Imagens do Fin del Mundo

Imagens do Fin del Mundo
Eu estive lá. De frente para a vida!

domingo, 5 de maio de 2013

Um ano sem o Seu Conrado!

Este é o tempo de travessia. Ou ousamos fazê-la ou estaremos condenados a ficar para sempre às margens de nós mesmos!
Claro que nem todas as viagens que fazemos são de motocicleta, a principal viagem de nossas vidas tem se dado ao longo de um caminho desconhecido, que curiosamente nos parece tão conhecido e, pior do que isso, tão premeditável, comum e corriqueiro, mas que na verdade, sequer sabemos quão real é o chão sobre o qual pisamos ou os caminhos sobre os quais trilhamos.
Seu Conrado na rua Florida em Buenos Aires. Quanto filé
de peito de frango você comeu.

Parece que foi ontem, mas já está fazendo um ano que o meu pai, conhecido por todos como o Seu Conrado,  retornou para o local de onde todos viemos. Foi no dia 02 de Maio de 2012, à 1:30 da madrugada aos 84 anos, segundo ele, bem vividos.

Em nossas conversas, nos últimos meses da vida dele, uma das coisas mais fortes que ele falou, entre uma respiração pesada e outra, foi:
- A minha vida foi boa! Não tenho nada do que reclamar. Aprendi muitas coisas. Só não entendo porque o final tem que ser tão demorado, eu acho que deveríamos ir embora de uma vez e pronto!

Com o passar dos dias, nos meses finais da vida ele foi se tranquilizando e, quando chegou mais perto do final, poderíamos dizer que ele se tornou um homem Santo, creio que ele talvez sempre o tenha sido. A língua através da qual o coração dele se expressava nos últimos meses era a do amor e da compreensão, visivelmente acima das vicissitudes humanas.
Uma das fotos mais bonitas dele, foi tirada na
casa da Eliana, minha irmã, não sei por quem.
Só sei que a Thalita estava lavando a moto e ele
palpitava sobre onde estava sujo ainda.
Assim ela me contou.

De qualquer forma, este ano passou muito rápido! E parece que ele se foi agorinha a pouco. Com o passar do tempo, a gente vai se habituando à ausência das pessoas queridas ao invés de se consolar, pois não creio que tal consolo exista.

Graças a Deus! Pois algum dia seremos nós quem deixaremos os demais por aqui e, devo confessar, não tenho pressa para ir, mas estou tranquilo sabendo que voltaremos para a nossa casa em algum outro local. Pois claramente não somos daqui, visto que há apenas 60 anos eu não me encontrava aqui e certamente, daqui a 60 anos também não estarei mais aqui. Logo, este não pode ser o meu lugar e nem o de nenhum de nós.

Minha bisavó, que morreu em 1984 aos 102 anos de idade, costumava dizer que a Morte havia se esquecido dela, ou que quando a Morte veio para buscá-la não a encontrou por algum motivo e agora ela estava sozinha esperando sem sucesso.

Curioso que no final da vida, o mesmo acontecia com o meu pai. Ele costumava ainda dizer que no começo a estrada é asfaltada e bem larga, com muitas pistas, onde se podia andar em alta velocidade. Mas que quando se vai chegando no final a estrada vai ficando muito estreita, difícil e esburacada, sendo que em alguns pontos a gente chega a se perguntar se haverá algum desvio em determinado trecho ou se a estrada acabou. Eu gostava muito desta figura de linguagem dele.

Ele tinha um excelente senso de humor. Talvez seja por este motivo que tenha pouca gente andando conosco na estrada da vida quando chegamos mais perto do trecho final, pois poucos andam nas estradas ruins junto conosco.

Depois deste ano sem meu Pai, fico pensando como as coisas se sucedem na vida, e em qual contexto nos encontramos inseridos. Sobre o quanto esta vida é fugaz e o quanto não conseguimos compreender as nossas dificuldades e as barreiras do caminho.

Pra que? Não sei. Não posso compreender para que tudo isso, toda essa sequência de fatos e dias e eventos, sem que consigamos compreender o porquê e o pra que dos caminhos.

É difícil o caminho da vida! Talvez por este motivo seja mais fácil desviar o olhar e buscar culpados fora de nós mesmos ou a companhia da televisão para os nossos dias, que nada mais é do que um próximo que nunca discorde de nós embora não se importe que discordemos dela.

Cada dia que passa tenho que acreditar que estamos nos tornando melhores e que estamos mais perto da sabedoria Divina e que só pode ser este o objetivo final de tudo, pois que senão, nada faria sentido algum. Parece que estamos mesmo cerrados em uma sequência de vidas das quais tudo é importante e nada faz a menor diferença, já que ao final dos tempos todas as coisas precisarão ser vivenciadas e conhecidas, já que tudo precisará ao final ser apreciado. A morte por velhice, acidente, doenças de todos os tipos, suicídios, assassinatos, ao nascer ou mesmo antes disso.

As experiências necessárias para que possamos saber um tanto de todas as coisas, do ser homem e do ser mulher em todos os tipos de sociedades, no amor e no ódio. Quem sabe a partir de todo este caminho possamos algum dia falar do que houve de bom em tudo que vivenciamos até que sejamos suficientemente evoluídos para sabermos que nada do que é material realmente importa, mas que tudo não passa de uma nuvem de fumaça onde procuramos esconder nossos defeitos e nossas dificuldades.

Acho que fui um tanto longe nesta minha elucubração, mas o que afinal deveria ser registrado é, que foi muito bom, nesta minha simples existência, ter sido seu filho, Seu Conrado, assim como da Dna. Therezinha, que você escolheu para ser a sua esposa e a quem sempre amou e respeitou, me ensinando os princípios que tenho aplicado em minha vida.

Neste primeiro aniversário da sua partida, queria deixar aqui o meu Muito Obrigado! Simples assim. Muito Obrigado!

Só para relembrar de nossos últimos dias juntos aqui neste mundo.

Ele esteve feliz até o final. Que sirva de exemplo, pois o sofrimento de sua doença não pode lhe roubar o espírito.


Um comentário:

  1. Bonito seu texto sobre o Vô Conrado.
    Gostava muito dele.
    É muito estranho não poder encontrar pessoas que sempre fizeram parte da história da gente e foram importantes para nossa vida,como foi o teu pai.
    Beijo
    Pat

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