Passo Fundo, Erechim e quando chegamos em Concórdia-SC, já era tarde e havia anoitecido. Resolvemos que deveríamos parar para dormir em Concórdia e que a Cibele conhecia lá, devido a relacionamentos profissionais e fez uma consulta ao melhor hotel da cidade. Foi lá mesmo que ficamos. Guardamos as motos e carros na garagem, arrumamos as bagagens nos quartos, alguns tomaram banho, mas a maioria não devido ao horário, e fomos à pé até uma pizzaria muito boa que tem na avenida principal.

A cidade de Concórdia para quem não conhece fica pendurada no morro, ou seja é um sobe e desce sem fim, com ladeira que deixam a gente com a língua de fora. Eu que ainda estou com o meu pé em recuperação desde o atropelamento da capivara, tive que rebolar para caminhar naquelas rampas.

A janta estava mesmo muito boa, como se esperava que tivesse, era domingo à noite e a cidade até que estava movimentada. Depois de algum vinho e cerveja, retornamos caminhando ao nosso hotel novamente e foi chegar e cair na cama para dormir, quer dizer, ainda demoramos um pouco para ligar o ar condicionado pois estava quente e escovamos os dentes, mas foi assim coisa rápida.

Na verdade o cansaço parece que vai se acumulando e quando chega à noite, a gente vê a cama e não vê a hora de se jogar sobre ela.

Dia 23: 09/01/2012 - Concórdia, SC – Curitiba, PR - 419km



Este trecho foi relativamente rápido e curto, 420 km, não fosse pelas péssimas condições da rodovia depois que entramos no Paraná, na região de General Carneiro. O Brasil tem isso de bom, a gente paga os impostos em dia, senão tem multa e pressão de todo tipo, entretanto a recíproca não é verdadeira, ou seja, o estado não tem obrigação nenhuma para com o cidadão. É, infelizmente é assim mesmo.

Foi um tal de gente saindo do banco da moto e sendo praticamente arremessado ao ar, graças a Deus, todas as vezes que o pessoal caiu a moto estava em baixo, senão teríamos tido um grave acidente, e é claro que o estado jamais se responsabilizaria, o pior é que seria capaz de alegar a culpa era nossa por estarmos trafegando muito rápido por uma estrada em péssimas condições de trafegabilidade.

Tudo bem, quando chegamos em Araucária, pouco antes da entrada principal, o Cadu parou a moto no acostamento e todos pararam junto com ele. É que o odômetro parcial da moto dele havia marcado 8.000km redondos, desde o dia que havíamos saído de casa. Nós como saímos e voltamos depois para nos encontrarmos com eles em Santiago tivemos uma distância diferente da dos demais, nós havíamos rodado mais de 8.300 km.


Foi uma volta e tanto, um passeio maravilhoso que quando retorno já estou com vontade de ir novamente. Infelizmente desta vez não foi possível passar pelo chaco argentino e nem pelo deserto do Atacama, mas, isso ficará para uma próxima aventura.... Ah! Já ia me esquecendo, quando retornamos, meu pai estava melhor do quando saímos, embora ainda com o oxigênio que nunca mais ele pode deixar de usar e acabou falecendo no dia 2 de maio de 2012. Lembram que o Isnarde havia me dito em Barracão, na ida, quando passamos pela fronteira, que o meu pai viveria até abril? Pois bem, ele errou por 2 dias apenas. É curioso como ele deu esse chute sem sequer conhecer o meu pai.

Abraços a todos...