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Trecho percorrido entre Rio Gallegos e Ushuaia - Extensão 576km. |
Havia chegado o grande dia. Este dia reservava muitas emoções pois iríamos chegar à cidade de Ushuaia e isso incluía cruzar o Estreito de Magalhães, por onde Magalhães chegou ao Oceano Pacífico em sua viagem de circum navegação, cruzar o terrível trecho de 130 km de rípio e chegar até o Cabo de Horn ou Canal de Beagle. O mais emocionante é que sairíamos do continente americano entrando na Ilha da Tierra del Fuego, além de cruzar a fronteira da Argentina e Chile duas vezes.
Havia em meu coração uma mistura de ansiedade e apreensão. A apreensão é o sentimento que mantém a pessoa prudente viva quando está em uma situação extrema ou de risco e é também o sentimento que empurra o imprudente para o buraco. Eu esperava, que no meu caso, essa consciência, pudesse servir de guia para nós.
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Salão do café da manhã no Hotel Aire de Patagônia. |
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Meu amor no estacionamento do Hotel Aire de Patagônia. |
O dia estava maravilhoso e não estava ventando tanto, era algo comum que estamos habituados a ver. Eu havia lido muitos textos que indicavam que os ventos não eram tão frequentes no trecho de rípio, o que de certa forma me consolava, já quanto à chuva não havia como prever o tempo pois uma constância no Estreito de Magalhães é a inconstância do clima, sendo que é muito comum a barca parar de operar devido ao vento.
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Aduana de saída da Argentina |
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Aduana para entrar no Chile. |
As estradas continuavam maravilhosas, com piso liso e sem buracos. O vento era aceitável e o céu estava limpo com céu azul e estávamos achando que daríamos sorte no cruzamento do Estreito.
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A Bê ficou linda. Nem estava com carinha de cansada depois de 5 dias rodando sem parar. |
É curioso como a gente realmente viaja sorrindo quando viaja de moto. Tem uma foto que a Bê tirou em nossa viagem ao Deserto do Atacama e, sem que eu soubesse, pegou o meu rosto assim meio de lado, é curioso que eu estou realmente sorrindo dentro do capacete, mesmo com um calor danado que estava ao cruzarmos o Chaco Argentino.
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Começaram as placas que nunca pensamos ver. |
Havíamos chegado ao começo do Fin del Mundo. Nunca havíamos pensado em ver o que estava se apresentando. Placas mostrando locais como Cerro Sombrero e San Sebastián, locais que a gente somente lê em textos como estes que estou escrevendo agora, mas que nunca se tem referência em outros locais. Este seria o trecho a ser percorrido no rípio, na verdade um pouco mais longo, 130km.
Depois de cruzarmos as fronteiras da Argentina e Chile, entrando no Chile, pois não se tem acesso à Terra do Fogo por território Argentina. Já em território Chileno, estávamos na rodovia que nos levaria depois até Punta Arenas e Puerto Natales, neste dia, teríamos que sair para a esquerda em um local chamado Primeira Angostura, local onde tem o porto para embarcar no cruzamento do Estreito de Magalhães.
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Aí estamos eu e a Bê no Estreito de Magalhães. |
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Nós 3 chegamos juntos lá. |
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Entrada da Balsa. É apenas uma rampa de concreto. |
A primeira balsa que chegou carregou uma série de caminhões e ônibus e não nos deixaram embarcar bem como nenhum carro. Embarcamos no segundo barco que encostou, parando no cantinho conforme aparece na foto.
Acabou que o Raul apareceu novamente e chegou junto conosco na fila de embarque da barca. Uma coisa incrível esta coincidência, pois ele ia nos encontrando pelo caminho. Dali em frente fomos juntos até Ushuaia. Ele se interessou por ir junto pois estava sozinho e não conhecia os caminhos e eu também julguei que poderia ser interessante ter alguém junto para compartilhar aquele trecho complicado da viagem.
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A Bê saíndo da parcela continental da América do Sul. |
Desembarcamos na Terra do Fogo, dentro do Chile e seguimos pela estrada asfaltada. Eu não sabia que ainda rodaríamos cerca de 30 km em estrada asfaltada até chegar em Cerro Sombrero. Fomos tranquilos pelo caminho.
Uma dúvida persistia. O que havia acontecido com a taxa da travessia? Não havíamos pago a travessia e não sabia onde deveria ter pago. No barco ninguém me cobrou nada, depois de desembarcar todos seguiram em frente e ninguém parou em lugar algum para efetuar o pagamento. Cheguei a pensar que haveria um pedágio à frente onde a travessia seria cobrada, mas que nada. Não entendi porque não havia pago e cheguei a pensar que seria cobrado apenas a travessia em um sentido sendo que deveríamos pagar somente para sair da Terra do Fogo pois quem sai é porque entrou. Não entendi mas seguimos em frente.
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Vista geral de Cerro Sombrero |
Chegamos em Cerro Sombrero era cerca de 3 horas da tarde sendo que havíamos saído de Rio Gallegos as 10 horas da manhã. Havíamos passado pela Aduana da Argentina, do Chile, cruzado o Estreito e estávamos bem no horário. Parecia que estávamos tranquilos.
Havia a possibilidade de dormirmos em Rio Grande, caso demorasse muito para passar o trecho de rípio. Havia muita epreensão em nossos corações. O desconhecido não é mole não, mas a gente sempre tem a possibilidade de aprender aquilo que a gente ainda não conhece. Estar aberto para isso é que nos mantém jovens, ao menos de coração jovem.
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Final do calçamento e início do rípio. |
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Trecho de Rípio. |
Chegamos em Cerro Sombrero e a maioria dos carro seguiram direto em frente em um trevo que dava acesso à pequena Vila pela direita. Entramos à direita rumo a Cerro Sombrero e vimos que tinha um bom hotel e, um no alto de um morrote, um posto de gasolina. Abastecemos as motos, eu e o Raul, e perguntamos ao atendente do posto, que era um senhor de meia idade, por qual caminho os caminhões seguiam para San Sebastián. Ele nos informou que os caminhões seguiam pelos dois caminhos, entretanto a gente deveria seguir por Onaisin, pois o caminho que passava por Cullen (que ele pronunciam Cuxen) estava muito ruim e era mais longo.
Bem, para nós qualquer caminho era caminho, mas no GPS eu havia traçado o caminho de Onaisin, então achei que esta indicação era a melhor mesmo e segui por lá mesmo, com o Raul na minha cola.
Antes de sairmos do posto ele me disse que eu poderia seguir na frente pois ele iria em baixa velocidade no rípio e que talvez não conseguisse me acompanhar. Eu informei para ele que provavelmente iríamos mesmo juntos, pois eu também não iria abusar, iria muito devagar pois a minha moto não era nem um pouco adequada para o rípio e ainda por cima eu estava com garupa. Ou seja, a minha moto estava pesando algo como 600kg. Quase o peso de um carro só que sobre 2 rodas.
Saímos do posto e retornamos por onde havíamos chegado e no trevo, localizado entre o posto e o trevo de entrada a Cerro Sombrero, seguimos pela esquerda. Realmente o caminho era pavimentado, como no trecho anterior com concreto, creio que devido ao forte frio que faz ali no inverno é mais recomendável este tipo de pavimento que o asfalto.
Seguimos por mais uns 14km e chegamos onde não queríamos e queríamos chegar. Tudo ao mesmo tempo. Acabou o pavimento e as placas indicavam "Final do trecho pavimentado".
Baixei muito a velocidade, para cerca de 20km/h, em 2ª marcha e entramos no rípio, pela canaleta mais compactada pelas rodas dos carros. Aos poucos fui me acostumando com o dançar da moto onde por vezes a frente saltava para o lado e às vezes a traseira balançava. A traseira balançava muito mesmo!
Nos primeiros quilômetros, acabei indo a uma velocidade de 40km/h, cuidando muito com a aceleração para evitar a derrapagem e seguindo, sempre que possível pelo trilho das rodas dos carros. Achei que poderia entrar no trilho não sair nunca. Mas não deu. Logo no começo descobri que isso não seria possível pois os carro vem em sentido oposto e na maior parte do trecho tem apenas um par de trilho que está localizado na mão em que estamos ou na outra.
às vezes a estrada é larga mas às vezes é muito estreita, passando 2 carros mas não com muita folga. Aí fui me acostumando com aquele piso, sempre cuidando para não me tornar excessivamente confiante e acabar sofrendo uma queda estragando a viagem.
Depois de poucos quilômetros descobri que a moto tem boa estabilidade embora vá dançando, ela sempre se mantém em pé, caso assim o piloto permita que ela fique. Fui desenvolvendo uma técnica minha mesmo para dirigir, mantendo a moto na vertical, não utilizando o guidão para manter o equilíbrio, evitando que a moto saísse de frente.
No início eu comecei a me sentir passageiro na moto, isso estava me preocupando demais, eu precisava rapidamente desenvolver uma técnica para levar a moto onde eu quisesse e não ir onde ela me levasse o que seria extremamente perigoso.
Aí vi que levando o corpo para um lado e para o outro eu podia dirigir a moto com muita segurança. Que beleza! Assim a moto começou a ir somente onde eu queria que ela fosse. O terreno estava seco e a poeira era impressionante, a moto e nós estávamos cobertos de poeira. Estava frio, mas não muito, coisa de 8 a 10 graus, mas a gente estava vestido para o frio, pois em Rio Gallegos já era frio, na verdade as temperaturas estavam rondando os 10 graus nos últimos 2 dias.
A parte mais difícil era quando a pista estava inclinada em uma curva, tendendo a levar a moto para a esquerda e, claro, os trilhos estavam também na esquerda. No lado direito, rípio grosso e muitos carros vindo em sentido contrário. Uma das alternativas seria parar a moto. Mas como eu estava desenvolvendo a minha técnica de pilotagem no rípio, inclinei o corpo para a direita, a moto me obedeceu e foi subindo para a direita no rípio grosso. dançando muito mas ia seguindo firme. Eu mantendo os ombros e os braços relaxados embora firmes, sem tensão nos ombros buscando deixar a moto livre para seus movimentos aleatórios, entretanto mantendo o rumo que eu desejava.
Funcionou muito bem a técnica. Eu estava ficando mais seguro a cada quilômetro, porém não queria aumentar a velocidade, pois cair ali naquele trecho era muito fácil, mas cair devagar teria consequências muito menores que se estivesse mais rápido.
Nos trechos onde o rípio estava mais fino, eu ia a 60 ou até 70 por hora, mas onde estava mais grosso eu ia a aproximadamente 40km/h.
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Nós indo na frente e o Raul nos seguindo ao longe. |
Combinei com o Raul que ele me seguisse porém de longe para evitar uma colisão traseira já que o controle de nossas motos não seria coisa muito boa naquele piso e, principalmente, no caso de uma queda nossa, não queria que ele nos atropelasse. Com o que ele concordou e nos seguia de longe mesmo.
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O Raul ajeitando as bagagens quando paramos no entroncamento para Onaisin |
Vimos a placa que indicava Onaisin a 4 km e onde tem o entroncamento com a estrada que vai de San Sebastián para Porvenir e paramos, tiramos fotos, respiramos e descansamos um pouco. Estávamos no trecho já por 2 hora e meia. Mas estávamos tranquilos, não estávamos muito cansados.
Conversei com o Raul sobre a experiência e se para ele estava bem e que ele poderia seguir na frente caso julgasse que eu estivesse indo muito devagar, mas ele disse que para ele estava ótimo, pois também estava muito difícil de levar a moto dele pelo caminho.
Ao longo do trecho nós vimos que estão realizando obras de pavimentação do trecho. Creio que uns 20 ou 30 km estejam em obras, embora nem um metro tenha sido disponibilizado para circulação, ao menos ao longo dos desvio deste trecho o rípio estava um pouco mais fino, o que facilitou o deslocamento.
Quando avistamos a Aduana do Chile para retornar à Argentina foi uma festa. Eu e a Bê ficamos radiantes. Vitória! Conseguimos cruzar o trecho todo sem nenhum incidente graças a Deus! Passamos pelas filas intermináveis e papelada para preencher e entregar das pessoas e da moto, documento de que não tinha nenhuma fruta nem carne nem nada perecível, que não tem menores junto, etc....
Depois de todo o trâmite saímos felizes pois havia terminado o rípio, mas... que nada! Ainda era de rípio o caminho. Caramba! Que tinha acontecido de errado?
Fomos em frente, o que fazer, vai ver que era um trecho curto. Ao menos o rípio era fino e estava muito mais fácil de andar. O tempo que estava ficando meio feio mostrava uma tempestade à frente. Nós estávamos com as roupas de chuva mas guardamos a máquina fotográfica e por isso não temos mais fotos desse dia. A excessão é a foto na aduana da Argentina, que a Bê pegou a máquina no tour pack e fotografou.
Seguimos pelo rípio mais fino só que a chuva havia acabado de passar e estava tudo muito molhado. Cheio de poças de água e ainda tinha uma garoa. O pó havia sumido completamente mas eu tinha lido que o pessoal não gosta de andar no rípio com chuva. Li sobre isso no livro do Albuquerque. Então eu estava preocupado pois não sabia o que iria encontrar, mas ao final achei que o rípio molhado não tem muita diferença não, no caso, como este trecho tinha um rípio mais fino, era até melhor.
Fomos indo com o cuidado devido, sem relaxar a atenção e o cuidado nem um momento sequer. Teve um local onde havia rípio muito grosso fora do rípio em que eu me encontrava e havia uma poça grande água bem no meu caminho, avaliei a situaçã, reduzi um pouco a velocidade e entrei na poça. A danada era funda e espirrou muita água para cima, mas sujou tudo daquela lama fina, que mais parecia pó de pedra, mas muito fina mesmo, daquela que entra nos poros do couro, da jaqueta de tudo. Chegou a espirrar no meu capacete, que estava com a viseira baixada porque senão eu teria comido muito daquela lama. Assim fomos até que chegamos ao final do rípio e na Aduana Argentina.
Que alegria! Mas que alegria mesmo!
Fizemos festa novamente e fomos enfrentar a burocracia da Aduana. Cruzar as fronteiras no Mercosul é moleza, mas entrar no Chile é muito complicado. e tem muita gente, muito movimento na época de final do ano, o que resulta em filas enormes para todos os três procedimentos que se tem que fazer. Mas, quando a gente viaja tudo é bom, tudo é alegria e a nossa pressa era relativa.
Demoramos 3 horas e 50 minutos para chegar ao final do trecho de rípio e foi uma festa danada dentro do meu capacete e do da minha querida companheira. Na verdade estas quase 4 hora demoraram muito mais do que 4 horas, acho que durou cerca de 10 horas para passar as 4. Esta é a medida do tempo emocional, muito diferente da medida do tempo do relógio.
Tivemos uma parada de cerca de meia hora, no cruzamento de Onaisin e ainda a Aduana de saída do Chile então foram 2:50h para percorrer os 130km. Acho que fomos muito bem, fizemos uma média geral de 45km/h. Maravilha!
Dali em diante seguimos pista de concreto até Rio Grande, que é uma cidade bem grande mesmo. Passamos por dentro dela e acabamos perdendo algum tempo para conseguir encontrar um posto para colocar gasolina e comer alguma coisa. Encontramos no posto alguns motociclista, havia na verdade uma quantidade grande de motos que foram saindo quando chegamos. Pareciam ser motos europeias pelas placas. Sobrou um casal de Suíços, que estavam de moto também.
Saímos de Rio Grande já era meio tarde e o Raul estava pensando em ficar em Rio Grande para dormir, mas acabou se animando a ir conosco em frente já que tínhamos o GPS e ele não sabia muito bem como chegar, além do que ele se sentiu seguro em viajar conosco naquele trecho.
A distância é pequena, são apenas 211 km, mas o que eu não sabia é que estrada é cheia de curvas em uma serra que tem na chegada à Ushuaia e ainda por cima estava muito cjaro em Rio Grande e parecia que o dia iria muito longe ainda. O GPS mostrava que iríamos demorar mais de 3 horas para chegar lá e já era umas 9 da noite. Pensei comigo mesmo, chegaremos lá por volta da meia noite, mas tudo bem, tínhamos a reserva no hotel e estava tudo certo.
Decidimos seguir e o Raul disse que iria juntamente conosco. Saímos do posto YPF devia ser umas 9:30 da noite, mas era dia claro, embora nublado. Estava tudo molhado, pois havia acabado de passar aquela mesma chuva muito forte que falei anteriormente e pegou todo aquele trecho pelo jeito.
Fomos em frente, quando estávamos adiante da metade do caminho, estava começando a ficar escuro e o Raul chegou do meu lado fez um monte de sinais que não entendi nenhum, mas parecia que estava me dizendo para eu seguir. aí ele reduziu e ficou para trás parando. Eu falei para a Bê, acho que ele vai voltar, que maluco, já estamos no meio do caminho. Sei lá! Cada maluco com sua mania. Depois de algum tempo ele estava atrás de mim novamente. Tudo bem, pensei, mudou de ideia.
Fomos em frente, mas como o escuro não é total, pois tem um lusco fusco, o farol não clareava muito e a luz do dia também não, então era difícil de enxergar. Depois descobri que o meu farol estava completamente sujo e que por isso não clareava nada e, mais do que isso, que o sinal que o Raul tinha feito não era para eu seguir, mas sim, que ele ia parar para limpar o farol. Que coisa! Se eu tivesse me tocado também teria parado pois o meu farol estava muito sujo daquela poça do rípio e por isso, a capacidade de iluminar dele era terrível, somado a isso o lusco-fusco a coisa estava mesmo preta.
Ainda por cima estava garoando e o termômetro da minha moto estava marcando pouquinha coisa a mais que os 30 ºF, o que significava que estava muito próximo dos 0ºC e, consequentemente, muito próximo do congelamento da água na pista o que tornaria impossível ficar em cima da moto.
Aí sim é que foi duro, esta serrinha na chegada de Uahuaia foi de matar o galo! Farol ruim, lusco-fusco com a famosa cegueira noturna, garoando, iminência de formação de gelo na pista e ainda por cima a sinalização da pista, pintura de faixas simplesmente inexistente. Do jeitinho que o diabo gosta.
Fui muito devagar, acho que entre 40 e 60 por hora. O Raul se mantinha atrás de mim. Não me ultrapassou e nem chegava muito perto, pois eu havia contado a história do Lauro para ele o que o mantinha afastado.
Ao final, passamos pelo portal de Ushuaia e o posto da polícia era mais de 1 da madrugada e, confesso, que neste dia eu realmente estava muito pregado. só conseguia enxergar uma cama na minha frente. neste dia havíamos andado uma boa distância, 576 km, mas além disso, tínhamos cruzado o trecho do rípio que foi muito mais cansativo que todos os demais 446 km de asfalto.
Quando chegamos ao centro parei para falar com o Raul, dizer que tínhamos uma reserva em um hotel e que iríamos direto até ele, que estava indicado no meu GPS e se ele quisesse ir junto tudo bem ou se ele iria procurar hotel. Como o nosso hotel era um pouco caro para o que ele estava pensando ele disse que iria ver se encontrava algum outro. Tudo bem. Nos despedimos e fomos ao nosso hotel.
Lá chegando a Bê desceu da moto e foi falar com a atendente. Ela informou que houve um problema com o e-booking e que não havia mais quartos disponíveis no hotel. Putz. Pensei. Agora ferrou, teremos que achar outro hotel, quando eu já estava com vontade de brigar com a moça ela disse que tinha nos relocado para um outro hotel melhor do que aquele pelo mesmo preço.
Fazer o que? Lá fomos nós. Ela nos explicou como chegar no hotel, mas no GPS tinha o Hotel Costa Sur. Fomos seguindo o GPS e vi que realmente com as explicações que ela havia me dado jamais chegaria lá. O acesso final era por um trechinho de rípio, mas àquela altura do campeonato, já estávamos mais do que calibrados para andar no rípio. Se bem que este foi um fantasma que ficou me assombrando durante todos os dias que ficamos lá.
O Hotel realmente era muito bom e pegamos um quarto de frente. O chão ainda estava molhado, o frio era grande mas o céu estava aberto e tinha a claridade do sol no horizonte e a lua cheia do outro lado. Coisa linda mesmo. Mas estávamos tão pregados que nem tiramos fotos destas coisas lindas que vimos, deixamos para o dia seguinte mas não tivemos mais a oportunidade de fotografar a lua pois estava sempre com nuvens cobrindo a sua luz.
O hotel e o quarto eram melhores do que a expectativa, nos acomodamos e dormimos como crianças, mas antes tivemos que tirar aquelas roupas de chuva que estavam tão sujas como jamais havíamos visto antes. Tanto que tiramos tudo e deixamos no chão do banheiro, que vale a pena frisar, tinha banheira.
Havíamos chegado ao final de um dia maravilhoso, sem sombra de dúvida o nosso grande dia. Pois havíamos, independente de qualquer coisa, conseguido conquistar o "FIN DEL MUNDO" um dos lugares mais difíceis de se chegar na América Latina, principalmente devido à grande distância.
O odômetro indicava que havíamos rodado nada mais nada menos que
5.355 km.
VITÓRIA!