Imagens do Fin del Mundo

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Eu estive lá. De frente para a vida!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Esta foi a Minha Casa


 Neste último dia 2 de maio, um dia depois do dia do trabalho, meu querido Pai faleceu.
Quantas histórias ficaram para traz.
O pior foi quando fui até a casa onde ele morava para buscar alguns documentos necessários para dar andamento aos assuntos pouco importantes da vida de quem fica e que nos parecem tão importantes.
Andar pelos cômodos do apartamento vazio, sem movimento, sem vida, foi uma sensação estranha e por isso digna de registro.
Durante tantos anos ele foi eterno para mim, ou talvez em mim, ele tinha tantas coisas que eram dele e que ele guardava com tanto carinho, que somente ele tinha acesso.
Eis que tudo estava lá, abandonado.
Tudo aquilo que tinha tanta importância, derrepente já não tinha mais importância nenhuma.
As coisas estavam todas lá, inanimadas, mas quem lhes dava vida não estava mais lá.
E isto, por algum motivo, para mim era razão de dor.
Será que além de sofrermos pela falta que as pessoas que se vão faz, sofremos ainda pela vida que elas conferiam a tudo que existia no mundo ao seu redor?
Sei lá! Mas o chinelo sem o pé da mãe é apenas um chinelo, frio, um objeto, mas quando está calçado nos pés toma outra conotação, passa a ser "o chinelo da mamãe", ou ainda, quando está nas mãos da mãe te perseguindo por alguma arte, muda completamente de significado do chinelo.

Acho que a casa do meu pai morreu juntamente com ele.
Não bastasse a dor da perda dele, terei ainda que conviver e lidar com mais esta perda, a perda de todas as coisas deste mundo que ele dava vida e que morreram.
Eu cresci ali, na casa dos meus pais. Surgi no mundo como alguém que nunca pensou se ia crescer, embora desejasse muito, e sabendo que eles sempre estariam lá para apoiar o que quer que fosse.
Eis que em determinado momento, ainda muito cedo, minha mãe ficou doente, teve um longo período de sofrimento lidando e lutando com um câncer, que acabou sendo eliminado, mas que devido ao parco tratamento radiológico da época, acabou por gerar nela um câncer radiológico. Aos 60 anos, apenas 60, que cada dia me parece mais jovem, ela acabou indo embora para a casa do Pai maior de todos nós.
Uma parte importante da memória de minha vida se foi junto, pois hoje quando quero saber de detalhes de minha infância, já não tenho a quem perguntar.
Mas a permanência de meu pai, manteve a casa, na verdade o Lar, dos meus pais.
Agora que ele partiu, não há mais o Lar dos meus pais.
Não há mais a casa onde nasci, o lugar onde eu vim ao mundo, essa é uma parte importante da dor, do Luto! É como se agora estivesse sozinho no mundo. É uma sensação estranha, pois uma parte dela é liberdade, e é boa, mas uma parte dela é receio, e este não sei do que? Apenas algo que ficou gravado dentro do meu coração, e acho que se trata de uma gravação muito antiga.
Assim tem sido a releitura do mundo depois da partida do meu pai, a cada momento algo novo a ser compreendido a ser absorvido, a ser amado, pois somente o amor constrói, realmente esta é uma verdade muito grande. Tudo que fica e perdura é amor. O resto não tem muita importância não.
Acho que outro resultado importante desta experiência é a reorganização da escala de valores e chegar à conclusão de quão fora da realidade se encontra a escala de valores do mundo moderno, onde as coisas valem mais que as pessoas, num engodo onde se confunde as coisas animadas pelas pelas pessoas com as coisas inanimadas.
Sem as pessoas, não há vida.
Sem o próximo, não há vida.
Sem amor, não há vida.
Temos que lembrar todos os dias que este pode ser o último. E pode mesmo, tanto que um dia será.
Então, antes de decidir sobre o que fazer a cada dia, é bom que se pondere um pouco sobre este tema.
Acho que isso pode ser chamado de usar a morte como conselheira.

Abraços pessoal.

Um comentário:

  1. Luiz.. ler o que vc escreve é sempre um aprendizado.Gosto de suas escritas. E esta leitura nao foi diferente.Um abraço. Lauro Luiz.

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