Curiosamente, pela segunda vez, em um domingo de Páscoa, acabo por ter um problema de saúde, que resulta na necessidade de uma cirurgia e, coincidentemente, no final de semana seguinte teria o baile de formatura de um filho meu.
Na primeira vez, eu atropelei uma capivara, próximo a Pelotas, retornando do Uruguai, e no próximo final de semana seria o baile de formatura do Conrado, meu filho mais velho em economia e, claro, não pude ir, pois estava em casa sofrendo muito com o pé quebrado e com as coisas relacionadas à recuperação de uma cirurgia ortopédica, que quem já teve sabe que incomoda muito.
Agora, novamente em um domingo de Páscoa, quatro anos depois, me aparece uma mancha na vista, depois de alguns flashs de luz, que eu não sabia interpretar. Assim mesmo descemos para Florianópolis no domingo no final da tarde, sendo que boa parte da viagem foi à noite e com algumas pancadas de chuva muito violentas. Tivemos que parar duas vezes para limpar as viseiras que estavam embaçando. Mas havia, sem dúvida alguma, algum problema sério na minha vista direita.
Na manhã de segunda liguei e marquei com o meu oftalmologista de Florianópolis, Dr. Rodrigo Cavalheiro, e ele me disse que havia um derrame grande na minha retina e que eu teria que consultar com o especialista, que me atenderia após o almoço naquela mesma clínica. Marcamos para as 14h30 com o Dr. Eduardo Vieira da Silva, que me pareceu também um médico muito bom, tranquilo e consciente. Ele me disse que eu estava com uma rasgadura na retina e que a mesma estava descolando. Caso para cirurgia, sem nenhuma alternativa, a não ser a perda completa da visão.
Poxa! Levei um susto enorme! Falei para ele que iria consultar com o meu oftalmologista de Curitiba, Dr. Máximo Deud, pois este já havia feito 3 cirurgias em minhas vistas, duas de miopia, uma em cada olho, e uma catarata no olho esquerdo.
Liguei para o Máximo e ele me disse que fazia sim a cirurgia e que deixaria os pedidos de exame no consultório dele para a manhã de terça-feira, quando eu poderia chegar em Curitiba, pois já era 15:30 e nós ainda tinhamos que arrumar as malas, inclusive para o baile de formatura da Louise, que seria na sexta, e para o casamento da Mirela, filha de uma amiga, que seria no sábado.
Saímos de Florianópolis e viemos de carro, a mancha escura que estava crescendo, ainda se encontrava fora da mácula, ou seja, fora da região da visão central, mas estava evoluindo claramente em direção a ela desde o domingo quando havia aparecido.
Chegamos em Curitiba já era cerca de 22h00, fomos direto para casa, e dormimos para no dia seguinte às 8h00 estarmos no consultório para pegar as guias, liberar na UNIMED e depois ir ao laboratório fazer coleta de sangue em jejum.
O Dr. Máximo estaria o dia inteiro em cirurgia na terça-feira e não pude falar com ele, o que me deixou muito ansioso. A todo momento me passava pela cabeça se havia feito a escolha correta em vir para cá ou se deveria ter ficado em Floripa pois o médico de lá também parecia ser bom. A agonia era enorme, pois na terça a situação já não era a mesma, a mancha escura havia coberto a mácula. Pela manhã fiz os exames de sangue e pela tarde a avaliação cardíaca. No dia seguinte teria que fazer outros exames complementares na vista pela tarde e a consulta com o médico pela manhã, onde poderia realizar a avaliação da situação e de qual procedimento deveria ser feito.
Depois de dilatar novamente as pupilas e de fazer o mapeamento da retina com o médico ele disse que realmente o caso era muito grave, eu estava com 1/4 da retina descolada e a cirurgia era muito urgente. Assim ele me deu as guias para a cirurgia e deixamos marcado para o quanto antes, a princípio poderia ser para a sexta, mas depois da consulta ele disse que iria tentar antecipar para quinta. Saí do consultório com a Bê e fomos almoçar para depois ir ao CDOP realizar os demais exames pré-operatórios. Logo que acabamos de almoçar, ainda no restaurante, meu celular toca, era o Dr. Máximo me perguntando se eu tinha almoçado, eu disse que estava terminando de almoçar e ele disse: - Que pena, se você ainda não tivesse almoçado poderíamos operar hoje às 16h30.
Ao menos vi que não era mais somente eu que estava preocupado, o médico também estava, o que me dava, por um lado uma tranquilidade, mas por outro, aumentava a minha apreensão com as possíveis sequelas. Eu já não estava mais enxergando nada, poderia me considerar cego do olho direito, pois somente com ele eu já não era mais capaz de caminhar na rua sozinho. Enxergava apenas vultos irreconhecíveis.
Fomos até a UNIMED solicitar as liberações para a cirurgia que na verdade foram 2, uma de catarata e uma para arrumar o descolamento da retina, muito mais séria que a primeira. Graças a Deus o pessoal da UNIMED e da empresa foram super rápidos e tudo foi liberado a tempo. Na noite da quarta-feira, dia 8 de Abril de 2015, já estávamos com a guias para as cirurgias e o meu olho direito estava cada vez pior.
No dia seguinte ainda passamos no Consultório para pagar a diferença da lente do cristalino e deixar as guias da cirurgia e fomos para o CDOP onde foi realizada a cirurgia.
Esta parte foi dureza! Eu troquei a roupa, colocando aquele pijama do Centro Cirúrgico e a Bê ficou lá fora. Sendo que é obrigatório que o acompanhante fique do lado de fora aguardando, durante todo o tempo da cirurgia.
Entrei e a equipe já estava aguardando por mim. Disse que era alérgico ao látex e eles estavam com tudo adaptado, pois no dia anterior eu tinha tido uma entrevista com a anestesista que me fez uma série enorme de perguntas e de instruções necessárias para a cirurgia.
Chegando na sala do Centro Cirúrgico, me pediram para deitar, me colocaram uma agulha no braço, depois me cobriram com algum pano, me pingaram uma quantidade enorme de colírio de todos os tipos no olho marcado com um adesivo, para evitar de operar o olho errado, e ainda me passaram uma fita adesiva pela testa, pelas pernas e, ainda por cima, me prenderam os pulsos.
Aí a anestesista se apresentou e disse que eu iria dormir um pouco. Achei ótima a notícia, pois dormindo eu não teria que estar mais presente naquele lugar, quem sabe retornando apenas depois da cirurgia, quando tudo já tivesse passado.
Dormi, por um tempo, que não sei dizer quanto, mas quando acordei estavam me chamando: Luiz... Luiz... Respondi perguntando se já tinha terminado e para minha tristeza me disseram que não. Saco! Aí o Dr. Máximo disse que não poderia me operar inconsciente pois dormindo poderiam haver movimentos involuntários que comprometeriam a cirurgia que era extremamente delicada.
Ok. Se é assim que tem que ser, vamos lá. Não sou de me acovardar, se tem que seguir o caminho a escolha é seguir. Sempre me lembro da frase que diz que a diferença entre o covarde e o herói é que o herói segue em frente apesar do medo, pois quem não tem medo é um imbecil e não um herói.
A cirurgia começou.
- Mais luz por favor.
- Já está em 80.
- Então pode baixar um pouco.
E assim por diante, pedindo instrumentos que não sei o nome, etc.
Daqui a pouco senti que tinha algo no meu olho e começou um barulho de muitos sapos na lagoa. Acredito que fosse a bomba sugando meu cristalino, que por tanto tempo me serviu com tanta dedicação.
Depois outros barulhos de equipamento, e sombras de alguma agulha no interior do meu olho.
Aí o Dr. disse.
- Pronto, terminamos a cirurgia da catarata. Podem trocar o equipamento.
- Luiz, deu tudo muito certo. A cirurgia foi um sucesso, agora vamos operar a retina.
E chamou o Dr. Guilherme, especialista em retina.
Novamente começou uma mexeção no meu olho e os barulhos estranhos continuaram.
A pior parte de ficar acordado durante a cirurgia é que aparecem coceiras, e pior ainda, uma sensação que eu iria me engasgar com a saliva na boca pois estava deitado de barriga para cima com a cabeça na horizontal.
Cada hora que eu engolia a saliva eu ficava achando que iria tossir. Aí resolvi me concentrar na vista e nos aparelhos que eu via entrando no campo de visão, nitidamente dentro do globo ocular. Rezei um tanto também, pedindo a Deus que iluminasse as mãos dos médicos que estavam ali me operando, pois disso dependia o sucesso da cirurgia.
Foram mais de 1 hora e meia e eu já estava com as costas doloridas, as mãos doloridas de tanto ficar ali parado. Mas quando terminou eu estava me sentindo bem, pois havia sido tomada a ação que tinha que ser feita para interromper o processo da perda da visão. Ufa! O meu maior desespero era mesmo enquanto nada acontecia, como a terça-feira, que não consegui falar com o médico que estava o dia inteiro operando e eu fazendo os exames, mas sem poder falar com ele para ter algum alento.
Em casa depois da cirurgia. |
O jeito que eu fiquei com o tampão no olho direito, na manhã seguinte indo para o consultório. |
O jeito que tive que ficar para que o gás pressione para cima no globo ocular. |
Agora em casa já sem o tampão. Almoço feito com carinho pela Bê para nós. |
A Bê tem mesmo um espírito muito bom que me ajuda sempre a levantar o astral. Um presente que Deus me deu! |
Por enquanto a situação é essa! |
Se Deus quiser!